São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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Diversidade marca protesto contra Le Pen

DANIELA FERNANDES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS

A marca da manifestação em Paris contra Jean-Marie Le Pen, candidato à Presidência da França pela Frente National (extrema direita), foi a diversidade: uniu culturas, nacionalidades e grupos sociais dos mais variados tipos.
Marcado para as 15h (horário local, 10h em Brasília), o protesto começou a esquentar antes do meio-dia.
Na praça da República, ponto de encontro dos manifestantes, havia carros de som com música no último volume, faixas por todos os lados, pessoas em ziguezague com o celular na mão tentando encontrar seu grupo, além de barraquinhas vendendo linguiça a 5 (R$ 10,60).
No total, a manifestação reuniu 400 mil pessoas, entre sindicatos e mais de 60 associações e partidos políticos de esquerda.
Alguns chegaram bem cedo à praça da República, como o ator Olivier Roy, que, às 10h, já estava na praça para montar um boneco negro de mais de cinco metros de altura vestido com as cores da bandeira da França. "Não perderia esse encontro por nada", afirmou. "Somos um grupo de artistas de várias nacionalidades e queremos mostrar que a tolerância e a integração racial fazem parte da cultura francesa", disse Roy, eleitor do Partido Verde que votará no presidente Jacques Chirac (centro-direita) no segundo turno. "Chirac é corrupto, mas pelo menos é um democrata."
Sua opinião era compartilhada por vários participantes da manifestação. A poucos metros dali, um grupo de jovens afirmou ter votado em candidatos da extrema esquerda. Agora, todos escolherão Chirac. "Jamais pensei em votar por Chirac em toda minha vida, mas não tenho escolha", disse um deles.

Ladrão x führer
Slogans não faltaram: "Vote no escroque, não no fascista", ou "Vote em Le Pen e você não precisará nunca mais votar" e ainda "Um ladrão vale mais do que um führer". Até mesmo um cartaz em português, com os dizeres "Em terra de cego, um zarolho não será rei" apareceu no meio da multidão. José Machado, que o carregava, é de Portugal e não pode votar para presidente na França. "Nosso dever é estar com o povo francês nessa luta", disse ele.
Alguns de estudantes de Taiwan também compareceram com faixas para "defender a democracia francesa e seus valores tradicionais". Havia também associações de pais gays e lésbicas ao lado de grupos anti-racismo, de estudantes judeus e de defesa dos direitos dos curdos. As músicas também deram uma idéia da diversidade do público, de "Besame Mucho" a temas árabes e indianos.
Por volta de 14h, o clima de festa era total na praça da República. As pessoas chegavam por todos os lados, algumas com o rosto pintado com o lema da República: "Liberdade, igualdade e fraternidade". Em poucos minutos, já não era mais possível circular em nenhum espaço da praça. Até as coberturas de pontos de ônibus, faróis de trânsito, árvores e a enorme estátua, símbolo da República, estavam cheios de gente.
No caminho da passeata, os moradores dos prédios da região ficaram nas janelas, cantando com a multidão que passava. Nos terraços dos cafés havia clientes com faixas e adesivos contra Le Pen. A praça da Nação, ponto final da manifestação, reuniu centenas de milhares de pessoas. E, no metrô, os que voltavam para casa, ainda tocavam apitos e gritavam "fora fascista".



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