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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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UMM QASR

Disputa por água marca "vitrine da coalizão"

"A mão de ferro desapareceu, e agora é o caos", afirma saqueador


Umm Qasr, a "vitrine" da coalizão no sul do Iraque, oferece um espetáculo de dar pena. "As escolas e parte do mercado estão fechadas", diz o major britânico Paul Stanley


SOPHIE SHIHAB
DO "LE MONDE", EM UMM QASR

"Os iraquianos estão acostumados, há 30 anos, a viver sob a mão de ferro de Saddam. Agora ela desapareceu, e é o caos", diz Hamdane, observando jovens saqueadores em ação em Umm Qasr, porto supostamente "segurado" pela coalizão no sul do Iraque.
Móveis, portas, fiação elétrica -tudo desapareceu. Hamdane, operário e pai de sete filhos, não tem nem geladeira. Assim, também ele vem percorrendo os prédios públicos e fábricas da cidade com um carrinho de mão, como os saqueadores que condena.
Anteontem, por medo de atentados suicidas, os fuzileiros navais dos EUA ampliaram o perímetro de acesso proibido diante da entrada de seu campo principal. No entanto Umm Qasr, sua cabeça de ponte, é a região mais segura do Iraque, para eles. Seus colegas de "assuntos civis" finalmente conseguiram restabelecer o fornecimento de água e eletricidade.
O major Paul Stanley, do corpo de "assuntos civis" do Exército britânico, já dizia acreditar que Umm Qasr não vai demorar a fazer o papel de "vitrine" para a região, especialmente para os habitantes de Basra.
Na segunda-feira os britânicos lançaram novas forças na batalha pela segunda maior cidade do país, "cuja libertação marcará uma virada para todo o sul do Iraque", segundo o major.
Por enquanto, porém, a vitrine oferece um espetáculo de dar pena. "As escolas e boa parte do mercado estão fechadas", diz o major, "porque a população ainda não atravessou a linha verde, depois da qual terá certeza de que o regime de Saddam não voltará".
E é isso que deve mudar com a queda de Basra. Em outras palavras, a cabeça de ponte será consolidada com a tomada da metrópole do sul, que cairá melhor quando essa cabeça de ponte se tornar um modelo atraente.
Na segunda-feira, caminhões-pipa iraquianos começaram a distribuir água em Umm Qasr. No hospital, que está dando apenas consultas rápidas, sem internações, o pouco de água recebido "foi saqueado", suspira o diretor.
Outro trabalho a cargo dos homens dos "assuntos civis": identificar funcionários e empresários capazes de relançar a atividade econômica na região. Esse é o maior problema, porque todos os diretores de instalações vitais eram membros do Partido Baath.
Até agora, nenhum deles veio propor retomar seu trabalho sob a tutela dos ocupantes. Estes são obrigados a depender de uma quinzena de médicos ou professores de inglês que não possuem os conhecimentos necessários.
Apenas a recontratação dos antigos funcionários do porto está em ritmo acelerado, auxiliada pela indicação de uma empresa americana para gerir o porto.
Mas todos esses reveses -que, espera-se, serão superados com a entrada da ONU- terão servido de experiência antes da tomada de Basra. A cidade será colocada sob o comando militar direto da coalizão. Seja como for, oficiais americanos e britânicos dizem que é a própria população que deve encontrar formas de relançar sua economia, e isso preocupa os habitantes de Umm Qasr.
Alguns continuam a entregar listas de "camaradas do partido a serem presos", outros aguardam a volta dos que lhes eram próximos e criticam a anarquia induzida pela guerra. Apesar disso, diante da pergunta: "Vocês gostariam que os americanos fossem embora?", poucos dizem "sim".


Tradução Clara Allain


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