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UMM QASR
Disputa por água marca "vitrine da coalizão"
"A mão de ferro desapareceu, e agora é o caos", afirma saqueador
Umm Qasr, a "vitrine" da coalizão no sul do Iraque, oferece um espetáculo de dar pena. "As escolas e parte do mercado estão fechadas", diz o major britânico Paul Stanley
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SOPHIE SHIHAB
DO "LE MONDE", EM UMM QASR
"Os iraquianos estão
acostumados, há 30 anos,
a viver sob a mão de ferro de Saddam. Agora ela desapareceu, e é o
caos", diz Hamdane, observando
jovens saqueadores em ação em
Umm Qasr, porto supostamente
"segurado" pela coalizão no sul
do Iraque.
Móveis, portas, fiação elétrica
-tudo desapareceu. Hamdane,
operário e pai de sete filhos, não
tem nem geladeira. Assim, também ele vem percorrendo os prédios públicos e fábricas da cidade com um carrinho de mão, como
os saqueadores que condena.
Anteontem, por medo de atentados suicidas, os fuzileiros navais
dos EUA ampliaram o perímetro
de acesso proibido diante da entrada de seu campo principal. No
entanto Umm Qasr, sua cabeça de
ponte, é a região mais segura do
Iraque, para eles. Seus colegas de
"assuntos civis" finalmente conseguiram restabelecer o fornecimento de água e eletricidade.
O major Paul Stanley, do corpo
de "assuntos civis" do Exército
britânico, já dizia acreditar que
Umm Qasr não vai demorar a fazer o papel de "vitrine" para a região, especialmente para os habitantes de Basra.
Na segunda-feira os britânicos
lançaram novas forças na batalha
pela segunda maior cidade do
país, "cuja libertação marcará
uma virada para todo o sul do Iraque", segundo o major.
Por enquanto, porém, a vitrine
oferece um espetáculo de dar pena. "As escolas e boa parte do
mercado estão fechadas", diz o
major, "porque a população ainda não atravessou a linha verde,
depois da qual terá certeza de que
o regime de Saddam não voltará".
E é isso que deve mudar com a
queda de Basra. Em outras palavras, a cabeça de ponte será consolidada com a tomada da metrópole do sul, que cairá melhor
quando essa cabeça de ponte se
tornar um modelo atraente.
Na segunda-feira, caminhões-pipa iraquianos começaram a distribuir água em Umm Qasr. No
hospital, que está dando apenas
consultas rápidas, sem internações, o pouco de água recebido
"foi saqueado", suspira o diretor.
Outro trabalho a cargo dos homens dos "assuntos civis": identificar funcionários e empresários capazes de relançar a atividade
econômica na região. Esse é o
maior problema, porque todos os
diretores de instalações vitais
eram membros do Partido Baath.
Até agora, nenhum deles veio
propor retomar seu trabalho sob
a tutela dos ocupantes. Estes são
obrigados a depender de uma
quinzena de médicos ou professores de inglês que não possuem
os conhecimentos necessários.
Apenas a recontratação dos antigos funcionários do porto está
em ritmo acelerado, auxiliada pela indicação de uma empresa
americana para gerir o porto.
Mas todos esses reveses -que,
espera-se, serão superados com a
entrada da ONU- terão servido
de experiência antes da tomada
de Basra. A cidade será colocada
sob o comando militar direto da
coalizão. Seja como for, oficiais
americanos e britânicos dizem
que é a própria população que deve encontrar formas de relançar
sua economia, e isso preocupa os
habitantes de Umm Qasr.
Alguns continuam a entregar
listas de "camaradas do partido a
serem presos", outros aguardam
a volta dos que lhes eram próximos e criticam a anarquia induzida pela guerra. Apesar disso,
diante da pergunta: "Vocês gostariam que os americanos fossem
embora?", poucos dizem "sim".
Tradução Clara Allain
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