|
Próximo Texto | Índice
Chávez e Evo consolidam nacionalização
Em comemorações do 1º de Maio, boliviano e venezuelano exaltam em atos políticos o controle da exploração de gás e petróleo
Os festejos do 1º de Maio na Venezuela e na Bolívia giraram em torno da consolidação dos processos de nacionalização dos recursos energéticos. O governo
Chávez ocupou instalações de quatro empresas mistas, das quais o governo passará a sócio majoritário,
que exploram petróleo no Orinoco. A Bolívia entregará hoje os 44 novos contratos sobre a exploração do
gás -três deles com a Petrobras. Evo Morales, porém,
ontem se explicou a partidários radicais: "Era impossível expulsar as empresas e confiscar".
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PUERTO LA CRUZ (ANZOÁTEGUI)
Em ação mais simbólica do
que prática, o governo venezuelano ocupou nas primeiras
horas de ontem as diversas instalações das "associações estratégicas", como são chamadas as
quatro empresas de capital
misto que exploram petróleo
na faixa do rio Orinoco, uma
das principais reservas mundiais do combustível.
Horas depois, o presidente
Hugo Chávez organizou um
showmício para marcar o fim
do prazo dado às multinacionais para assinar um pré-acordo pelo qual elas aceitam ser
sócias minoritárias da estatal
PDVSA. A estatal venezuelana
passará a ter pelo menos 60%
das ações das quatro empresas.
"Enterramos a abertura petroleira hoje, aqui em Anzoátegui", discursou Chávez. "A
abertura não foi senão a tentativa do imperialismo de se apoderar para sempre da maior reserva de petróleo do mundo."
O discurso foi assistido por
alguns milhares de funcionários da PDVSA de várias partes
do país, que esperaram desde o
começo da manhã sob um sol
impiedoso. Como em todo ato
com Chávez, o público vestia
bonés e camisetas vermelhas
dadas pelo governo com os dizeres "Controlamos tudo, tudinho", um trocadilho com o lema chavista "rojo rojito" (vermelho vermelhinho), e "A faixa
petroleira é nossa".
Durante a fala de Chávez,
três aviões russos Sukhoi recém-adquiridos realizaram rasantes sobre a multidão. "Qualquer força estrangeira que se
coloque no Caribe, temos a capacidade de lançar-lhe um presentinho a 200 km de distância", disse o venezuelano.
O local escolhido para o ato
foi o Complexo Petroquímico
Jose, no Estado de Anzoátegui
(leste), um imenso centro de
processamento do petróleo ultrapesado da faixa do Orinoco,
localizada 200 km ao sul e que
ocupa uma área de cerca de 55
mil km2, a maior parte ainda
inexplorada.
As instalações reúnem os
centros de processamento das
associações estratégicas: Ameriven (Chevron, PDVSA e ConocoPhilips), Petrozuata
(PDVSA, ConocoPhillips), Cerro Negro (PDVSA, ExxonMobil
e BP) e Sincor (PDVSA, Total e
Statoil). Apesar de o governo
ter dito que assumiu o controle
operacional, as instalações
continuam sendo operadas pelos funcionários das associações estratégicas. Segundo a
PDVSA, a intenção é mantê-los
após a formação das novas empresas mistas, que devem começar a operar formalmente
em meados do ano.
De todas essas multinacionais, apenas a americana ConocoPhillips -a que mais investiu no Orinoco- não assinou um memorando de entendimento com a PDVSA na semana passada. Mesmo as empresas que assinaram, porém,
ainda não asseguraram a permanência no Orinoco. O acordo para a criação das novas empresas mistas será negociado
até 26 de junho, limite imposto
pela Venezuela.
Após o evento, o vice-presidente da PDVSA, Luis Vierma,
disse que, embora a ConocoPhillips não tenha assinado o
memorando no prazo previsto,
a empresa poderá continuar
negociando até o final de junho. Essas associações foram
criadas entre 1993 e 1997, período conhecido como de
"abertura petroleira", quando
o governo venezuelano, prejudicado pelo baixo preço do petróleo, aprovou uma legislação
mais favorável ao capital estrangeiro.
Na véspera do 1º de Maio,
Chávez havia anunciado um
aumento de 20% no salário mínimo, que equivalerá a US$ 286
(cerca de R$ 582), e a redução
da jornada de trabalho das
atuais oito horas diárias para
seis até 2010. Outro anúncio foi
a retirada da Venezuela do
FMI e do Banco Mundial.
Próximo Texto: Para Petrobras, contratos não preocupam Índice
|