São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2009

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A REVOLUÇÃO AOS 50 / VOZ OFICIAL

"Sempre fomos otimistas", diz Raúl

Dirigente afirma que socialismo "não foi nenhum fracasso", mas lamenta "gigantescos gastos com defesa"

Sucessor de Fidel discursaria ontem à noite em Santiago de Cuba, onde mochileiros do Brasil e da Argentina são os mais entusiasmados

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO DE CUBA

Em entrevista à TV estatal cubana, o dirigente Raúl Castro afirmou que "o socialismo não foi nenhum fracasso". Poucas horas antes de fazer o discurso oficial pelos 50 anos da revolução, ontem à noite em Santiago de Cuba, ele fez assim uma referência à difícil situação da ilha e continuou: "Agora teremos de economizar mais, dar o verdadeiro valor ao trabalho. Sempre temos sido otimistas nos piores momentos".
"Não tivemos paz, não tivemos tranquilidade. O inimigo diz que o socialismo fracassou, porque não nos deixam tranquilos para lutar em igualdade de condições", justificou-se anteontem à noite e falou dos "gigantescos gastos com defesa" necessários para se proteger da hostilidade americana. "Mas não foi nenhum fracasso nem sequer nessas condições."
Cuba não exibe a mesma situação crítica da década de 90, após o fim da URSS, com prostituição massiva e o desespero dos "balseros" para deixar a ilha. O regime aprumou, com a ajuda do petróleo subsidiado venezuelano, e superou os crônicos apagões nas grandes cidades. Ainda assim, a situação econômica voltou a piorar bastante com a crise internacional, as dúvidas sobre o fôlego de Caracas para seguir com a parceria e os furacões que passaram pela ilha, levando 20% do PIB.
O presidente cubano falaria ainda ontem no parque Carlos Manuel Céspedes, no centro de Santiago, no leste da ilha. O local abrigou o discurso vitorioso de Fidel Castro em 1º de janeiro de 1959, horas depois da fuga do ditador Fulgêncio Batista.
O local, preparado para 3.000 convidados, estava decorado com bandeiras na fachada do quase centenário hotel Casa Granda. O principal deles mostra um Fidel gigantesco, numa foto dos tempos da guerrilha, carregando uma mochila.
Fidel, o "pai moral" dos cubanos reivindicado até por críticos do governo, pronunciou-se, porém, de modo seco. "A completar-se dentro de poucas horas o 50º Aniversário do Triunfo, felicito a nosso heroico povo", o oficial "Granma" em texto com a assinatura dele, com data de anteontem.
Não havia grande expectativa para o pronunciamento de Raúl -embora houvesse rumores de que o governo pudesse afrouxar as restrições para viagens de cubanos ao exterior. Raúl fez, há pouco menos de uma semana, um longo discurso na Assembleia Nacional sobre as dificuldades econômicas de 2009 e jogando para o futuro Congresso do Partido Comunista Cubano, a ser realizado no fim deste ano, as decisões sobre mudanças "estruturais e de conceito" no sistema cubano, uma das mais longevas ditaduras de partido único.

Festa estrangeira
À Assembleia, Raúl só não falou do futuro presidente americano, Barack Obama, com quem se disse disposto a conversar em "igualdade de condições". Na TV, o presidente cubano referiu-se ao embargo dos EUA: "Resistimos meio século e há que estar alerta, e disso falarei amanhã [ontem]".
A cerimônia tradicional de hastear a bandeira cubana na virada do ano, anteontem em Santiago, foi uma festa mais estrangeira que cubana.
Turistas e argentinos que estudam em Cuba, em maior número, e turistas e estudantes brasileiros eram os mais entusiasmados, aos gritos de "Cuba, o povo te saluda", e em defesa do presidente venezuelano, principal aliado de Havana: "Chávez no se vá". As palavras de ordem derivaram rapidamente para "pentacampeão", da parte brasileira, e "Argentina", dos rivais. Vários dos neobarbudos mochileiros dormiram nos parques da cidade, por falta de alojamentos a baixo custo.


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