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HORÁRIO NOBRE
"Alô Presidente" já chegou a ter oito horas de duração quando o convidado foi Fidel Castro
Em programa na TV, Chávez é showman
VÍCTOR FLORES
DA FRANCE PRESSE, EM CARACAS
De citações da Bíblia até de filósofos ateus, como o alemão
Friedrich Nietzsche, autor de "O
Anticristo", o presidente venezuelano, Hugo Chávez, desfila
seu carisma e suas virtudes histriônicas no programa semanal
de TV "Alô Presidente".
Baseado em um roteiro sobre
o qual Chávez improvisa como
se fosse um popular apresentador de "talk show", o programa
não tem uma duração definida:
a hora de início e fim dependem
de seu ânimo.
O recorde de duração foi o que
teve como convidado o ditador
cubano, Fidel Castro, que Chávez considera seu amigo e maior
inspiração. Falaram por cerca de
oito horas, celebrando a edição
de número cem do programa.
O "Alô Presidente" teve início
em 1999 e é retransmitido ao vivo pela cubana Rádio Rebelde.
Com convidados que vão de
jornalistas, membros do gabinete e de associações civis até
crianças que declamam poemas,
o presidente pode tanto cantar e
anunciar um novo decreto
quanto despedir um funcionário, fazer brincadeiras com a
oposição ou rezar.
"Quando, em 1994, estava no
hotel de Yare, quando estive preso [após o fracassado golpe que
liderou, em 1992", li muito ["Assim Falou" Zaratustra", um livro
de aforismos escritos por Nietzsche", afirmou Chávez em um de
seus programas.
"Não gostei da idéia do "super-homem", mas acredito que o ser
humano seja a ponte entre o animal e Deus", comentou, entrando no campo da teologia e da
metafísica.
"Acredito profundamente
nessa idéia, somos o elo entre o
animal e Deus, mas corremos o
risco de nos elevarmos a Deus
ou de cairmos para o meramente animal", explicou.
Em seguida citou vários santos
cristãos como exemplos daquilo
que "se eleva além do sublime".
A citação permitiu a Chávez
atacar a oposição. "Deus nos livre daqueles que se rebaixam em
relação ao humano e vão se arruinando. Não importa a eles
que haja sangue e morte. Não
vos deixeis infectar por esse veneno, venezuelanos", disse.
Recentemente o presidente
apareceu vestindo uma camisa
vermelha com enfeites de Natal
e, em um programa anterior,
acalentou no colo uma pequena
imagem do Menino Jesus.
Um dia antes do golpe de Estado de 11 de abril do ano passado,
quando foi chegou a ser deposto
por cerca de 47 horas, Chávez
utilizou o programa para anunciar a demissão dos diretores da
estatal petrolífera (PDVSA).
À época, durante a segunda
greve conclamada pela oposição, leu a lista de nomes de cada
um dos diretores despedidos e,
com prazer, expressava: "Fora,
obrigado por seus serviços!".
Em outro programa recente,
Chávez ganhou de presente o livro "47 horas - Historia Novelada de Venezuela" ["47 horas
-História Romanceada da Venezuela"", da escritora Martiza
Plascencia.
Ele gostou tanto da primeira
leitura da orelha da obra que se
pôs a ler as conclusões. Não faltou o tom apocalíptico: "A marca insolente do golpismo e do
fascismo e uma quinta-coluna
antipatriótica pretendem quebrar o solo sagrado da pátria.
Vamos todos em defesa da pátria", clamou Chávez.
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