São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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HORÁRIO NOBRE

"Alô Presidente" já chegou a ter oito horas de duração quando o convidado foi Fidel Castro

Em programa na TV, Chávez é showman

VÍCTOR FLORES
DA FRANCE PRESSE, EM CARACAS

De citações da Bíblia até de filósofos ateus, como o alemão Friedrich Nietzsche, autor de "O Anticristo", o presidente venezuelano, Hugo Chávez, desfila seu carisma e suas virtudes histriônicas no programa semanal de TV "Alô Presidente".
Baseado em um roteiro sobre o qual Chávez improvisa como se fosse um popular apresentador de "talk show", o programa não tem uma duração definida: a hora de início e fim dependem de seu ânimo.
O recorde de duração foi o que teve como convidado o ditador cubano, Fidel Castro, que Chávez considera seu amigo e maior inspiração. Falaram por cerca de oito horas, celebrando a edição de número cem do programa.
O "Alô Presidente" teve início em 1999 e é retransmitido ao vivo pela cubana Rádio Rebelde.
Com convidados que vão de jornalistas, membros do gabinete e de associações civis até crianças que declamam poemas, o presidente pode tanto cantar e anunciar um novo decreto quanto despedir um funcionário, fazer brincadeiras com a oposição ou rezar.
"Quando, em 1994, estava no hotel de Yare, quando estive preso [após o fracassado golpe que liderou, em 1992", li muito ["Assim Falou" Zaratustra", um livro de aforismos escritos por Nietzsche", afirmou Chávez em um de seus programas.
"Não gostei da idéia do "super-homem", mas acredito que o ser humano seja a ponte entre o animal e Deus", comentou, entrando no campo da teologia e da metafísica.
"Acredito profundamente nessa idéia, somos o elo entre o animal e Deus, mas corremos o risco de nos elevarmos a Deus ou de cairmos para o meramente animal", explicou.
Em seguida citou vários santos cristãos como exemplos daquilo que "se eleva além do sublime".
A citação permitiu a Chávez atacar a oposição. "Deus nos livre daqueles que se rebaixam em relação ao humano e vão se arruinando. Não importa a eles que haja sangue e morte. Não vos deixeis infectar por esse veneno, venezuelanos", disse.
Recentemente o presidente apareceu vestindo uma camisa vermelha com enfeites de Natal e, em um programa anterior, acalentou no colo uma pequena imagem do Menino Jesus.
Um dia antes do golpe de Estado de 11 de abril do ano passado, quando foi chegou a ser deposto por cerca de 47 horas, Chávez utilizou o programa para anunciar a demissão dos diretores da estatal petrolífera (PDVSA).
À época, durante a segunda greve conclamada pela oposição, leu a lista de nomes de cada um dos diretores despedidos e, com prazer, expressava: "Fora, obrigado por seus serviços!".
Em outro programa recente, Chávez ganhou de presente o livro "47 horas - Historia Novelada de Venezuela" ["47 horas -História Romanceada da Venezuela"", da escritora Martiza Plascencia.
Ele gostou tanto da primeira leitura da orelha da obra que se pôs a ler as conclusões. Não faltou o tom apocalíptico: "A marca insolente do golpismo e do fascismo e uma quinta-coluna antipatriótica pretendem quebrar o solo sagrado da pátria. Vamos todos em defesa da pátria", clamou Chávez.



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