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ANÁLISES
Bush e guerra não devem sofrer maior abalo
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
O governo de George W. Bush
-e sua guerra no Iraque- não
deve sofrer abalos maiores após o
assassinato de civis anteontem
em Fallujah e a divulgação das
imagens dos civis americanos
sendo trucidados pela multidão.
Analistas ouvidos pela Folha
afirmam que a opinião pública
americana já está bastante dividida sobre a guerra e o presidente
americano, e o evento, isoladamente, tende a reforçar as posições de ambos os grupos -tanto
a dos contrários à intervenção
quanto a dos favoráveis a ela.
Tom Rosenstiel, diretor do Projeto para Excelência em Jornalismo, ligado à Universidade Columbia, discorda da avaliação inicialmente aventada de que o assassinato dos quatro civis poderia
levar a uma reação semelhante à
ocorrida em 1993, quando a opinião pública teria pressionado pela retirada de tropas americanas
na Somália, após a divulgação de
imagens de soldados americanos
mortos sendo arrastados nas ruas
pela multidão naquele país.
Rosenstiel diz que os americanos foram pegos de surpresa no
episódio -não havia tanta atenção para aquela intervenção-, o
que influenciou a reação.
Agora, ele diz, um ano de guerra
serviu para consolidar as opiniões. Os favoráveis à intervenção, afirma, devem tender a defender o envio de mais tropas ainda para o Iraque, e a capacidade
de o país ser governado por civis
deve ser questionada.
Para os contrários ao conflito, as
imagens podem reforçar a idéia
de que há um descontrole da situação naquele país.
Rosenstiel diz que o fato de, a
princípio, as TVs americanas terem evitado mostrar as imagens
dos corpos dilacerados não tem
maiores impactos sobre a percepção do evento. "O significado real
acontece na imaginação das pessoas. A descrição de um assassinato é muitas vezes mais forte do
que as próprias imagens."
Cenas da multidão arrastando e
dependurando os corpos não foram mostradas anteontem por redes como CNN, Fox News e NBC.
Outras, como a CBS e a ABC,
mostraram as imagens, mas desfocando os corpos. As cenas, no
entanto, foram publicadas nos
principais jornais americanos e
podiam ser acessadas na internet.
Ontem, a CNN passou a mostrar
as imagens dos corpos.
Diana Owen, cientista política
da Universidade Georgetown,
também ressalta o fato de a sociedade americana já estar bastante
dividida sobre a Guerra do Iraque
e Bush. Para ela, a tendência imediata é haver um reforço das opiniões de ambos os lados. Lembra,
no entanto, que o acúmulo de
eventos como esse pode reforçar
o argumento dos que são contrários à guerra.
Karlyn Bowman, analista do
centro de estudos conservador
"American Enterprise Institute",
vai além e diz que o governo Bill
Clinton (1993-2001) não teve a
percepção correta do que ocorria
com a opinião pública no evento
da Somália. Ela diz ter conhecimento de pesquisas que indicariam que o público desejava uma
ação mais dura naquele país após
a morte dos soldados. O mesmo
deve acontecer agora, ela diz.
O "New York Times" publicou
ontem opiniões de americanos
sobre as mortes dos civis, comparando-as com o ocorrido em 1993.
Os entrevistados se dividiam entre aqueles que defendiam a retirada do Iraque e os que preferiam
manter as tropas no país.
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