|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VATICANO
Mas, para cardeal britânico, situação ainda preocupa
Papa já fala até em alemão sobre "coisas essenciais", diz Ratzinger
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
O cardeal alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé, subiu ontem o tom de normalidade com
que o Vaticano passou a tratar a
internação, desde quinta-feira
passada, do papa João Paulo 2º, a
décima em seu pontificado.
Ratzinger disse que o papa falou
não apenas em italiano, sua língua mais usual de comunicação,
mas também em alemão, o idioma em que ele e Ratzinger costumam conversar.
O cardeal alemão se disse satisfeito de ter encontrado o papa
"muito presente mentalmente,
capaz de dizer coisas essenciais".
O que são exatamente "coisas essenciais", Ratzinger não esclareceu: "Não quero entrar em detalhes", disse aos jornalistas no hospital Agostino Gemelli.
O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, também deu
a sua contribuição diária à normalidade beirando o otimismo
das informações que gotejam no
Gemelli: "Está tudo normal", afirmou, antes de anunciar que o papa havia até celebrado missa. "O
pontífice é um bom paciente."
O coro otimista não foi, no entanto, engrossado por outro visitante de alto nível eclesiástico, o
cardeal-primaz do Reino Unido,
Cormac Murphy-O'Connor, que
se disse preocupado com o futuro
do papa, até por não saber "se, no
futuro, ele poderá falar ou não".
O'Connor emendou: "Creio que
devemos esperar as decisões do
Senhor. Todas as nossas vidas estão nas mãos de Deus".
Já um grupo de fiéis poloneses
preferiu confiar não apenas em
Deus para recuperar a fala do papa, mas também numa receita
tradicional caseira: levaram ao
Gemelli um punhado de pacotinhos de mel. "Faz muito bem à
garganta", explicaram, depois de
deixar o presente com o secretário
do papa (ninguém, salvo altíssimas personalidades da igreja, tem
autorização para entrar nos aposentos de João Paulo 2º).
Parece evidente que o que Ratzinger chamou de "coisas essenciais" devem ter sido palavras básicas, conhecidas que são as imensas dificuldades que têm para falar todos os pacientes submetidos
a traqueostomia, como o foi o papa há menos de uma semana.
O esforço é imenso, e o som é
quase inaudível, o que limita as
possibilidades de uma conversação sobre "coisas essenciais".
Reforça a impressão a declaração de Murphy-O'Connor sobre a
incerteza quanto à retomada da
fala pelo papa. De todo modo,
Ratzinger disse que levara ao papa material sobre a congregação
que dirige e que João Paulo 2º ficou de "trabalhar sobre ele".
A operação otimismo só não
chegou ao extremo de anunciar
que o papa concederia hoje a habitual audiência das quartas-feiras. Os médicos proibiram-no de
fazê-lo no hospital. No Vaticano,
tampouco haverá um substituto.
A operação otimismo já faz com
que as expectativas se transfiram
para prazo algo mais longo: saber
se o papa participará, de algum
modo, das comemorações da
Sexta-Feira Santa, em 23 dias.
Texto Anterior: A favor da decisão: "EUA saíram da lista da vergonha" Próximo Texto: Panorâmica - Venezuela: Sindicalista opositor a Chávez é preso em Caracas Índice
|