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A REVOLUÇÃO AOS 50 / VOZ OFICIAL
"Sempre fomos otimistas", diz Raúl
Dirigente afirma que socialismo "não foi nenhum fracasso", mas lamenta "gigantescos gastos com defesa"
Sucessor de Fidel discursaria ontem à noite em Santiago de Cuba, onde mochileiros do Brasil e da Argentina são os mais entusiasmados
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO DE CUBA
Em entrevista à TV estatal
cubana, o dirigente Raúl Castro
afirmou que "o socialismo não
foi nenhum fracasso". Poucas
horas antes de fazer o discurso
oficial pelos 50 anos da revolução, ontem à noite em Santiago
de Cuba, ele fez assim uma referência à difícil situação da
ilha e continuou: "Agora teremos de economizar mais, dar o
verdadeiro valor ao trabalho.
Sempre temos sido otimistas
nos piores momentos".
"Não tivemos paz, não tivemos tranquilidade. O inimigo
diz que o socialismo fracassou,
porque não nos deixam tranquilos para lutar em igualdade
de condições", justificou-se anteontem à noite e falou dos "gigantescos gastos com defesa"
necessários para se proteger da
hostilidade americana. "Mas
não foi nenhum fracasso nem
sequer nessas condições."
Cuba não exibe a mesma situação crítica da década de 90,
após o fim da URSS, com prostituição massiva e o desespero
dos "balseros" para deixar a
ilha. O regime aprumou, com a
ajuda do petróleo subsidiado
venezuelano, e superou os crônicos apagões nas grandes cidades. Ainda assim, a situação
econômica voltou a piorar bastante com a crise internacional,
as dúvidas sobre o fôlego de Caracas para seguir com a parceria e os furacões que passaram
pela ilha, levando 20% do PIB.
O presidente cubano falaria
ainda ontem no parque Carlos
Manuel Céspedes, no centro de
Santiago, no leste da ilha. O local abrigou o discurso vitorioso
de Fidel Castro em 1º de janeiro
de 1959, horas depois da fuga
do ditador Fulgêncio Batista.
O local, preparado para
3.000 convidados, estava decorado com bandeiras na fachada
do quase centenário hotel Casa
Granda. O principal deles mostra um Fidel gigantesco, numa
foto dos tempos da guerrilha,
carregando uma mochila.
Fidel, o "pai moral" dos cubanos reivindicado até por críticos do governo, pronunciou-se,
porém, de modo seco. "A completar-se dentro de poucas horas o 50º Aniversário do Triunfo, felicito a nosso heroico povo", o oficial "Granma" em texto com a assinatura dele, com
data de anteontem.
Não havia grande expectativa
para o pronunciamento de
Raúl -embora houvesse rumores de que o governo pudesse
afrouxar as restrições para viagens de cubanos ao exterior.
Raúl fez, há pouco menos de
uma semana, um longo discurso na Assembleia Nacional sobre as dificuldades econômicas
de 2009 e jogando para o futuro
Congresso do Partido Comunista Cubano, a ser realizado no
fim deste ano, as decisões sobre
mudanças "estruturais e de
conceito" no sistema cubano,
uma das mais longevas ditaduras de partido único.
Festa estrangeira
À Assembleia, Raúl só não falou do futuro presidente americano, Barack Obama, com
quem se disse disposto a conversar em "igualdade de condições". Na TV, o presidente cubano referiu-se ao embargo dos
EUA: "Resistimos meio século e
há que estar alerta, e disso falarei amanhã [ontem]".
A cerimônia tradicional de
hastear a bandeira cubana na
virada do ano, anteontem em
Santiago, foi uma festa mais estrangeira que cubana.
Turistas e argentinos que estudam em Cuba, em maior número, e turistas e estudantes
brasileiros eram os mais entusiasmados, aos gritos de "Cuba,
o povo te saluda", e em defesa
do presidente venezuelano,
principal aliado de Havana:
"Chávez no se vá". As palavras
de ordem derivaram rapidamente para "pentacampeão",
da parte brasileira, e "Argentina", dos rivais. Vários dos neobarbudos mochileiros dormiram nos parques da cidade, por
falta de alojamentos a baixo
custo.
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