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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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País atrai interesse externo desde a Antiguidade

DA REDAÇÃO

Caldeus, persas, mongóis, otomanos, sauditas e britânicos, entre outros. Berço dos primeiros rastos da civilização humana -incluindo a invenção da roda, da matemática e da agricultura- e palco de boa parte das histórias das Mil e Uma Noites, a região entre os rios Tigre e Eufrates (a Mesopotâmia), que praticamente compõe o Iraque moderno, atraiu o interesse de vários povos desde a Antiguidade por causa de sua terra fértil, suas riquezas e seu desenvolvimento científico.
Algumas das primeiras cidades conhecidas -como Uruk (terra de Gilgamesh que deu origem ao nome Iraque) e Ur (cidade natal de Abraão, o pai de religiões monoteístas como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo)- se localizam no país. Fundada pelo califa Al Mansur (o vitorioso) em 762, Bagdá era a maior cidade do mundo e tinha cerca de 1 milhão de habitantes já no século 9º.
A diversidade étnico-religiosa e a história milenar são fatores que propiciaram uma riqueza cultural mas também o que historiadores árabes descrevem como a "síndrome da Torre de Babel" (que ficaria no Iraque): um entendimento nem sempre fácil aliado a um chamariz para a cobiça externa.
Já em 1258, Hulagu Khan, neto de Gengis Khan, mandou degolar 90 mil bagdalis e seu último califa. Três séculos depois, o Iraque foi anexado ao Império Otomano e a administração da província foi entregue a paxás locais. Iniciou-se uma série de enfrentamentos e disputas de poder que, em certa medida, ainda hoje se mantêm. No norte, os emires curdos desfrutavam de autonomia quase total, enquanto no sul os xiitas se rebelavam com frequência. "No Império Otomano, o Iraque se torna tema permanente de discórdia entre o califa turco e sunita e o xá xiita da Pérsia", afirma Philippe Rondot, autor de "L'Irak".
Além dos otomanos, os sauditas também tentaram controlar a região, com a estrita doutrina islâmica do wahhabismo. Chegaram a profanar santuários xiitas no sul (palco de grande eventos da história islâmica xiita), em Karbala.
O domínio otomano e o colonialismo europeu incentivaram o crescimento do nacionalismo árabe. Pelo menos desde 1880, cartazes clandestinos pediam um "despertar da nação árabe".
Os nacionalistas árabes, liderados por Fayssal, filho de Hussayn Ibn Ali, grão-xerife de Meca (que lançou em 1916 a Grande Revolta árabe), reivindicavam "independência para os povos da Ásia que falam árabe em único reino árabe". Mas foram os acordos de Sykes-Picot, de 1916, que prevaleceram com zonas de influência britânica ou francesa.
O Iraque passou para o domínio britânico e, em três meses, a revolta era geral. Sob controle dos ingleses, os 3,5 milhões de iraquianos indicaram, em referendo, Fayssal como rei do Iraque. Em 1929, dois anos depois que o petróleo foi descoberto no norte do país (em Kirkuk), os ingleses já garantiam o controle com a criação da Iraq Petroleum Company, cuja sede se fixou em Londres.
A independência efetiva só viria em 1932. Boa parte das fronteiras foi demarcada na década de 30, mas, como foram divisões artificiais impostas sem levar em conta a distribuição étnico-religiosa, ainda provocam contendas territoriais. Desde aquela época, iraquianos reivindicavam o Kuait, um dos fatores que levaram à invasão do país em 1990 e à Guerra do Golfo em 1991. (PDF)


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