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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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Turquia rejeita presença de tropas dos EUA no país

DA REDAÇÃO

Numa surpreendente reviravolta que pode prejudicar os planos dos EUA para uma guerra contra o Iraque, o Parlamento da Turquia rejeitou ontem uma proposta para permitir o uso do território do país por tropas de combate americanas.
A rejeição é também um sério golpe aos esforços americanos para tentar mostrar ao ditador iraquiano, Saddam Hussein, que ele estaria rodeado de vizinhos que fazem parte da coalizão liderada pelos EUA.
Os EUA haviam oferecido US$ 15 bilhões ao governo turco em empréstimos e doações e mandariam 62 mil soldados, 255 aviões de guerra e 65 helicópteros a bases turcas para combater no Iraque.
O premiê Abdullah Gul reuniu-se com ministros e líderes partidários e disse que o governo estuda a possibilidade de reapresentar a proposta ao Parlamento. "Vamos avaliar isso", afirmou.
A votação no Parlamento teve 264 votos a favor da presença dos soldados americanos, 250 contra e 19 abstenções, mas o presidente da Casa, Bulent Arinc, disse que a proposta foi rejeitada porque não conseguiu a maioria absoluta dos deputados presentes. Em seguida, ele ordenou um recesso parlamentar até a próxima terça-feira.
O embaixador americano na Turquia, Robert Pearson, se dirigiu à Chancelaria logo após a votação. "Nós certamente esperávamos uma decisão favorável", afirmou. "Vamos esperar por mais informações e orientação do governo turco sobre como devemos proceder", disse.
Os EUA pressionam a Turquia há semanas para permitir o uso de seu território para abrir uma fronteira norte na guerra, o que dividiria o Exército iraquiano em dois e facilitaria o trabalho das tropas lideradas pelos EUA.
Questionado sobre a possível reação dos EUA, o presidente do Parlamento, que é contrário à presença das tropas americanas, disse: "Essa é a decisão, senhor. Todo mundo deveria tirar seu chapéu para ela".
Os EUA já contavam com a aprovação da proposta. Centenas de caminhões e jipes esperavam o desembarque num porto ao sul da Turquia, esperando a decisão do Parlamento.

Comemoração
Em Ancara, centenas de pessoas saíram às ruas para comemorar a votação no Parlamento. "Somos todos iraquianos. Não vamos matar, não vamos morrer", cantavam os manifestantes. Segundo as pesquisas, até 94% dos turcos se opõem à guerra.
Mas a rejeição de ontem à proposta pode ter um impacto negativo sobre a economia da Turquia, que já contava com o dinheiro oferecido pelos EUA para ajudar o país a se recuperar da crise econômica que estourou em 2001.
Os EUA também haviam pressionado a favor da entrada da Turquia na União Européia.
Se a Turquia não aprovar a presença americana, o país também não terá poder sobre o governo de transição do Iraque após a guerra. Essa é uma questão crítica na Turquia, que teme que uma guerra possa levar os curdos do norte iraquiano a declarar um Estado independente, o que poderia inspirar a minoria curda na Turquia.


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