São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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ORIENTE MÉDIO

"Programa que contamina a moral", segundo críticos islâmicos, tinha participantes de 12 países da região

Protestos tiram "Big Brother" árabe do ar

DA REDAÇÃO

O canal de TV árabe por satélite MBC suspendeu ontem a versão árabe do programa "Big Brother" devido aos protestos que estavam sendo feitos contra a produção no Bahrein. Desde sua estréia, no último dia 22, parlamentares e telespectadores do país do golfo Pérsico pediam o cancelamento por considerarem o programa indecoroso e ofensivo ao islã.
Na sexta-feira passada, cerca de mil pessoas fizeram um protesto contra o programa aos gritos de: "Parem o "Sin [pecado] Brother". Não à indecência".
No Parlamento, deputados ameaçaram convocar o ministro da Informação para prestar esclarecimentos. "Somos um país islâmico, com nossas próprias tradições. Esse programa contamina a moral de nossas crianças", disse o parlamentar Jasim al Saeedi.
"Essa decisão quer evitar que a MBC e seus programas sejam acusados de ofender valores, costumes e moral árabes", declarou em nota oficial a emissora de propriedade do xeque Walid al Ibrahim, cunhado do rei Fahd, da Arábia Saudita. No entanto há informações contraditórias sobre se o canal MBC resolveu cancelar em definitivo o programa. Uma porta-voz da emissora declarou à rede britânica BBC que dificilmente o "Big Brother" voltará. Já à agência de notícias Reuters, um funcionário da TV afirmou que ele poderia regressar à programação depois que a produção fosse transferida para outro país.

"Fiel à realidade"
Em seu comunicado, a MBC, que tem sede em Dubai (Emirados Árabes Unidos), faz a defesa do formato do programa. "Esse tipo de show não constitui desafio ou problema social maior do que a maioria dos filmes e séries. Na verdade, é mais fiel à realidade do que filmes e novelas."
O "Big Brother" estreou em 1999 na Holanda, com enorme sucesso. Já teve mais de 70 versões produzidas em 24 países -sendo transmitido para um público potencial de cerca de 2 bilhões de telespectadores, segundo a Endemol, detentora dos direitos sobre a atração. No programa, os participantes são confinados em um local fechado e têm a sua vida monitorada 24 horas por dia por câmeras de TV.
Intitulada "Al Rais" (o chefe), a versão árabe do "Big Brother" proibia homens e mulheres de entrar nos quartos uns dos outros -ao contrário de todas as outras produções anteriores. Outras mudanças introduzidas visando agradar aos mais conservadores foram a criação de um recinto para orações e um salão exclusivo para as mulheres.
Os 12 concorrentes eram de 12 diferentes países do Oriente Médio. No primeiro dia de exibição do programa, apenas uma das seis mulheres vestia o "abaya" (tradicional manto negro).
Sem ter a mesma oposição que o "Big Brother", foi encerrada ontem a transmissão do primeiro "reality show" exibido pela TV árabe. O "Al Hawa Sawa" (juntos no ar), uma espécie de "Namoro na TV", colocou oito mulheres em contato com possíveis noivos em Beirute (Líbano). Também exibido pela MBC, o programa terminou sem conseguir promover nenhum casamento.


Com agências internacionais


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