São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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A EUROPA DOS 25

Moeda criada com a pretensão de superar a americana sofre com as diferentes políticas econômicas adotadas dentro da UE

Euro ainda será "irmão caçula" do dólar

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS

Quando nasceu o euro, a moeda comum de 12 dos países da União Européia, alguns analistas muito respeitados chegaram a prever que ele logo superaria o dólar como moeda de maior relevo.
Agora, no entanto, não há ninguém imaginando efeitos tão formidáveis. Primeiro, porque os dez novos sócios não adotarão de imediato o euro. Terão de passar pelo vestibular a que se submeteram os seus 15 sócios (disciplina fiscal, inflação sob controle etc.).
Na melhor das hipóteses, passarão a usar o euro em 2007.
Segundo, porque a ampliação, se faz crescer a população do conglomerado em 30%, só eleva em 5% o tamanho da economia européia. Mas, acima de tudo, permanece o fato de que "a economia européia terá de ser consideravelmente mais dinâmica [que a americana] para desempenhar um papel maior no mundo", diz Séamus O'Cléireacáin (Columbia).
De fato, recente estudo feito pelo Fórum Econômico Mundial, organismo com status de consultor da ONU, mostra que, em matéria de inovação e economia do conhecimento, hoje vitais, os Estados Unidos têm melhor desempenho que a Europa, na média, embora percam para três países europeus, todos nórdicos (Fin-lândia, Dinamarca e Suécia).
É por isso que Ben Crum, pesquisador do Ceps (Centro para Estudo de Políticas Européias, de Bruxelas), vê "poucos motivos para esperar que o euro algum dia tome o lugar do dólar. Mas, como seu irmão caçula, ele provavelmente vai se tornar cada vez mais proeminente".
Seu colega Michael Emerson supõe que o euro se tornará a moeda predominante na grande Europa (ou seja também nos países europeus que não estão entre os 25) e no Oriente Médio. "A ampliação acentuará a gradual transferência de poupanças e comércio para o euro, na vizinhança européia."
Reforça Leonor Coutinho, também do Ceps: "Embora os mercados financeiros dos novos membros sejam ainda incipientes, a sua integração nos mercados europeus contribuirá a longo prazo para aumentar a liqüidez e o volume de transações do mercado financeiro europeu, o que, por sua vez, contribuirá para a redução dos custos associados ao euro e, por extensão, para a sua maior utilização".
Mas outro pesquisador do Ceps, Sebastian Kurpas, tem uma visão mais pessimista: "Nós temos uma moeda comum européia para 12 países, mas temos ainda 15 [e agora 25] diferentes políticas econômicas, com muito pouca coordenação. Isso torna difícil para os investidores antecipar as perspectivas para o euro".

Volta ao passado
Euro à parte, a nova Europa não só ganhará 5% mais de peso econômico, como funcionará como uma espécie de muro de proteção contra eventuais tendências de retornar ao passado.
Diz, por exemplo, Ben Crum (Ceps): "A transformação que ocorreu nos antigos países comunistas em apenas 15 anos é impressionante e, em muitos aspectos, sem precedentes. A integração à UE serve como reconhecimento dessas conquistas e como uma garantia de que não serão desfeitas".
O problema é que os países que não foram contemplados com a ampliação ficam sem esse dique protetor. "Há o risco de que se sintam desencorajados a tentar seriamente conquistar padrões europeus modernos", teme Michael Emerson, do Ceps.
Completa: "A Rússia deseja restabelecer uma hegemonia renovada sobre Estados como Ucrânia, Moldova, o sul do Cáucaso e a nova Sérvia. Esses países ainda são fracos e vulneráveis à desordem social, à criminalidade e às tensões étnicas".
Essa lembrança remete um pouco à Idade Média: com a ampliação, o rio Narva (Estônia) voltará a ser a fronteira da Europa com a Rússia, tal como era nos tempos em que separava a civilização européia, católica, da eslava, ortodoxa.


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