UOL


São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"DANO COLATERAL"

Ação compromete plano de conquistar população e serve de propaganda a Saddam

Ataques matam 33 civis, diz Iraque

Karim Sahib/France Presse
O iraquiano Razek al-Kazem al-Khafaj chora em Hilla sobre os corpos de seus parentes, mortos num ataque de helicóptero dos EUA


DA REDAÇÃO

Pelo menos 33 civis morreram e 310 ficaram feridos ontem em ataques norte-americanos à cidade de Hilla (80 km ao sul de Bagdá), segundo o diretor do hospital local. O porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Bagdá qualificou o incidente de "horror".
O episódio é mais um revés na estratégia anglo-americana de conquistar a população do Iraque e, com isso, alimentar a oposição a Saddam Hussein. As mortes de civis, ao contrário, têm aumentado a revolta contra as forças invasoras -aumentando também o desgaste político dos planejadores da guerra em Washington e comprometendo a administração do Iraque numa era pós-Saddam.
As imagens de civis mortos também são difundidas por todo o mundo árabe, abalando ainda mais a imagem dos EUA na região, e no Ocidente, alimentando os protestos pacifistas.
O Comando Central americano disse que estava investigando o incidente, mas negou uso de helicópteros na cidade.
Segundo um fotógrafo da agência de notícias France Presse, entre os civis estavam 15 membros de uma mesma família -11 segundo a rede BBC-, que morreram quando o carro em que viajavam foi atingido por um foguete de um helicóptero americano Apache nas imediações da cidade.
O único sobrevivente da família, Razek al-Khazem al-Khafaj, afirmou que eles tentavam fugir dos combates em Nassiriah (350 km ao sul de Bagdá) quando o carro foi atingido. Ele disse ter perdido a mulher, seis filhos, pai, mãe, três irmãos e suas cunhadas. "Sobre qual desses devo chorar?" -perguntou, apontando os caixões.
No local podiam ser vistos vários corpos de crianças. O jornalista da France Presse disse ainda que restos do que pareciam ser bombas de fragmentação, equipadas com pequenos pára-quedas, podiam ser vistos no local.
Desde segunda, soldados americanos mataram pelo menos oito civis desarmados em barreiras rodoviárias no centro-sul do país.
O episódio mais recente aconteceu ontem de manhã nas imediações da cidade de Shatra. Marines disseram ter aberto fogo contra uma picape que acelerou ao passar por uma barreira, matando o motorista e ferindo o passageiro.
"Pensei que fosse um atentado suicida", disse um dos marines.
Anteontem, entre Karbala e Najaf, soldados americanos dispararam canhões contra uma picape. Segundo os EUA, o carro ignorou tiros de aviso para parar. Sete pessoas teriam morrido. Mas o repórter William Branigin, do "The Washington Post", que estava no local, disse que pelo menos dez pessoas morreram.
Contradizendo a versão do Pentágono, o jornal afirma que os soldados demoraram a dar os tiros de aviso. Temendo um ataque suicida, o capitão que comandava a barreira teria gritado pelo rádio: "Pare-o, pare-o!" Ao ver o resultado da ação, ele teria gritado: "Vocês acabam de matar uma família inteira porque não dispararam o tiro de aviso a tempo!"
O episódio foi classificado como "uma tragédia horrível" pelo porta-voz da Comissão Européia, Reijo Kempinnen. "Não importa o quão avançada seja a tecnologia. Não existe guerra inteligente."

Com agências internacionais


Texto Anterior: ATAQUE DO IMPÉRIO
EUA iniciam grande batalha contra as defesas de Bagdá

Próximo Texto: Cruz Vermelha chama morte de civis de "horror"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.