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Ensino superior iraquiano foi destruído, afirma ONU
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
O sistema de educação superior
do Iraque-conhecido no passado por sua respeitável qualidade
de ensino -é, hoje, um retrato
fiel da devastação do país. Um estudo da Universidade das Nações
Unidas (UNU) revela que 84% da
infra-estrutura das universidades
foi destruída desde a guerra, em
2003. O número de professores
assassinados chega a 48. Faltam
eletricidade, computadores e vários equipamentos.
Os dados foram levantados durante simpósio organizado pela
Unesco (braço da ONU para a
educação) com acadêmicos iraquianos e autoridades do setor
que estiveram em evento ocorrido em Paris em fevereiro passado.
"O quadro é devastador. Os corajosos professores que seguem
trabalhando são alvo de ameaças
diárias. Laboratórios estão destruídos. Muita coisa foi roubada
ou danificada", disse à Folha
Georges Haddad, diretor do departamento de educação superior
da Unesco.
O estudo afirma que apenas
40% da infra-estrutura destruída
foi recuperada até agora. Segundo
Jairam Reddy, diretor do Instituto
de Liderança Internacional da
UNU, que tem sede em Amã (Jordânia), essa situação tem sido
"negligenciada".
"O problema é que, por causa
do sério problema da segurança e
da violência no país, as outras
prioridades acabam tendo de ser
negligenciadas".
A invasão de 2003 e a escalada
posterior da violência contribuíram para piorar uma situação que
vinha ruim havia anos, desde a
Guerra do Golfo (1991), que foi seguida pelo estabelecimento de
sanções econômicas ao país.
Considera-se que o sistema de
educação superior moderno do
Iraque começou a florescer a partir de 1957 com a fundação da
Universidade de Bagdá. Na década de 60, outras cinco instituições
foram estabelecidas. Nos anos 70,
a robustez do setor de petróleo
contribuiu para a criação de vários institutos técnicos.
Essa rota de expansão tomou o
rumo da decadência na década de
90. Segundo o levantamento da
UNU, de 30% a 40% dos educadores iraquianos mais qualificados deixaram o país desde 1990.
"Não existe possibilidade para a
consolidação de uma democracia
sem o amparo de um sistema
educacional sólido e de qualidade", afirmou Haddad, que já presidiu a Sorbonne, na França.
De acordo com Reddy, o Iraque
é um exemplo de país em desenvolvimento que conseguiu estabelecer um sistema educacional
superior afinado com seu perfil
econômico. Além das 20 universidades existentes no país, há também 47 institutos técnicos.
O orçamento do novo governo
do país ainda não tem verba dedicada à educação universitária.
"Fiquei sabendo que o governo
iraquiano investirá US$ 25 milhões por mês, ao longo dos próximos dois anos, na educação superior. É pouco, mas já é um passo significativo", diz Reddy.
Foi criado um fundo para a educação superior do Iraque, que começou com doação de US$ 15 milhões feita pela primeira-dama do
Qatar, Mozah Bint Nasser Al-Missned. A expectativa de Reddy
é que o fundo some cerca de US$
500 milhões em médio prazo.
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