São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ensino superior iraquiano foi destruído, afirma ONU

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

O sistema de educação superior do Iraque-conhecido no passado por sua respeitável qualidade de ensino -é, hoje, um retrato fiel da devastação do país. Um estudo da Universidade das Nações Unidas (UNU) revela que 84% da infra-estrutura das universidades foi destruída desde a guerra, em 2003. O número de professores assassinados chega a 48. Faltam eletricidade, computadores e vários equipamentos.
Os dados foram levantados durante simpósio organizado pela Unesco (braço da ONU para a educação) com acadêmicos iraquianos e autoridades do setor que estiveram em evento ocorrido em Paris em fevereiro passado.
"O quadro é devastador. Os corajosos professores que seguem trabalhando são alvo de ameaças diárias. Laboratórios estão destruídos. Muita coisa foi roubada ou danificada", disse à Folha Georges Haddad, diretor do departamento de educação superior da Unesco.
O estudo afirma que apenas 40% da infra-estrutura destruída foi recuperada até agora. Segundo Jairam Reddy, diretor do Instituto de Liderança Internacional da UNU, que tem sede em Amã (Jordânia), essa situação tem sido "negligenciada".
"O problema é que, por causa do sério problema da segurança e da violência no país, as outras prioridades acabam tendo de ser negligenciadas".
A invasão de 2003 e a escalada posterior da violência contribuíram para piorar uma situação que vinha ruim havia anos, desde a Guerra do Golfo (1991), que foi seguida pelo estabelecimento de sanções econômicas ao país.
Considera-se que o sistema de educação superior moderno do Iraque começou a florescer a partir de 1957 com a fundação da Universidade de Bagdá. Na década de 60, outras cinco instituições foram estabelecidas. Nos anos 70, a robustez do setor de petróleo contribuiu para a criação de vários institutos técnicos.
Essa rota de expansão tomou o rumo da decadência na década de 90. Segundo o levantamento da UNU, de 30% a 40% dos educadores iraquianos mais qualificados deixaram o país desde 1990.
"Não existe possibilidade para a consolidação de uma democracia sem o amparo de um sistema educacional sólido e de qualidade", afirmou Haddad, que já presidiu a Sorbonne, na França.
De acordo com Reddy, o Iraque é um exemplo de país em desenvolvimento que conseguiu estabelecer um sistema educacional superior afinado com seu perfil econômico. Além das 20 universidades existentes no país, há também 47 institutos técnicos.
O orçamento do novo governo do país ainda não tem verba dedicada à educação universitária. "Fiquei sabendo que o governo iraquiano investirá US$ 25 milhões por mês, ao longo dos próximos dois anos, na educação superior. É pouco, mas já é um passo significativo", diz Reddy.
Foi criado um fundo para a educação superior do Iraque, que começou com doação de US$ 15 milhões feita pela primeira-dama do Qatar, Mozah Bint Nasser Al-Missned. A expectativa de Reddy é que o fundo some cerca de US$ 500 milhões em médio prazo.


Texto Anterior: Iraque diz que prendeu suspeitos de matar britânica
Próximo Texto: Armas: EUA relacionam teste de míssil a programa atômico norte-coreano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.