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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Washington classifica medida como "propaganda" ; Turquia anula votação sobre entrada de tropas dos EUA

Iraque destrói mísseis sob supervisão da ONU

Faheh Kheiber/Reuters
Soldados iraquianos cumprimentam inspetores da ONU na chegada a Al Qada, no sul de Bagdá, um dos locais em que há mísseis


DA REDAÇÃO

Sob a supervisão dos inspetores da ONU, o Iraque destruiu ontem quatro dos seus mísseis Al Samoud 2 em uma base militar perto de Bagdá, complicando a situação dos EUA, que precisam ganhar apoio internacional para invadir o Iraque. Ainda ontem, numa votação controversa, o Parlamento turco anulou a votação que autorizaria a entrada de tropas americanas na Turquia.
A decisão do Iraque de destruir as armas no último dia do prazo estabelecido pelo chefe dos inspetores de armas da ONU, o sueco Hans Blix, foi classificada de "parte importante para o real desarmamento" do Iraque por Blix e de "propaganda" pelos EUA, céticos em relação à disposição iraquiana de desarmar o país.
Para analistas, a atitude do Iraque é crucial antes de um novo encontro de Blix no Conselho de Segurança (CS) da ONU, marcado para o fim desta semana. Calcula-se que o Iraque tenha cerca de 120 mísseis Al Samoud 2 armazenados em 50 bases militares no país. De acordo com especialistas da ONU, esses mísseis balísticos têm um alcance de 183 km, superior ao limite permitido por uma resolução do CS.
EUA e Reino Unido, que consideraram a iniciativa do Iraque um outro exemplo de que Bagdá está apenas jogando com os inspetores de armas, querem votar uma nova resolução que condene o governo iraquiano e abra caminho para o uso da força.
O Iraque, que nega ter armas de destruição em massa, enviou uma carta na quinta-feira para Blix dizendo que obedeceria à ordem de destruir os mísseis balísticos.
Mas, em Washington, a promessa do Iraque de destruir um de seus maiores sistemas de armas não produziu efeitos.
"Esse é o problema de Saddam Hussein. Toda vez que ele está sob pressão, tenta aliviá-la desarmando-se só um pouco, jogando, ocultando", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.
Os EUA afirmam que os mísseis representam a ponta do iceberg e que Bagdá está tentando mascarar o fato de que o país estoca enorme quantidade de armas de destruição de massa.
O presidente americano, George W. Bush, mantém firme sua posição de ir à guerra. "Minha atitude em relação a Saddam Hussein é que, se ele tivesse alguma intenção de desarmamento, ele já teria desarmado [seu país"", disse Bush ao diário "USA Today". "Vamos desarmá-lo agora", disse.
Ontem, após conversações que duraram uma hora e meia entre o general Amir al Saadi, conselheiro do ditador Saddam Hussein, e o inspetor de armas Dimitri Perricos, ficou estabelecido um acordo para "um plano de trabalho e um cronograma para os próximos dias" sobre as formas de destruir os mísseis restantes.
Também foram iniciadas ontem entrevistas com cientistas iraquianos especialistas em armas biológicas. Os inspetores dizem que essas conversas são vitais para a missão, a fim de verificar se o Iraque, como diz, realmente, não tem mais esses programas.

Contra a guerra
A anuência do Iraque à destruição dos mísseis foi saudada pelos governos europeus que se opõem à guerra. Para eles, ela é uma prova de que o governo iraquiano está propenso a se desarmar.
O porta-voz do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Yakovenko, aplaudiu o sinal dado pelo Iraque. "Podemos ver isso como uma evidência da cooperação do Iraque com a ONU", disse à agência Interfax.
Para Dominique de Villepin, chanceler da França -que é membro permanente do CS da ONU e tem poder de veto-, a decisão do Iraque foi um passo importante para a solução pacífica da crise. "Isso confirma que os inspetores estão conseguindo resultados", disse De Villepin.

Turquia
Após uma confusa votação ontem sobre um pedido de aprovação da entrada de tropas americanas em território turco pelo Parlamento -que primeiro aprovou a moção para em seguida rejeitá-la e finalmente anulá-la-, os EUA aguardam uma resposta definitiva para esse imbróglio.
"Estamos esperando esclarecimento e aguardando para ver qual é a decisão do Parlamento turco", disse Tara Riegler, porta-voz do Departamento de Estado.
Houve 264 votos a favor da entrada de tropas dos EUA, 250 contra e 19 abstenções. Mas a Constituição exige maioria absoluta dos presentes para aprovar a moção.
Os EUA haviam oferecido US$ 15 bilhões ao governo turco em empréstimos e doações e mandariam 62 mil soldados, 255 aviões de guerra e 65 helicópteros a bases turcas para combater no Iraque.
Os EUA estão construindo uma enorme força militar na região do golfo Pérsico, incluindo cerca de 200 mil soldados, antes de uma possível invasão do Iraque. Bush disse que os EUA agirão contra Bagdá com uma coalizão internacional mesmo sem a ONU.

Com agências internacionais


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