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Grupo é "usina ideológica" do kirchnerismo
DE BUENOS AIRES
O ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner (2003-2007), líder do Partido Justicialista (peronista, do governo),
dizia anteontem em um ato na
periferia pobre da Grande Buenos Aires: "Não podemos voltar
à restauração conservadora".
A expressão não veio do acaso, mas do Carta Aberta, um
grupo de intelectuais e artistas
que defende o legado da era
Kirchner, iniciada por Néstor e
hoje conduzida por sua mulher,
a presidente Cristina Kirchner.
"Restauração conservadora ou
aprofundamento da mudança"
é o título do quinto documento
público do grupo, lançado ontem em Buenos Aires.
"É, ele (Néstor) leu a carta",
disse à Folha Ricardo Forster,
professor da Faculdade de
Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires e fundador
do grupo. Para ele, a Argentina
vive a "ofensiva de uma direita
agromidiática" que "bloqueia
estradas e agita conspirações".
O Carta Aberta surgiu em
março de 2008, em meio ao
conflito do governo com o setor rural. "Vimos que, mais do
que um protesto social, havia
uma busca de deslegitimação
do governo", diz Forster.
Em pouco tempo, o grupo
passou a municiar os discursos
oficiais. A primeira carta, de
abril de 2008, falava de um "clima destituinte" no país, em razão dos protestos rurais. Na semana passada, Néstor instou
os ruralistas a deixarem a "ladainha destituinte".
Para a revista "Notícias", de
perfil opositor, trata-se da "usina ideológica" do governo, que
comporta "um pouco de tudo":
de "peronistas cinquentões a
radicais (militantes da União
Cívica Radical) arrependidos".
A crise rural derrubou a popularidade de Cristina (hoje
em cerca de 30%), sobretudo
na classe média urbana. Forster diz que é "sempre bom ter
cuidado com pesquisas, construções politico-ideológicas".
Afirmou que as eleições legislativas deste ano "vão mostrar
um governo muito menos debilitado do que se supunha".
Para o Carta Aberta, a Argentina está dividida entre defensores de modelos antagônicos:
a política de redistribuição de
renda promovida pelos Kirchner e o modelo agroexportador
de inspiração neoliberal.
Do bunker principal saem
defesas das principais medidas
da era Kirchner, como o julgamento dos crimes da ditadura e
a estatização da Previdência
privada. Mas há espaço para
críticas às estatísticas oficiais
de inflação e de pobreza, sob
suspeita de manipulação.
"Uma dívida do governo é revisar o funcionamento do Indec
(o IBGE local)", diz Forster.
O grupo faz reuniões quinzenais na Biblioteca Nacional.
Em dezembro, Néstor foi ao
brinde de fim de ano.
A influência do grupo não se
restringe ao plano ideológico.
Ele teve participação na redação do projeto oficial de uma
nova lei que vai regular o futuro das comunicações e atinge o
maior grupo de mídia do país, o
Clarín, crítico do governo.
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