São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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Lenço verde demarca Líbia ainda pró-Gaddafi

Ras Lanuf tem primeiros sinais do ditador, a 900 km da divisa egípcia

A sensação disseminada pelos rebeldes, de que o regime está acabando, dá lugar à impressão de que fim ainda demorará


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RAS LANUF (LÍBIA)

O lenço verde no pescoço do soldado posicionado na periferia da cidade de Ras Lanuf é o primeiro sinal da Líbia de Muammar Gaddafi nos mais de 900 km de estrada que ficaram para trás desde a divisa com o Egito.
Com o leste do país dominado pelos insurgentes e pela bandeira tricolor do período pré-Gaddafi, banida em 1969, os ânimos mudam radicalmente na entrada desta cidade produtora de petróleo na costa do Mediterrâneo.
Num país disputado há duas semanas entre rebeldes e forças leais a Gaddafi, Ras Lanuf virou uma espécie de fronteira não declarada.
A sensação disseminada pelos rebeldes, de que o regime de Gaddafi está com os dias contados, dá lugar à impressão de que a história ainda está longe de acabar.
A Folha ultrapassou ontem a última barreira de controle dos insurgentes, nas proximidades do vilarejo de Al Aqaylah, e penetrou cerca de 50 km em território ainda dominado por Gaddafi.
A tensão era clara entre os soldados, que revistavam minuciosamente os carros que tentavam entrar em Ras Lanuf. Em meio a esforços frustrados de Gaddafi para retomar posições perdidas, os militares buscavam qualquer sinal de atividade rebelde.
Uma brigada de militares, mercenários africanos e aliados tribais formam as tropas de Gaddafi que impedem a ligação entre leste e oeste.
Interceptados, os repórteres da Folha foram impedidos de seguir por não ter no passaporte o carimbo oficial, já que a entrada no país foi feita pela fronteira com o Egito, controlada por rebeldes.

ÁREA NÃO OCUPADA
De Ras Lanuf até Sirte, cidade natal e reduto da tribo de Gaddafi, a distância de 400 km é território que os rebeldes ainda não ocuparam.
Sob o comando de um primo de Gaddafi, Muftah Omar Ashkad, os homens do ditador comentavam em voz alta que uma ofensiva para recuperar as áreas do leste estava para acontecer em breve.
Segundo eles, Gaddafi tem 25 mil soldados à disposição para o ataque, além dos soldados ainda fiéis a ele.
"O coronel Gaddafi é forte e não vai cair tão facilmente", disse Ashkad, trajando uma esdrúxula combinação de farda militar camuflada e sapatos sociais brancos de bico fino. "Podemos acabar com tudo em poucas horas."
A retórica triunfalista não tem se confirmado na prática. Segundo relatos do oeste, as forças de Gaddafi foram repelidas nos últimos dias ao tentar retomar localidades estratégicas nas cercanias de Trípoli, como Zawiya, a 50 km da capital, e Misratah, terceira cidade do país.
No leste do país, rebeldes controlam todas as vias com fuzis, lança-granadas e artilharia antiaérea tomada das bases do Exército de Gaddafi.
O treinamento foi dado pelo ditador. "Foi Gaddafi que nos preparou para este momento", diz Ali Sanoussi, 30, erguendo um fuzil AK-47, contando ter aprendido a atirar aos 15 anos, quando ainda estava no ginasial.


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