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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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COLÔMBIA

Ex-líder guerrilheiro, Antonio Navarro diz que apoio de vizinhos contra grupo daria poucos resultados

Ação contra Farc deve ser interna, diz senador

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

A ofensiva diplomática do governo colombiano para que os vizinhos declarem as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) como terroristas e se incorporem a uma luta regional contra o grupo não dará resultados sem uma ofensiva interna paralela. A avaliação é de Antonio Navarro Wolff, 54, antigo dirigente da guerrilha esquerdista M-19, reincorporado à vida pública após um processo de paz em 1990, e segundo senador mais votado nas eleições do ano passado.
"É um erro do presidente Álvaro Uribe fazer um esforço tão grande no campo externo e não ter uma estratégia semelhante no campo interno, muito mais importante. Ele ainda não fez esse tipo de pedido que ele vem fazendo aos países vizinhos para as forças políticas internas do país", disse o senador em entrevista à Folha, por telefone, de Bogotá.
A ofensiva de Uribe foi lançada após um atentado a bomba num clube de Bogotá, no dia 7 de fevereiro, que matou ao menos 36 pessoas e feriu cerca de 170. O presidente deve vir na próxima quinta-feira ao Brasil, para se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem deve pedir apoio para a luta contra a guerrilha.
Na opinião de Navarro Wolff, uma eventual declaração dos vizinhos da Colômbia contra as Farc teria um impacto muito pequeno sobre sua atuação dentro do país. "Seria um impacto muito marginal, porque as Farc são uma guerrilha que conta basicamente com recursos internos e uma base social concentrada na área rural da Colômbia", afirma.

Mais política
Navarro considera que, se o governo quer derrotar militarmente as Farc, deve, paradoxalmente, concentrar-se mais em ações políticas que em ações militares de combate ao grupo. "A questão primordial para o governo é ganhar a base social da guerrilha. Apesar de as Farc estarem avançando suas ações sobre as grandes cidades, sua base ainda está no campo, onde o Estado não está presente", diz.
Como exemplo de ação de força do governo que acaba fortalecendo a guerrilha, o senador cita a fumigação dos cultivos ilícitos de coca, patrocinada pelos EUA. "Fumigam os cultivos de coca dizendo que isso tira dinheiro da guerrilha, mas, na verdade, tem o efeito contrário, porque afeta não somente as plantações de coca, mas também os cultivos legais. Com isso, perde-se o camponês, que passa a apoiar a guerrilha."
Para o senador, a estratégia do governo deveria ser "ocupar o território e aproximar mais o Estado da população". "A única maneira de o governo conseguir se impor sobre a guerrilha é conseguindo uma unidade nacional muito forte contra os métodos utilizados pelo grupo", diz. "Sem isso, não vejo como o governo possa avançar muito."
Navarro considera que o governo deveria se aproveitar do que considera um "erro estratégico" das Farc: "Pela obsessão de derrotar a política de segurança do governo, as Farc passaram a adotar ações que passam por cima de qualquer ética e leis de guerra, perdendo assim qualquer chance de apoio para sua luta".


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