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São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2003

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ANÁLISE

Supremacia da hiperpotência humilha inimigos

ANDREW GUMBEL
DO "INDEPENDENT"

A guerra contra o Iraque não tinha por objetivo unicamente derrubar Saddam Hussein. A intenção também era a de que ela resultasse numa nova forma de dissuasão mundial baseada na exibição da avassaladora superioridade militar dos Estados Unidos.
E, pelo menos de acordo com o Pentágono, esse objetivo foi cumprido. Funcionários dizem que a Coréia do Norte ficou tão desconcertada com a rapidez da guerra que foi levada a repensar seu impasse próprio com Washington. A julgar pelos esforços apressados para apaziguar as exigências americanas logo após a tomada de Bagdá, é possível que a Síria e o Irã tenham tido a mesma reação.
Podemos estar razoavelmente certos de que o poderio militar americano vai continuar inconteste, pelo menos no que diz respeito às armas convencionais. Os sinais vindos do Pentágono sugerem, ainda, que a força militar será uma influência crescente nas decisões tomadas na área da política externa, de maneira geral. "É pouco provável que qualquer outro país tente sequer se equiparar ao poderio militar americano por muitos e muitos anos", escreveu Gregg Easterbrook no diário "The New York Times". "Outros países não estão nem sequer tentando equiparar-se à força americana -estão a tal ponto atrás que não têm chance alguma de alcançá-la. A corrida armamentista entre as grandes potências, que ficou em vigor durante séculos, terminou com o resto do mundo reconhecendo a vitória dos EUA."
O orçamento de defesa dos EUA foi elevado para cerca de US$400 bilhões. É mais do que a soma dos orçamentos militares de todos os outros países. Nenhum outro país, por exemplo, possui um "supertransportador" -um porta-aviões cercado por um anel de cruzadores e protegido por submarinos nucleares. Os EUA têm nove e constroem um décimo.
É o novo mundo da supremacia militar inconteste sobre o qual os Rumsfelds e Cheneys da vida vêm teorizando desde o fim da Guerra Fria. Essa superioridade e a disposição de fazer uso dela suscitam algumas perguntas preocupantes. Será que os países mais fracos não vão achar que sua única defesa segura está nas armas nucleares e desencadear uma corrida armamentista nuclear? Os EUA passarão a buscar soluções militares para problemas para os quais uma resposta mais apropriada estaria na diplomacia tradicional? A disposição demonstrada pela administração Bush em rasgar tratados internacionais e desprezar a ONU sugere uma abordagem militarista. Resta saber se administrações futuras, com os mesmos recursos, não adotarão uma linha mais flexível e multilateral com relação à segurança mundial.


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