São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Mesquitas da cidade comemoram "vitória"

Iraquianos celebram em Fallujah; Bush vê dificuldades e avanços

DA REDAÇÃO

Exatamente um ano após ter declarado, triunfalmente, a bordo de um porta-aviões, o final dos "principais combates" no Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, admitiu ontem que suas tropas ainda enfrentam grandes desafios no país. Ao menos mais dois americanos foram mortos em emboscada ontem.
Em Fallujah, ao norte de Bagdá, soldados do antigo Exército do ex-ditador Saddam Hussein, liderados por um de seus generais, iniciaram patrulha na cidade rebelde após acordo com as tropas americanas para tentar pôr fim aos confrontos que deixaram centenas de mortos nas últimas semanas e pioraram ainda mais a imagem das forças de ocupação.
Dos minaretes das mesquitas da cidade sunita, bastião do regime deposto, partiam celebrações pela "vitória sobre os americanos", ecoados por insurgentes armados pelas ruas da cidade.
Milhares dos 300 mil habitantes que fugiram por causa da violência começaram a voltar a Fallujah.
As forças americanas se afastaram da periferia da cidade, mas anunciaram que voltarão a agir se a violência retornar. Disseram ainda que as tropas de Saleh "compreendem" que devem ajudar na captura ou morte de insurgentes e combatentes estrangeiros que mataram quatro americanos e mutilaram seus corpos na cidade há um mês, o que causou a ofensiva dos marines dos EUA.
O general Jasim Mohamed Saleh, ex-membro da Guarda Republicana, a força de elite de Saddam, assumiu a segurança na cidade prometendo ajudar os americanos. Mas o clima local parecia outro. "Deus deu a essa cidade uma vitória sobre os americanos", dizia um clérigo pelo alto-falante de uma mesquita.
Hammad Makhlas, voltando a Fallujah com sua mulher e cinco filhos, disse: "Deus seja louvado. O mais importante é que a dignidade da cidade foi preservada com a derrota dos americanos".
Já no sul, de maioria xiita (60% da população do país, oprimidos sob Saddam), líderes lamentaram o fato de um general do ex-ditador comandar Fallujah.

Tortura
Outro problema para a ocupação são as fotos de supostas torturas contra prisioneiros iraquianos nas mãos de militares britânicos e americanos. Jornais árabes publicaram com destaque fotos das agressões, divulgadas antes por uma TV americana e jornais londrinos. A Liga Árabe considerou as fotos "ultrajantes", e um conselho de religiosos no Iraque disse que elas ferem a dignidade do país. Londres e Washington repudiaram as agressões e disseram que abriram investigações para punir os culpados.
Bush, em seu pronunciamento semanal de rádio, admitiu as dificuldades, mas tentou ser otimista. "Um ano depois, apesar de muitos desafios, a vida para os iraquianos está muito distante da crueldade e da corrupção do regime de Saddam", disse, citando avanços na distribuição de luz, no sistema bancário e no de saúde.
Desde que Bush declarou o fim da guerra, cerca de 430 militares americanos morreram em ação no Iraque, cerca de 130 só em abril, o mês mais sangrento. Menos de cem morreram nas três semanas de guerra. "As famílias dos bravos soldados caídos devem saber que suas mortes não foram em vão", disse Bush. Na noite de sexta, o programa "Nightline", da TV ABC, causou comoção ao dedicar todo o seu horário aos mortos no Iraque, mostrando suas fotos e dados pessoais.


Com agências internacionais


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