São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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Fuga desesperada transforma fronteiras em cenário caótico

DO ENVIADO A RAS JEDIR

A fuga desesperada de milhares de pessoas com medo de permanecer na Líbia instalou o caos nas fronteiras do país com o Egito e principalmente com a Tunísia, numa situação tida pela ONU como "em ponto de crise".
Segundo o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), 140 mil pessoas já deixaram a Líbia desde 20 de fevereiro com destino aos dois países. É mais de 2% da população do país, que tem pouco mais de 6 milhões de habitantes.
Em Ras Jedir, na fronteira com a Tunísia, a situação tem cada vez mais indícios de crise humanitária.
Ontem, era possível ver milhares de pessoas amontoadas no lado líbio da fronteira, disputando espaço a tapas. Buscam fugir do país ainda governado pelo ditador Muammar Gaddafi. Isolado em Trípoli, ele tenta resistir à ofensiva de rebeldes.
Mesmo para os que conseguem ultrapassar a fronteira e entrar em solo tunisiano, a situação é precária.
O porto de Ras Jedir está tomado por barracas improvisadas. Policiais que tentam controlar a multidão trabalham usando máscaras para suportar o forte cheiro de fezes humanas.
O frio de 10ºC ajuda a tornar mais difícil a situação de pessoas que dormem no chão. Na beira das estradas, outros esperam sentados com cobertores, aquecendo-se em fogueiras.
No caminho da capital tunisiana, Túnis, até a fronteira, o tráfego é intenso de carros que oferecem serviço de transporte. Comboios de picapes levam pessoas amontoadas em caçambas.
O governo da Tunísia busca dar algum tipo de assistência, claramente insuficiente. Organizações como o Crescente Vermelho (versão islâmica da Cruz Vermelha) tentam ajudar.
Um funcionário do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU classificou a situação de "catastrófica".
Pelo menos na fronteira da Tunísia com a Líbia, o controle ainda é de forças leais a Gaddafi. Um cartaz colorido mostra o ditador com o punho estendido.

CADA DIA PIOR
"A situação está ficando cada dia pior. Há milhares esperando para cruzar a fronteira. Alguns ficam lá por três, quatro dias, no frio, sem nenhum tipo de abrigo", diz Ayman Gharaibeh, do Acnur.
Segundo a OIM (Organização Internacional para Migração), a situação de trabalhadores africanos que continuam na Líbia é ainda mais complicada.
Eles estão sendo perseguidos por opositores de Gaddafi por serem confundidos com mercenários contratados pelo ditador para reprimir manifestantes.
A Europa, que discute possível intervenção militar na Líbia, promete enviar ajuda humanitária. O continente teme que as revoltas no mundo árabe provoquem uma nova onda migratória.
Após a derrubada do ex-ditador Zine Ben Ali na Tunísia, em janeiro, mais de 5.000 pessoas deixaram o país de barco com destino à ilha de Lampedusa, na Itália.
(SAMY ADGHIRNI)

Colaborou VAGUINALDO MARINHEIRO, de Londres


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