São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

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Denúncia contra Kirchner reaviva crise

Ex-presidente é acusado de ter se valido de informação privilegiada para comprar US$ 2 mi antes de desvalorização do peso argentino

Revelação surge em meio à polêmica exoneração do presidente do BC; governo argentino nega ilegalidade em operação financeira

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A suspeita de que o ex-presidente Néstor Kirchner tenha adquirido US$ 2 milhões, em outubro de 2008, usufruindo de informação privilegiada do governo de sua mulher, Cristina Kirchner, ameaça ativar novo foco de crise na Argentina.
A operação de compra foi revelada anteontem pelo jornal "Perfil", que afirma ter tido acesso a uma lista de compradores de dólares formulada pelo Banco Central.
A aquisição é legal, e o montante obedece ao limite autorizado para pessoas físicas. Contudo, a data em que foi feita levantou suspeitas. Pouco depois, ocorreu uma desvalorização do peso em relação ao dólar, favorecida pela combinação da crise mundial com os efeitos no mercado da estatização dos fundos da Previdência promovida pelo governo.
Ontem, um legislador da oposição disse que denunciará Kirchner à Justiça. O chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernández, afirmou que "não foi uma compra clandestina; foi uma compra legal".
O ministro da Economia, Amado Boudou, disse que "os [contratos de compra e venda de] bens e as movimentações bancárias de Kirchner foram todos feitos nos mercados formais e estão em suas declarações de renda". Para o ministro, "chama a atenção que isso seja permanentemente objeto de comentário, quando o que se deveria investigar são os que não declaram bens e renda".
Em dezembro, o casal Kirchner foi inocentado de uma acusação de suposto enriquecimento ilícito, baseada em sua declaração de renda de 2008, que assinala um aumento de patrimônio de 158%. Foi a terceira acusação nesse sentido enfrentada pelos Kirchner.
O fato de o contador dos Kirchner ter sido admitido como perito na análise de potenciais inconsistências da declaração foi apontado por opositores como indício de parcialidade e favorecimento.
A publicação pela imprensa argentina de listas com compradores de dólares supostamente fornecidas pelo Banco Central se dá num contexto de crise gerada pela tentativa da Casa Rosada de exonerar o titular do BC, Martín Redrado.
Redrado renunciou na última sexta, encerrando sua batalha jurídica com o governo para permanecer no cargo, do qual fora exonerado no último dia 8, por um decreto presidencial.
Ele recorreu à Justiça e conseguiu reassumir, até que o julgamento do recurso apresentado pelo governo derrubou a medida cautelar e deixou o cargo de Redrado "em reserva", aguardando a manifestação do Congresso sobre a questão.
Pressionado pela Casa Rosada a sair, Redrado teria ameaçado revelar "a lista dos amigos do poder que compraram dólares". Essa frase foi atribuída a ele numa entrevista exclusiva publicada pelo diário "Clarín".
O governo pediu abertura de inquérito para apurar suposto acobertamento de atos ilícitos por Redrado. Ele negou a afirmação, que, segundo a repórter, ocorreu numa conversa por celular e não foi gravada.


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