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Medvedev salvou Putin de processo
Os dois trabalharam juntos no início dos anos 90, no governo de São Peterbursgo
Advogado presidia estatal do gás e é fã do Deep Purple; como vice-premiê, fez contraponto aos "espiões" do também vice Ivanov
DO ENVIADO ESPECIAL À RÚSSIA
"Za Putina!", diz Mikhail
Chernov, um sujeito de 38 anos
com aparência envelhecida. Ele
toma um gole de cerveja Baltika em um dos quiosques da capital moscovita e diz o grito de
guerra, "Por Putin!", que ecoava na propaganda da eleição
parlamentar de dezembro.
Chernov se diz satisfeito com
o homem no Kremlin, e aponta
para o desconhecido ao lado de
Putin num dos raros outdoors
da campanha deste ano, que fica perto da praça Vermelha e,
se fosse publicidade normal,
não ficaria por menos de US$
250 mil ao mês. "Se Putin o indicou, ele é bom", diz o engenheiro civil.
Ser conhecido é o desafio público de Dmitri Anatolievitch
Medvedev, advogado de 42
anos, silencioso braço-direito
de Putin desde que ambos trabalharam em São Petersburgo,
no começo dos anos 90.
Apoiadores de Putin argumentam que o então premiê
que assumiu interinamente a
Presidência após a renúncia de
Boris Ieltsin, na véspera do ano
2000, também era um desconhecido, e hoje tem aprovação
na casa dos 70%. Pode ser, mas
as comparações param aí -fora
o fato de que ambos são baixinhos (Putin tem algo mais que
os 1,62 m de Medvedev).
Medvedev nunca passou pelos serviços de segurança soviéticos, como Putin, um ex-tenente-coronel da KGB. Nasceu
em 1965 em Leningrado, hoje
São Petersburgo, num ambiente universitário -seu pai dava
aulas no Instituto Politécnico e
a mãe ensinava literatura.
Tomou gosto pela música estrangeira. Sua paixão é pelo
Deep Purple -pôde contratar o
grupo para tocar na sua despedida da presidência da estatal
de gás Gazprom, mês passado.
Medvedev entrou na escola
de direito da Universidade de
Leningrado em 1982, já namorando Svletana, com quem teve
um filho, Ilia. Em São Petersburgo, alternou uma carreira
como consultor legal de madeireiras com cargos na revolucionária gestão de Anatoli Sobchak, mentor de Putin.
Cruzou com o futuro protetor em 1992, quando Putin foi
acusado de fraudar cotas de exportação em acordos internacionais. Jovem advogado, coordenou a bem-sucedida defesa
do então chefe do escritório de
cooperação do governo Sobchak, e ganhou sua confiança.
Em 2000, o já eleito Putin o
nomeou presidente da Gazprom. A essa altura, Medvedev
já ganhava notoriedade como
um dos "advogados de São Petersburgo", que não se opunham, mas criavam um contrapeso aos "siloviki" -membros
de serviços secretos que Putin
trouxe ao governo.
Um terceiro grupo ainda tinha poder no começo da gestão
Putin, a "família" de Ieltsin, conhecida por acusações de corrupção. Seu líder, Alexander
Voloshin, ficou como chefe da
administração presidencial por
três anos sob Putin, até ser
substituído por Medvedev.
Isso não fez o virtual novo
presidente da Rússia uma figura popular, apesar de ele ter ganho mais tarde o cargo de vice-premiê -ao lado de Sergei Ivanov, líder dos "siloviki". Desde
que foi apontado sucessor de
Putin, no fim de 2007, Medvedev tenta mostrar-se uma figura afável e com discurso democrático. Tudo isso ocorreu em
2000 com Putin, hoje visto como um czar versão século
21.
(IGOR GIELOW)
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