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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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APELO

Após anunciar aparição de ditador, ministro lê mensagem pedindo combate em nome de Deus

Texto atribuído a Saddam pede "jihad"

Akram Saleh/Reuters
Iraquianos exibem suas armas em protesto ao bombardeio de um bairro residencial em Hilla (sul de Bagdá), atribuído aos EUA


DA REDAÇÃO

O ministro da Informação do Iraque, Mohammed Saeed al Sahaf leu ontem, na TV estatal, uma mensagem em nome de Saddam Hussein na qual o ditador fez o seu mais forte apelo à "jihad" desde o início da guerra. Ele pediu que as forças invasoras sejam combatidas "em nome de Deus e dos grandes princípios".
"Logo, a jihad é nosso dever ao enfrentá-los. Aquele que morrer nesta luta, Deus dará a luz e o paraíso eterno e Sua benção", disse Saddam, segundo o ministro. "Ataquem e lutem. Eles são agressores, maus, amaldiçoados por Deus, a quem louvamos. Vocês serão vitoriosos e eles serão derrotados."
Jihad significa o "esforço" pela causa de Deus que o muçulmano deve fazer para difundir e proteger o islamismo. Embora o regime iraquiano seja historicamente laico, nos últimos anos o apelo à resistência islâmica tem sido intensificado como forma de Saddam se fortalecer.
A declaração de ontem visou não apenas a população iraquiana, mas os árabes e os muçulmanos em geral. Nos últimos dias, o governo iraquiano disse que até 6.000 voluntários teriam viajado de vários países muçulmanos para ajudar o Iraque a combater as forças invasoras. Até 4.000 estariam dispostos a realizar ataques suicidas. Não há como comprovar a veracidade da informação.
Mas o fato de a mensagem ter sido lida pelo ministro e não por Saddam provocou questionamentos fora do Iraque. Anteriormente, os meios de comunicação haviam anunciado que o próprio ditador faria o pronunciamento.
"Não podemos chegar a uma conclusão definitiva, mas o fato de Saddam Hussein não ter pronunciado seu discurso pessoalmente levanta perguntas sobre a legitimidade de seus discursos televisados anteriormente", disse um porta-voz britânico.
Desde o início da guerra, a TV estatal já veiculou dois pronunciamentos de Saddam. Não se sabe se as falas foram gravadas anteriormente. Também foram exibidas imagens do ditador com assessores próximos e, anteontem, com seus filhos Uday e Qusay.
Na Casa Branca, não houve comentário imediato, mas o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, levantou dúvidas sobre o paradeiro do ditador iraquiano. "Não se sabe onde está Saddam Hussein, se está vivo ou morto", disse, no Pentágono.
No primeiro bombardeio ao Iraque, na madrugada de 20 de março em Bagdá, os EUA bombardearam um "alvo de oportunidade". Segundo as autoridades militares americanas, havia informação de que membros da cúpula do regime estariam reunidos num prédio ao sul da capital. Não se sabe se Saddam estava presente, e também se o ataque fez vítimas. Circularam relatos de que Saddam teria saído do local numa maca ou mesmo morrido.
Ações comercializadas na Bolsa de Valores de Nova York subiram com a ausência de Saddam da TV. "O mercado está em alta agora, e a única razão é o fato de Saddam não ter aparecido na TV", disse o corretor Taai Izushima.
O ministro da Informação iraquiano tem tido um papel central na guerra de propaganda lançada pelo regime iraquiano.
Praticamente todos os dias, Sahaf concede entrevistas coletivas acusando as forças invasoras de atingir civis durante bombardeios ou ações terrestres e lista supostas dificuldades e baixas que elas enfrentam no Iraque.
As entrevistas são veiculadas na TV iraquiana, uma das únicas fontes de informação da população, alternadas com imagens da destruição e das mortes provocadas pelas bombas da coalizão.
Os EUA já tiraram a TV iraquiana do ar algumas vezes, sob o argumento de que ela estaria sendo usada com objetivos militares. Mas, até o momento, as autoridades iraquianas tiveram sucesso em recolocá-la no ar.

Com agências internacionais


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