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IRAQUE OCUPADO
Um mês antes do previsto, líderes iraquianos se sobrepõem à ONU, mas escolhem nomes endossados pelos EUA
Conselho iraquiano nomeia governo interino
DA REDAÇÃO
O Conselho de Governo Iraquiano tomou a dianteira da transição política e nomeou ontem,
um mês antes do planejado pelos
EUA e pela ONU, o governo que
dirigirá o país interinamente do
próximo dia 30 até janeiro de
2006, quando devem tomar posse
líderes eleitos. A decisão implica
na dissolução do grupo, nomeado
em julho pelos EUA como órgão
consultivo da Autoridade Provisória da Coalizão.
Ressaltando as enormes dificuldades que o novo governo enfrentará, dois atentados mataram ao
menos 14 pessoas no norte do país
e na capital, acrescentando indícios à previsão da APC de que a
violência deve se agravar até que a
transição se consolide.
O plano dos EUA -que buscava, com a chancela da ONU, atrair
mais países para a reconstrução- era que a nomeação viesse
da entidade internacional. Mas o
conselho iraquiano, um grupo
visto como ilegítimo pela maioria
da população, sobrepôs suas indicações para premiê e presidente,
ainda que o gabinete seja formado
essencialmente por tecnocratas,
como sugeriu a ONU.
Para a presidência, um posto cerimonial, o conselho indicou o
empresário e líder tribal sunita
Ghazi Yawer, 45. Como a maioria
de seus futuros colegas, Yawer
morou e estudou no Ocidente. O
nome preferido pela ONU e por
Washington era o de Adnan Pachachi, mas o ex-chanceler recusou o cargo, após ser indicado pelo conselho em um movimento
aparentemente pré-estabelecido.
Soberania
Em seu primeiro discurso oficial, Yawer exigiu "soberania total" para os iraquianos quando a
APC se dissolver no fim do mês. É
uma demanda que se contrapõe à
proposta inicial dos EUA de conferir ao país "soberania parcial"
(sem comando sobre as Forças
Armadas ou poder para criar leis,
por exemplo), mas que foi contemplada na revisão da proposta
de Washington e Londres à ONU.
O novo documento, obtido pela
agência de notícias Reuters, mostra que a coalizão anglo-americana também cedeu, em certa medida, ao apelo dos opositores da
guerra -alguns deles com poder
de veto no Conselho de Segurança
da ONU- para fixar uma data
para o fim da ocupação militar.
Na nova versão da proposta de resolução há um parágrafo determinando que o mandato das forças
multinacionais "deve expirar com
a conclusão do processo político".
Diplomatas na ONU a interpretaram como uma referência à
posse do governo eleito iraquiano, esperada para janeiro de 2006.
Até lá, as forças permanecerão no
país sob comando americano.
O anúncio do governo interino
coube ao novo premiê, Iyad Allawi, nomeado na semana passada
a partir de uma decisão do conselho endossada pelos EUA e pela
ONU. Segundo analistas, o xiita
Allawi goza de pouca confiança
da população iraquiana, dado seu
histórico de serviço ao extinto
partido Baath (o mesmo do ex-ditador Saddam Hussein) e, depois,
à CIA (serviço secreto dos EUA).
Além de Allawi e Yawer, o gabinete terá dois vice-presidentes,
um vice-premiê e 30 ministros
(seis dos quais são mulheres), respeitando as divisões étnicas e religiosas no país e conferindo ao governo um pluralismo inédito.
"O mundo e seus vizinhos esperam que vocês garantam segurança e estabilidade para o povo iraquiano, que já sofreu demais",
disse o enviado da ONU ao Iraque, Lakhdar Brahimi, cuja missão era montar um governo que
obtivesse o máximo de aceitação.
"Foi difícil. Ele teve de ceder para avançar", disse o secretário-geral sobre a tarefa de seu representante. Mas, para Kofi Annan, a
ONU "fez exatamente o que foi
chamada para fazer", ainda que o
processo não tenha sido perfeito.
"Nunca houve a intenção de
que a ONU impusesse um governo aos iraquianos. Tínhamos de
discutir e, dadas as circunstâncias
e os fatores em campo, não é surpreendente que tenhamos uma
mistura de gente de dentro e de
fora do Conselho de Governo Iraquiano no novo governo."
O premiê britânico, Tony Blair,
elogiou a formação do governo
interino e disse que a ONU deve
adotar rapidamente uma resolução que o legitime. "É importante
obtermos uma resolução que endosse o processo e deixe claro que
a transferência de soberania para
o governo iraquiano é total."
Violência
Uma bomba explodiu em frente
a uma base americana em Beiji
(norte), matando 11 iraquianos e
ferindo outros 22, incluindo dois
soldados americanos. Em Bagdá,
três pessoas morreram e cerca de
20 foram feridas quando um carro-bomba explodiu em frente a
um escritório da União Patriótica
do Curdistão, partido alinhado à
APC. Meia hora antes da explosão, quase 400 pessoas participavam de uma festa no local.
Com agências internacionais
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