São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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ANÁLISES

Bush e guerra não devem sofrer maior abalo

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O governo de George W. Bush -e sua guerra no Iraque- não deve sofrer abalos maiores após o assassinato de civis anteontem em Fallujah e a divulgação das imagens dos civis americanos sendo trucidados pela multidão.
Analistas ouvidos pela Folha afirmam que a opinião pública americana já está bastante dividida sobre a guerra e o presidente americano, e o evento, isoladamente, tende a reforçar as posições de ambos os grupos -tanto a dos contrários à intervenção quanto a dos favoráveis a ela.
Tom Rosenstiel, diretor do Projeto para Excelência em Jornalismo, ligado à Universidade Columbia, discorda da avaliação inicialmente aventada de que o assassinato dos quatro civis poderia levar a uma reação semelhante à ocorrida em 1993, quando a opinião pública teria pressionado pela retirada de tropas americanas na Somália, após a divulgação de imagens de soldados americanos mortos sendo arrastados nas ruas pela multidão naquele país.
Rosenstiel diz que os americanos foram pegos de surpresa no episódio -não havia tanta atenção para aquela intervenção-, o que influenciou a reação.
Agora, ele diz, um ano de guerra serviu para consolidar as opiniões. Os favoráveis à intervenção, afirma, devem tender a defender o envio de mais tropas ainda para o Iraque, e a capacidade de o país ser governado por civis deve ser questionada.
Para os contrários ao conflito, as imagens podem reforçar a idéia de que há um descontrole da situação naquele país.
Rosenstiel diz que o fato de, a princípio, as TVs americanas terem evitado mostrar as imagens dos corpos dilacerados não tem maiores impactos sobre a percepção do evento. "O significado real acontece na imaginação das pessoas. A descrição de um assassinato é muitas vezes mais forte do que as próprias imagens."
Cenas da multidão arrastando e dependurando os corpos não foram mostradas anteontem por redes como CNN, Fox News e NBC. Outras, como a CBS e a ABC, mostraram as imagens, mas desfocando os corpos. As cenas, no entanto, foram publicadas nos principais jornais americanos e podiam ser acessadas na internet. Ontem, a CNN passou a mostrar as imagens dos corpos.
Diana Owen, cientista política da Universidade Georgetown, também ressalta o fato de a sociedade americana já estar bastante dividida sobre a Guerra do Iraque e Bush. Para ela, a tendência imediata é haver um reforço das opiniões de ambos os lados. Lembra, no entanto, que o acúmulo de eventos como esse pode reforçar o argumento dos que são contrários à guerra.
Karlyn Bowman, analista do centro de estudos conservador "American Enterprise Institute", vai além e diz que o governo Bill Clinton (1993-2001) não teve a percepção correta do que ocorria com a opinião pública no evento da Somália. Ela diz ter conhecimento de pesquisas que indicariam que o público desejava uma ação mais dura naquele país após a morte dos soldados. O mesmo deve acontecer agora, ela diz.
O "New York Times" publicou ontem opiniões de americanos sobre as mortes dos civis, comparando-as com o ocorrido em 1993. Os entrevistados se dividiam entre aqueles que defendiam a retirada do Iraque e os que preferiam manter as tropas no país.


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