São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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A FAVOR DA DECISÃO

"EUA saíram da lista da vergonha"

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A decisão da Suprema Corte dos EUA de pôr fim à aplicação da pena de morte a pessoas que cometeram crimes quando eram menores de idade é uma vitória para os defensores dos direitos humanos e um ponto positivo para os EUA na cena internacional.
A análise é de David Elliot, diretor de comunicação da Coalizão Nacional para Abolir a Pena de Morte, uma organização não-governamental sediada em Washington que luta pelo fim da pena capital nos EUA desde 1976.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
 

Folha - O que o sr. pensa da decisão da Suprema Corte?
David Elliot -
Trata-se de uma vitória e de um grande dia para nós. A Suprema Corte disse que, com base na percepção popular e nos avanços da ciência, chegamos à conclusão de que as crianças e os jovens são diferentes dos adultos. Sua natureza não permite que eles sejam classificados de "os piores dos piores", o que é necessário, segundo alguns, para justificar a aplicação da pena de morte.
Com essa decisão, 72 pessoas sairão do corredor da morte, várias outras deixarão de correr o risco de serem condenadas à morte no futuro, e os EUA mostrarão à comunidade internacional que, no que se refere a essa questão, estão dispostos a seguir as tendências globais.

Folha - A reação internacional à decisão é, portanto, importante para os americanos?
Elliot -
Os EUA estavam longe do restante do planeta nessa área. A lista dos países que executaram delinqüentes juvenis nos últimos 15 anos mostra o quanto a presença dos EUA entre eles era deslocada. Entre outros, afinal, há nela a República Democrática do Congo [ex-Zaire], o Irã, o Paquistão, a China e a Arábia Saudita. Era vergonhoso fazer parte dessa lista.

Folha - O sr. crê que essa decisão judicial possa ajudar aqueles que defendem a abolição total da pena de morte nos EUA?
Elliot -
Trata-se de um pequeno passo nessa direção, pois ela faz que as pessoas pensem no tema e reflitam sobre suas implicações e sobre quem são as pessoas que são condenadas à morte.
Trata-se de um pequeno passo à frente, mas ele é muito importante, pois essa vitória só virá em etapas. E essas etapas serão lentas. A luta contra a pena de morte será longa. Contudo não se deve perguntar se a pena capital será abolida nos EUA. A questão é saber quando isso ocorrerá. Venceremos nossa luta cedo ou tarde.
Sabemos que, com o tempo e com campanhas de conscientização, chegaremos a um ponto em que a sociedade estará madura para pôr fim à pena de morte.


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