São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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Ataque afeta certezas sobre a insurgência

JOHN F. BURNS
DO "NEW YORK TIMES"

Horas depois da morte dos quatro civis americanos que foram arrancados de seus carros e mutilados em Fallujah, um general americano surgiu diante de repórteres em Bagdá com a calculada confiança que caracteriza todos os encontros diários com a imprensa para informar sobre a situação militar no Iraque.
"Apesar de um pequeno aumento nos incidentes locais, a área global de operações permanece relativamente estável, sem prejuízos para a capacidade da coalizão de continuar efetuando progressos na governabilidade, desenvolvimento econômico e restauração de serviços essenciais", disse o general Mark Kimmitt, porta-voz do comando militar americano.
Com quase um ano de insurgência, o comando militar, em completa sincronia com a administração civil chefiada por Paul Bremer, permanece inexoravelmente otimista.
Mas, junto com a confiança publicamente manifestada, há sinais de que os generais americanos não estão tão seguros quanto estavam há poucas semanas.
Tampouco as cenas de Fallujah parecem se encaixar na teoria divulgada pelos militares americanos de que, ao contrário de simpatizantes de Saddam Hussein, são militantes islâmicos, incluindo estrangeiros, que estão por trás dos ataques terroristas.
Fallujah, que esteve relativamente calma nos últimos meses, se tornou novamente um grande campo de batalha. A cidade, localizada 50 km a oeste de Bagdá, tem sido o centro do apoio ao ditador derrubado. A decisão de enviar membros da 1ª Força Expedicionária Marine para enfrentar insurgentes que tomaram o controle de bairros inteiros foi uma reversão da política de deixar a segurança da cidade nas mãos da polícia iraquiana e de unidades de defesa civis.
Um problema para os defensores da teoria de que terroristas islâmicos ligados à Al Qaeda são os responsáveis pela insurgência é que somente um pequeno número dos 12 mil detidos nos campos de prisioneiros administrados pelos EUA no Iraque é de estrangeiros vindos de países muçulmanos. Autoridades americanas disseram que menos de 150 dos presos são de fora. Ocasionalmente, o comando americano anuncia a prisão de um suspeito de ser terrorista islâmico, mas há um bom tempo tem ficado em silêncio a respeito disso.
Na terça-feira, antes do ataque em Fallujah, o general Kimmitt pareceu recuar um pouco na linha de que os islâmicos são os principais inimigos. Durante uma entrevista coletiva, ele apresentou uma análise da guerra na qual sugeriu que o que aconteceu na prática havia sido uma fusão dos insurgentes defensores de Saddam e dos terroristas islâmicos em uma única fonte de ameaça. De qualquer maneira, disse, "apenas os chamamos de alvos".
Diversos iraquianos entrevistados anteontem, incluindo profissionais da classe média, comerciantes e ex-membros do Exército de Saddam, sugeriram que os Estados Unidos podem estar enfrentando uma batalha na qual os laços comuns do nacionalismo iraquiano e da consciência árabe transcenderam suas discordâncias para alimentar uma guerra de resistência nacional que poderá trazer desafios ainda maiores aos americanos nos meses, talvez anos, que estão à frente.


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