São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2000


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PROCESSO
Um dos acusados disse ter espionado para Israel; veredicto deve levar ainda ao menos três semanas
Irã retoma julgamento de 13 judeus

Reuters
O acusado de espionagem Hamid Tefilin, judeu iraniano, deixa tribunal de Chiraz (sudoeste)


das agências internacionais

O Irã retomou ontem o julgamento de 13 judeus acusados de espionar para Israel.
Associações pró-direitos humanos como a Anistia Internacional e países como EUA, Alemanha, Rússia, Japão e França acompanham de perto o desenvolvimento do caso. Crêem que os judeus podem não estar tendo um julgamento justo.
O Irã afirma que todos estão sendo julgados "segundo as lei do país, e as sentenças serão iguais às que se impõem a qualquer cidadão iraniano".
O principal acusado, Hamid Tefilin, disse, em entrevista transmitida pela TV iraniana, que havia espionado para Israel e passado informação sigilosa para o Mossad (serviço secreto israelense).
"Sou acusado de espionagem em prol de Israel. Eu aceito essa acusação. O governo israelense utiliza a crença religiosa dos judeus de todo o mundo... para que a gente espione em seu benefício. Traí o Irã e transgredi a confiança que o governo e o povo haviam me concedido. Tenho muito remorso", disse Tefilin.
O advogado de defesa Esmail Nasseri negou que seus clientes fossem culpados e disse que apenas a confissão não é suficiente para provar a suposta culpa de Tefilin, que pode ser condenado à morte.
Nasseri disse ainda que Tefilin não havia espionado porque "espionagem consiste em reunir informação sigilosa e entregá-la a um Estado hostil com a intenção de prejudicar a pátria. A informação reunida, acreditamos, não era sigilosa".
Além dos judeus, oito muçulmanos enfrentam processo por espionagem. Eles foram detidos em Chiraz (sudoeste), onde acontece o julgamento, pois são acusados de espionar para Israel, que "teria treinado e entregue material sofisticado aos acusados, para que pudessem revelar segredos militares", segundo a acusação.
Israel nega que eles tenham espionado a seu favor.
O Irã é majoritariamente islâmico. Atualmente, há cerca de 20 mil judeus no país. Em 1948 (fundação de Israel), havia 120 mil, e em 1978 (um ano antes da Revolução Islâmica), 70 mil.
Segundo o chefe do Departamento de Justiça da região de Fars (sudoeste), Husein Ali Amiri, a religião não motivou o processo, pois "há oito muçulmanos entre os acusados".
No mês passado, autoridades iranianas afirmaram que 4 dos 13 acusados já haviam reconhecido sua suposta culpa e pedido clemência ao tribunal.
O processo deve levar ainda três semanas, com ao menos duas audiências semanais, segundo o tribunal. "Somos a favor de um julgamento justo e imparcial, por isso não queremos que ele se prolongue muito", declarou o juiz Sadegh Nurani. Uma outra audiência aconteceu em 13 de abril.
Os receios da comunidade internacional em relação ao julgamento se baseiam no temor de que o processo faça parte do conflito entre reformistas, liderados pelo presidente Mohamad Khatami, e conservadores, sob o comando do aiatolá Ali Khamenei, líder religioso máximo do país.
Os conservadores controlam o Poder Judiciário do Irã e instâncias religiosas.
O governo de Khatami está promovendo uma política de reaproximação com o Ocidente, que poderia ser ameaçada pelo desfecho do julgamento em Chiraz.
Após apelos internacionais, Elahe Hicks, do grupo de direitos humanos Human Rights Watch, encontrou um dos acusados. Segundo Hicks, o Irã disse que "não vai ceder à pressão internacional" e que o caso será realizado como outro qualquer.


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