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São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Incidente, um dia depois de anúncio de plano de paz, ocorreu durante incursão em busca de terroristas

Israelenses matam 12 palestinos em Gaza

Suhaib Salem/Reuters
Corpo de palestino de dois anos, morto após invasão em Gaza


DA REDAÇÃO

Doze palestinos, incluindo um menino de dois anos, foram mortos ontem durante uma incursão de forças israelenses em um bairro de Gaza em busca de supostos terroristas, um dia depois do lançamento por EUA, ONU, União Européia e Rússia de um roteiro para a paz no Oriente Médio.
Habitantes do bairro de Shijaia, na periferia de Gaza, afirmaram que forças israelenses, apoiadas por helicópteros militares, cercaram uma casa de um integrante do grupo terrorista Hamas e demoliram o edifício de quatro andares após um tiroteio.
O Hamas e o grupo Brigada dos Mártires de Al Aqsa -braço armado do Fatah, movimento político do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, e do novo premiê Abu Mazen- assumiram a responsabilidade por um ataque suicida em Tel Aviv que matou três israelenses anteontem.
Arafat disse que a incursão, que ocorreu na madrugada de ontem, foi um "massacre" e era a resposta israelense ao plano de paz apresentado anteontem pelo Quarteto -como ficou conhecido o grupo de mediadores- e rejeitado pelos grupos terroristas palestinos Hamas e Jihad Islâmico.
Autoridades israelenses afirmaram que não vão mudar a forma pela qual reprimem a Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense) até que os palestinos mostrem que estão reprimindo terroristas como exige o plano.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, exortou ambos os lados a serem cautelosos, em uma visita a Madri, no início de um giro pela Europa e pelo Oriente Médio para promover a solução do conflito israelo-palestino.
"Temos de avançar para além deste período de ataques suicidas e ações retaliatórias ou outras medidas defensivas", disse Powell. "Não podemos deixar que esse tipo de incidente contamine imediatamente o roteiro [de paz]."
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, por meio de seu porta-voz, Fred Eckhard, acusou Israel de minar o plano de paz com a incursão, que, segundo ele, "contradiz os esforços da comunidade internacional para retomar o processo de paz israelo-palestino após a apresentação do roteiro".
A Síria afirmou ontem que o plano de paz é um esforço fútil enquanto houver ocupação israelense de territórios palestinos.
O alvo da incursão era Youssef Abu Heen e seus dois irmãos, os quais o Exército de Israel diz terem ajudado a organizar "ataques terroristas" contra israelenses.
O general israelense Gadi Shamni afirmou que os soldados que cercavam a casa pediram que os terroristas se entregassem, mas que os homens responderam com tiros. Segundo funcionários do hospital para o qual foram levados, os três irmãos morreram no tiroteio que se seguiu.
O Hamas disse em uma declaração: "Estamos usando uma arma legítima para confrontar a agressão sionista -a arma da resistência- e ela não será baixada enquanto a ocupação existir".
Ahmed Ayyad, um ferreiro, disse que seu filho Amir, 2, foi morto por uma bala na cabeça. Segundo Ayyad, o menino estava em uma janela virada para o local onde estavam os soldados israelenses.
"Não pude ajudá-lo", disse Ayyad, no necrotério local. "Que roteiro de paz? Isso não faz sentido. Os israelenses não querem paz -pode perguntar ao meu filho."
Até o fechamento desta edição, Israel não comentara o incidente.
Testemunhas afirmaram que seis dos mortos eram civis, incluindo um menino de 13 anos e outro de 17, e seis eram "militantes". Segundo fontes médicas, ao menos 70 pessoas ficaram feridas.
Mais cedo, na Cisjordânia, dois palestinos armados morreram em um confronto com soldados israelenses perto do vilarejo de Yatta, disseram habitantes locais.
Pelo menos 2.033 palestinos e 737 israelenses morreram desde o início da atual Intifada, em setembro de 2000.
O plano de paz pede uma série de medidas para construir a confiança entre os dois lados, incluindo o fim da violência por palestinos e a suspensão da construção de assentamentos judaicos em territórios ocupados, que deve levar ao estabelecimento de um Estado palestino em 2005.
Powell deve se encontrar na próxima semana com os premiês de Israel, Ariel Sharon, e o da ANP, Mazen, para promover a retomada do processo de paz.


Com agências internacionais


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