São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2007

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Chávez e Evo consolidam nacionalização

Em comemorações do 1º de Maio, boliviano e venezuelano exaltam em atos políticos o controle da exploração de gás e petróleo

Os festejos do 1º de Maio na Venezuela e na Bolívia giraram em torno da consolidação dos processos de nacionalização dos recursos energéticos. O governo Chávez ocupou instalações de quatro empresas mistas, das quais o governo passará a sócio majoritário, que exploram petróleo no Orinoco. A Bolívia entregará hoje os 44 novos contratos sobre a exploração do gás -três deles com a Petrobras. Evo Morales, porém, ontem se explicou a partidários radicais: "Era impossível expulsar as empresas e confiscar".

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PUERTO LA CRUZ (ANZOÁTEGUI)

Em ação mais simbólica do que prática, o governo venezuelano ocupou nas primeiras horas de ontem as diversas instalações das "associações estratégicas", como são chamadas as quatro empresas de capital misto que exploram petróleo na faixa do rio Orinoco, uma das principais reservas mundiais do combustível.
Horas depois, o presidente Hugo Chávez organizou um showmício para marcar o fim do prazo dado às multinacionais para assinar um pré-acordo pelo qual elas aceitam ser sócias minoritárias da estatal PDVSA. A estatal venezuelana passará a ter pelo menos 60% das ações das quatro empresas.
"Enterramos a abertura petroleira hoje, aqui em Anzoátegui", discursou Chávez. "A abertura não foi senão a tentativa do imperialismo de se apoderar para sempre da maior reserva de petróleo do mundo."
O discurso foi assistido por alguns milhares de funcionários da PDVSA de várias partes do país, que esperaram desde o começo da manhã sob um sol impiedoso. Como em todo ato com Chávez, o público vestia bonés e camisetas vermelhas dadas pelo governo com os dizeres "Controlamos tudo, tudinho", um trocadilho com o lema chavista "rojo rojito" (vermelho vermelhinho), e "A faixa petroleira é nossa".
Durante a fala de Chávez, três aviões russos Sukhoi recém-adquiridos realizaram rasantes sobre a multidão. "Qualquer força estrangeira que se coloque no Caribe, temos a capacidade de lançar-lhe um presentinho a 200 km de distância", disse o venezuelano.
O local escolhido para o ato foi o Complexo Petroquímico Jose, no Estado de Anzoátegui (leste), um imenso centro de processamento do petróleo ultrapesado da faixa do Orinoco, localizada 200 km ao sul e que ocupa uma área de cerca de 55 mil km2, a maior parte ainda inexplorada.
As instalações reúnem os centros de processamento das associações estratégicas: Ameriven (Chevron, PDVSA e ConocoPhilips), Petrozuata (PDVSA, ConocoPhillips), Cerro Negro (PDVSA, ExxonMobil e BP) e Sincor (PDVSA, Total e Statoil). Apesar de o governo ter dito que assumiu o controle operacional, as instalações continuam sendo operadas pelos funcionários das associações estratégicas. Segundo a PDVSA, a intenção é mantê-los após a formação das novas empresas mistas, que devem começar a operar formalmente em meados do ano.
De todas essas multinacionais, apenas a americana ConocoPhillips -a que mais investiu no Orinoco- não assinou um memorando de entendimento com a PDVSA na semana passada. Mesmo as empresas que assinaram, porém, ainda não asseguraram a permanência no Orinoco. O acordo para a criação das novas empresas mistas será negociado até 26 de junho, limite imposto pela Venezuela.
Após o evento, o vice-presidente da PDVSA, Luis Vierma, disse que, embora a ConocoPhillips não tenha assinado o memorando no prazo previsto, a empresa poderá continuar negociando até o final de junho. Essas associações foram criadas entre 1993 e 1997, período conhecido como de "abertura petroleira", quando o governo venezuelano, prejudicado pelo baixo preço do petróleo, aprovou uma legislação mais favorável ao capital estrangeiro.
Na véspera do 1º de Maio, Chávez havia anunciado um aumento de 20% no salário mínimo, que equivalerá a US$ 286 (cerca de R$ 582), e a redução da jornada de trabalho das atuais oito horas diárias para seis até 2010. Outro anúncio foi a retirada da Venezuela do FMI e do Banco Mundial.


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