São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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VATICANO

Mas, para cardeal britânico, situação ainda preocupa

Papa já fala até em alemão sobre "coisas essenciais", diz Ratzinger

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O cardeal alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, subiu ontem o tom de normalidade com que o Vaticano passou a tratar a internação, desde quinta-feira passada, do papa João Paulo 2º, a décima em seu pontificado.
Ratzinger disse que o papa falou não apenas em italiano, sua língua mais usual de comunicação, mas também em alemão, o idioma em que ele e Ratzinger costumam conversar.
O cardeal alemão se disse satisfeito de ter encontrado o papa "muito presente mentalmente, capaz de dizer coisas essenciais". O que são exatamente "coisas essenciais", Ratzinger não esclareceu: "Não quero entrar em detalhes", disse aos jornalistas no hospital Agostino Gemelli.
O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, também deu a sua contribuição diária à normalidade beirando o otimismo das informações que gotejam no Gemelli: "Está tudo normal", afirmou, antes de anunciar que o papa havia até celebrado missa. "O pontífice é um bom paciente."
O coro otimista não foi, no entanto, engrossado por outro visitante de alto nível eclesiástico, o cardeal-primaz do Reino Unido, Cormac Murphy-O'Connor, que se disse preocupado com o futuro do papa, até por não saber "se, no futuro, ele poderá falar ou não".
O'Connor emendou: "Creio que devemos esperar as decisões do Senhor. Todas as nossas vidas estão nas mãos de Deus".
Já um grupo de fiéis poloneses preferiu confiar não apenas em Deus para recuperar a fala do papa, mas também numa receita tradicional caseira: levaram ao Gemelli um punhado de pacotinhos de mel. "Faz muito bem à garganta", explicaram, depois de deixar o presente com o secretário do papa (ninguém, salvo altíssimas personalidades da igreja, tem autorização para entrar nos aposentos de João Paulo 2º).
Parece evidente que o que Ratzinger chamou de "coisas essenciais" devem ter sido palavras básicas, conhecidas que são as imensas dificuldades que têm para falar todos os pacientes submetidos a traqueostomia, como o foi o papa há menos de uma semana.
O esforço é imenso, e o som é quase inaudível, o que limita as possibilidades de uma conversação sobre "coisas essenciais".
Reforça a impressão a declaração de Murphy-O'Connor sobre a incerteza quanto à retomada da fala pelo papa. De todo modo, Ratzinger disse que levara ao papa material sobre a congregação que dirige e que João Paulo 2º ficou de "trabalhar sobre ele".
A operação otimismo só não chegou ao extremo de anunciar que o papa concederia hoje a habitual audiência das quartas-feiras. Os médicos proibiram-no de fazê-lo no hospital. No Vaticano, tampouco haverá um substituto.
A operação otimismo já faz com que as expectativas se transfiram para prazo algo mais longo: saber se o papa participará, de algum modo, das comemorações da Sexta-Feira Santa, em 23 dias.


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