São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Medvedev salvou Putin de processo

Os dois trabalharam juntos no início dos anos 90, no governo de São Peterbursgo

Advogado presidia estatal do gás e é fã do Deep Purple; como vice-premiê, fez contraponto aos "espiões" do também vice Ivanov

DO ENVIADO ESPECIAL À RÚSSIA

"Za Putina!", diz Mikhail Chernov, um sujeito de 38 anos com aparência envelhecida. Ele toma um gole de cerveja Baltika em um dos quiosques da capital moscovita e diz o grito de guerra, "Por Putin!", que ecoava na propaganda da eleição parlamentar de dezembro.
Chernov se diz satisfeito com o homem no Kremlin, e aponta para o desconhecido ao lado de Putin num dos raros outdoors da campanha deste ano, que fica perto da praça Vermelha e, se fosse publicidade normal, não ficaria por menos de US$ 250 mil ao mês. "Se Putin o indicou, ele é bom", diz o engenheiro civil.
Ser conhecido é o desafio público de Dmitri Anatolievitch Medvedev, advogado de 42 anos, silencioso braço-direito de Putin desde que ambos trabalharam em São Petersburgo, no começo dos anos 90.
Apoiadores de Putin argumentam que o então premiê que assumiu interinamente a Presidência após a renúncia de Boris Ieltsin, na véspera do ano 2000, também era um desconhecido, e hoje tem aprovação na casa dos 70%. Pode ser, mas as comparações param aí -fora o fato de que ambos são baixinhos (Putin tem algo mais que os 1,62 m de Medvedev).
Medvedev nunca passou pelos serviços de segurança soviéticos, como Putin, um ex-tenente-coronel da KGB. Nasceu em 1965 em Leningrado, hoje São Petersburgo, num ambiente universitário -seu pai dava aulas no Instituto Politécnico e a mãe ensinava literatura.
Tomou gosto pela música estrangeira. Sua paixão é pelo Deep Purple -pôde contratar o grupo para tocar na sua despedida da presidência da estatal de gás Gazprom, mês passado.
Medvedev entrou na escola de direito da Universidade de Leningrado em 1982, já namorando Svletana, com quem teve um filho, Ilia. Em São Petersburgo, alternou uma carreira como consultor legal de madeireiras com cargos na revolucionária gestão de Anatoli Sobchak, mentor de Putin.
Cruzou com o futuro protetor em 1992, quando Putin foi acusado de fraudar cotas de exportação em acordos internacionais. Jovem advogado, coordenou a bem-sucedida defesa do então chefe do escritório de cooperação do governo Sobchak, e ganhou sua confiança.
Em 2000, o já eleito Putin o nomeou presidente da Gazprom. A essa altura, Medvedev já ganhava notoriedade como um dos "advogados de São Petersburgo", que não se opunham, mas criavam um contrapeso aos "siloviki" -membros de serviços secretos que Putin trouxe ao governo.
Um terceiro grupo ainda tinha poder no começo da gestão Putin, a "família" de Ieltsin, conhecida por acusações de corrupção. Seu líder, Alexander Voloshin, ficou como chefe da administração presidencial por três anos sob Putin, até ser substituído por Medvedev.
Isso não fez o virtual novo presidente da Rússia uma figura popular, apesar de ele ter ganho mais tarde o cargo de vice-premiê -ao lado de Sergei Ivanov, líder dos "siloviki". Desde que foi apontado sucessor de Putin, no fim de 2007, Medvedev tenta mostrar-se uma figura afável e com discurso democrático. Tudo isso ocorreu em 2000 com Putin, hoje visto como um czar versão século 21. (IGOR GIELOW)


Texto Anterior: Herdeiro de fala mansa prolonga era Putin
Próximo Texto: Gazprom estende tentáculos na vida russa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.