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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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Chávez quer uma Cuba, diz diretor de TV investigada

DE WASHINGTON

Alberto Ravell, diretor-geral da Globovisión, uma das maiores emissoras de televisão da Venezuela, que transmite notícias 24 horas por dia, foi notificado no dia 20 de janeiro da instauração de um "processo administrativo" contra a sua empresa.
Naquele dia, os oficiais de Justiça do Ministério da Infra-estrutura da Venezuela que foram à sede da empresa partiram sem levar uma cópia do ofício assinada pela diretoria. Não queriam ser filmados pelas câmaras da Globovisión. Só voltaram depois para buscá-la. "Foi o início de uma escalada contra os meios de comunicação", diz Ravell.
Desde então, afirma, o governo de Hugo Chávez vem perseguindo a emissora. "Investigam até contratos de publicidade com o objetivo de nos estrangular financeiramente", diz. Ele acredita que "Chávez quer transformar a Venezuela em uma Cuba". Leia entrevista que Ravell concedeu à Folha, de Caracas:

Folha - O processo administrativo contra a Globovisión procede? Há violência, racismo e fascismo contra o governo na TV?
Alberto Ravell -
O único racismo que há é na cabeça da ministra da Informação. Uma das acusações contra nós é termos retransmitido uma entrevista feita pela CNN, onde Carlos Ortega, presidente da Confederação de Trabalhadores da Venezuela, fez criticas a Chávez. É ridículo. Todas as violações alegadas pelo governo referem-se à cobertura de fatos jornalísticos, transmissão de declarações de figuras públicas, de comerciais e à retransmissão de material da rede CNN.

Folha - A ministra acusa as emissoras de atacarem o governo dia e noite, sem trégua.
Ravell -
Nós é que somos os atacados. Nossos jornalistas saem às ruas com coletes à prova de bala. Temem os chamados círculos bolivarianos e têm o trabalho dificultado. A mídia independente não tem mais acesso a fontes oficiais.

Folha - Como o sr. vê as mudanças que Chávez quer introduzir na chamada Lei de Responsabilidade Social?
Ravell -
Ele pretende acabar com a liberdade de imprensa no país, impondo uma censura prévia que levaria os venezuelanos a uma ditadura.
Chávez quer instalar aqui um regime igual ao de Cuba. Isso será impossível se continuarem a existir meios de comunicação livres. E ele sabe disso.

Folha - Que outras restrições os srs. estão sofrendo?
Ravell -
O governo constantemente investiga os contratos de publicidade que o canal tem com seus clientes e fornecedores. O mais complicado é que, após o controle de câmbio (só o governo autoriza operações oficiais com dólares no país), o presidente já disse que não dará dólares aos chamados "inimigos da revolução". E, para ele, todos os meios de comunicação aqui são inimigos. Logo, os grandes jornais não terão dólares para comprar papel e os canais, insumos.


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