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BASRA
Piora nas condições de vida estimula ódio no sul
Para morador, "estaria tudo bem se os invasores trouxessem água"
Enquanto fornecermos menos auxílio e segurança nas áreas que controlamos do que Saddam fazia, e se a falta de assistência continuar, toda a missão será minada
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NICHOLAS D. KRISTOF
DO "NEW YORK TIMES", PRÓXIMO A BASRA
Esta paisagem é o cruzamento entre o filme "Mad
Max" e o "Inferno" de Dante. A
estrada é forrada com carcaças de
tanques iraquianos, artilharias e
caminhões, enquanto os trêmulos
britânicos de 20 anos usam seus
tanques para criar postos de controle na margem de Basra.
Os iraquianos normais aqui
parecem mais práticos do que
muitos oficiais americanos. Enquanto ideólogos em Washington
expressam um julgamento sobre
o que os iraquianos querem, muitos iraquianos parecem menos
categóricos e concordam suspender o julgamento até verem uma
resposta à questão: as pessoas viverão melhor com a invasão?
Muitos iraquianos aqui estão
com ódio porque até agora a invasão fez com que eles vivessem em
pior situação que antes. Perderam
comida, água potável e segurança.
"Estaria tudo bem se os invasores nos trouxessem água. Até
agora, só trouxeram sede", afirmou Munshid, jovem que, como
outros, não disse o sobrenome.
"Os americanos estão nos tratando como animais", queixa-se Muhammad, 35.
Um antigo oficial do Exército, fugindo de Basra com a mulher e seis filhos, zombou quando
indagado sobre se a invasão poderia trazer melhorias com o tempo.
"Não vejo nada de bom nisso."
Esse ódio está latente agora, e
é tão perigoso para os EUA quanto os homens-bomba. Ainda mais
que a opinião popular, ao menos
aqui no sul, pode voltar atrás se a
coalizão proporcionasse qualidade de vida melhor.
É por isso que precisamos desesperadamente acelerar os esforços humanitários agora, e não depois de a guerra terminar. Enquanto fornecermos menos auxílio e segurança nas áreas que controlamos do que Saddam fazia, e
se essa falta de assistência continuar, toda a missão será minada.
Sei que não há respostas fáceis. Vi um soldado atravessando
uma fazenda repleta de caixas de
tomates, até o posto de controle,
estragando muitas delas. Pouco
mais tarde, um iraquiano me disse que um homem tinha escondido uma AK-47 no fundo de uma
dessas caixas, e espero que agora
as tropas revistem cuidadosamente todas as caixas de tomates.
Um dos obstáculos que impedem o socorro é que o sul do
Iraque é ainda muito perigoso,
mesmo para voluntários de ajuda
humanitária. Mesmo eu me juntei
aos marines americanos -acompanhados do comboio de caminhões de alimentos vindos do Kuait por uma escolta militar
mais forte- para viajar, à luz do
dia, poucos quilômetros da fronteira do Kuait com a base britânica (na cidade de Umm Qasr).
Na base, três companheiros
jornalistas e eu cobrimos nossa licença kuaitiana com fita adesiva e
fomos por nossa conta para Basra. Corremos pela quase deserta
estrada a cerca de 140 km/h, passando por veículos queimados e
ocasionais pedestres sussurrando, como um homem que andou
16 km para comprar ovos para a
família em Basra.
É difícil avaliar a opinião pública daqui, mas minha intuição é
que ainda temos alguma esperança em ganhar aceitação popular,
se pudermos tornar a vida dessas
pessoas melhores.
Em uma das cenas de fogo
cruzado próximo a Basra, peguei
um pouco de munição vazia para
dar aos meus filhos, porque eles
estão com medo dos tanques.
Preciso explicar-lhes, penso, que
aqui no Iraque será preciso mais
do que tanques para vencer esta
guerra. Serão necessários segurança, água fresca -e ovos.
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