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Diversidade marca protesto contra Le Pen
DANIELA FERNANDES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS
A marca da manifestação em
Paris contra Jean-Marie Le Pen,
candidato à Presidência da França pela Frente National (extrema
direita), foi a diversidade: uniu
culturas, nacionalidades e grupos
sociais dos mais variados tipos.
Marcado para as 15h (horário
local, 10h em Brasília), o protesto
começou a esquentar antes do
meio-dia.
Na praça da República, ponto
de encontro dos manifestantes,
havia carros de som com música
no último volume, faixas por todos os lados, pessoas em ziguezague com o celular na mão tentando encontrar seu grupo, além de
barraquinhas vendendo linguiça
a 5 (R$ 10,60).
No total, a manifestação reuniu
400 mil pessoas, entre sindicatos e
mais de 60 associações e partidos
políticos de esquerda.
Alguns chegaram bem cedo à
praça da República, como o ator
Olivier Roy, que, às 10h, já estava
na praça para montar um boneco
negro de mais de cinco metros de
altura vestido com as cores da
bandeira da França. "Não perderia esse encontro por nada", afirmou. "Somos um grupo de artistas de várias nacionalidades e
queremos mostrar que a tolerância e a integração racial fazem parte da cultura francesa", disse Roy,
eleitor do Partido Verde que votará no presidente Jacques Chirac
(centro-direita) no segundo turno. "Chirac é corrupto, mas pelo
menos é um democrata."
Sua opinião era compartilhada
por vários participantes da manifestação. A poucos metros dali,
um grupo de jovens afirmou ter
votado em candidatos da extrema
esquerda. Agora, todos escolherão Chirac. "Jamais pensei em votar por Chirac em toda minha vida, mas não tenho escolha", disse
um deles.
Ladrão x führer
Slogans não faltaram: "Vote no
escroque, não no fascista", ou
"Vote em Le Pen e você não precisará nunca mais votar" e ainda
"Um ladrão vale mais do que um
führer". Até mesmo um cartaz em
português, com os dizeres "Em
terra de cego, um zarolho não será
rei" apareceu no meio da multidão. José Machado, que o carregava, é de Portugal e não pode votar para presidente na França.
"Nosso dever é estar com o povo
francês nessa luta", disse ele.
Alguns de estudantes de Taiwan
também compareceram com faixas para "defender a democracia
francesa e seus valores tradicionais". Havia também associações
de pais gays e lésbicas ao lado de
grupos anti-racismo, de estudantes judeus e de defesa dos direitos
dos curdos. As músicas também
deram uma idéia da diversidade
do público, de "Besame Mucho" a
temas árabes e indianos.
Por volta de 14h, o clima de festa
era total na praça da República.
As pessoas chegavam por todos
os lados, algumas com o rosto
pintado com o lema da República:
"Liberdade, igualdade e fraternidade". Em poucos minutos, já
não era mais possível circular em
nenhum espaço da praça. Até as
coberturas de pontos de ônibus,
faróis de trânsito, árvores e a
enorme estátua, símbolo da República, estavam cheios de gente.
No caminho da passeata, os
moradores dos prédios da região
ficaram nas janelas, cantando
com a multidão que passava. Nos
terraços dos cafés havia clientes
com faixas e adesivos contra Le
Pen. A praça da Nação, ponto final da manifestação, reuniu centenas de milhares de pessoas. E, no metrô, os que voltavam para casa, ainda tocavam apitos e gritavam "fora fascista".
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