São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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EUA e Rússia prometem desarmamento

Obama e o colega Medvedev se comprometem a renovar acordo sobre mísseis e falam em "mundo livre de armas nucleares"

Presidentes têm 1º encontro em Londres; americano se reúne também com líder chinês Hu Jintao e marca visitas à Rússia e à China


Shawn Thew/Efe
O russo Medvedev e o americano Obama em seu primeiro encontro em Londres; tom da reunião enterrou unilateralismo, mesmo mantendo divergências sobre o escudo antimísseis americano

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O presidente Barack Obama demonstrou ontem que tem pressa em introduzir a mudança que foi seu mote de campanha, pelo menos nas relações internacionais: atacou em três frentes simultâneas (economia global, Rússia e China) com tanta ênfase que assinou comunicado com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, no qual ambos se comprometem a alcançar "um mundo livre de armas nucleares".
Claro que é um objetivo de longo prazo, mas, para reforçar a firmeza do compromisso, os dois presidentes anunciaram o imediato início de conversações para renovar o Start (iniciais em inglês para Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas), que vem a ser o acordo mais ambicioso assinado até agora pelas duas superpotências nucleares, que vence no fim do ano (veja quadro).
Após a nota oficial, o governo norte-americano comentou que seria preciso regressar 20 anos atrás para encontrar um tratado com a ambição do que se pretende assinar agora -o Start é de 1991.

Pressa e divergências
A pressa é tanta que os dois presidentes disseram ter instruído seus negociadores a chegar um acordo até julho, mês em que Obama visitará a Rússia. O senador americano Richard Lugar, defensor do desarmamento nuclear, disse que a declaração "é de tirar o fôlego", em abrangência.
A pressa e a boa vontade não foram suficientes -nem se esperava que fossem- para eliminar as divergências entre os dois países em torno do escudo antimísseis que os EUA planejam construir no Leste Europeu. O documento explicita o desacordo, o que combina com o fato de que Obama, em entrevista coletiva antes do encontro, havia dito que não pretendia disfarçar as divergências.
Mas queria e, pelo menos no papel conseguiu, realçar as coincidências, inclusive no campo do combate ao terrorismo. O comunicado conjunto diz que Rússia e EUA concordaram em que "a Al Qaeda e outros grupos terroristas e insurgentes que operam no Afeganistão e no Paquistão colocam uma ameaça comum para muitas nações, incluindo os Estados Unidos e a Rússia".
Por isso, acertaram trabalhar em conjunto para respaldar "uma resposta coordenada internacionalmente, com as Nações Unidas desempenhando um papel chave".
É mais um prego no caixão do unilateralismo que caracterizou a administração George Walker Bush.
Com a China também Obama exibiu pressa, tanto que o comunicado conjunto com Hu Jintao, o presidente chinês, anuncia o estabelecimento de um Diálogo Econômico e Estratégico EUA-China.
A secretaria de Estado americana, Hilary Clinton, assumirá o trilho estratégico, do lado norte-americano, enquanto o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, se ocupará da economia. Ou seja, o diálogo será dirigido pelos mais relevantes funcionários da gestão de Barack Obama.
O próprio Obama irá a Pequim no segundo semestre, atendendo a convite de Hu.
O comunicado EUA/China é bem mais retórico do que o texto EUA/Rússia, na medida em que o segundo fala concretamente em redução do armamento nuclear por meio de um tratado. Com a China, anuncia-se diálogo apenas.

China e dólar
Até onde a Folha pôde saber, o tema da substituição do dólar como moeda internacional de reserva não foi abordado, embora tanto a Rússia como a China tenham defendido a tese nas vésperas da cúpula do G20.
O tema tampouco surgiu nas negociações para o texto final da cúpula, a ser emitido hoje. Pelo que a Folha ouviu de mais de um negociador, a proposta chinesa era mais um contra-ataque preventivo para evitar que ressurgisse em Londres a tese que culpava os "desequilíbrios" globais pela crise -mero eufemismo para dizer que o excessivo consumo americano, financiado basicamente pelos chineses, causara a crise.
Os chineses reagiram dizendo que não aceitavam "socializar" a culpa, que acham ser exclusiva da desregulamentação do sistema financeiro norte-americano.
De todo modo, o presidente Obama voltou ao tema ontem, em entrevista coletiva, mas não mencionou a China especificamente.


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