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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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JIHAD

Discurso sobre "sacrifício" e "martírio" em favor do Iraque domina emissoras de TV de países islâmicos

Mídia árabe difunde "guerra santa"

TEWFIK HAKEM
DO "LE MONDE"

Quando da Guerra do Golfo (1991), o líder laico do Iraque, Saddam Hussein, acrescentou o dístico "Allahu Akbar" (Deus é o maior, em árabe) ao emblema nacional de seu país, no último minuto. Hoje, para sensibilizar os "combatentes de Alá" em todo o mundo, os funcionários do governo iraquiano recorrem ao discurso da integração. Assim, além de ser um "herói" da causa nacionalista, o kamikaze que causou a morte de quatro soldados norte-americanos em Najaf foi apresentado pela TV iraquiana como um "mártir", no sentido religioso do termo.
Anteontem, em programa da TV Abu Dhabi, o chanceler iraquiano, Naji Sabri, mencionou o número de 4.000 voluntários árabes presentes no Iraque para "combater o inimigo". Acrescentou que "seu combate e seu sacrifício" são "pela honra dos muçulmanos, dos árabes e da humanidade". E, quando exortou os países árabes a se posicionarem "de acordo com as verdadeiras aspirações de seus povos", Sabri não fez mais que retomar um dos leitmotiv de Osama bin Laden.
Com grande repercussão nas redes de televisão árabes, as palavras de ordem usadas nas últimas manifestações nos países muçulmanos confirmam que o discurso da internacional islâmica está se aproximando da idéia de nacionalismo pan-árabe defendida pelo partido Baath.
No domingo, os extremistas do Paquistão organizaram, de acordo com o correspondente da TV Al Jazeera em Peshawar, "a maior manifestação já vista no país". Na tela da TV Abu Dhabi, Moulana Sami al Haq, presidente da associação dos cientistas muçulmanos paquistaneses, declarou que o boicote a produtos norte-americanos e britânicos é necessário, mas insuficiente: "Não resta solução a não ser o jihad contra os EUA e o Reino Unido", especificou. Em meio à gigantesca manifestação, podiam-se ouvir gritos em favor do Taleban e da rede terrorista Al Qaeda.
E, no resto do mundo muçulmano, as mesmas palavras de "guerra santa" e de "combate até a morte" ressurgiam. Ao reivindicar a responsabilidade pelo atentado suicida em Natanya, o porta-voz oficial do Jihad Islâmico palestino dedicou a operação ao "povo muçulmano iraquiano" e declarou à rede de TV saudita Al Arabiya que sua organização enviara ao Iraque uma primeira unidade de soldados kamikazes para "realizar o jihad" via martírio.
O autor do atentado suicida a uma base militar norte-americana no Kuait era egípcio, segundo a TV Abu Dhabi. Quanto à Al Jazeera, ela exibiu "voluntários sírios" que cruzaram a fronteira "sem passaportes e sem passar por controles da alfândega", visivelmente felizes por chegarem a Mossul.
Outros jovens voluntários árabes chegaram a Bagdá, menos sorridentes, e foram entrevistados pela TV Abu Dhabi. Um tunisiano que portava uma bandeira dos combatentes islâmicos se declarou "orgulhoso" por poder participar do jihad e reparar a "vergonha" dos Estados árabes que "se recusam a permitir que seus jovens combatam o inimigo". "Nem sequer nos permitem manifestações em nosso país. Mas, assim que libertarmos o Iraque, partiremos para a libertação de nossos irmãos no Egito e na Tunísia", disse.


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