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Esquerdista admite ingerência de Chávez em favor do governo
DO ENVIADO A LA PAZ
Líder histórico da esquerda
boliviana, o senador do MAS
(Movimento ao Socialismo)
por La Paz, Antonio Peredo, 70,
acusa os líderes em favor do
"sim" do departamento de Santa Cruz de promover idéias separatistas, mas admite que
houve ingerência de Hugo Chávez na campanha em favor de
seu partido -segundo ele, devido à "exuberância tropical" do
mandatário venezuelano.
A seguir, a entrevista de Peredo à Folha, gravada no escritório da Comissão Mista de
Constituição do Congresso,
presidida por ele.
(FM)
FOLHA - Por que o MAS defende
que o referendo sobre as autonomias seja considerado apenas em nível nacional?
ANTONIO PEREDO - Não se trata
de uma posição do MAS, trata-se do texto da pergunta. Vou ler
a pergunta: "Está você de acordo, sob o princípio da unidade
nacional, em dar à Assembléia
Constituinte o mandato vinculante para estabelecer um regime de autonomia departamental?". Ou seja, não há um mandato vinculante em nível departamental, mas um mandato
vinculante à Assembléia Constituinte. E a Assembléia é nacional. A interpretação deles
vem do seguinte: de que eles,
desde o primeiro momento, defenderam uma autonomia vinculante no nível departamental, que não aceitamos. E, quando se aprova a Lei de Convocatória, se estabelece claramente
que a vinculação é para a Assembléia. Eles, para manter sua
posição, estão dizendo isso. E,
seguramente, como vão perder
as eleições, vão usar esse argumento: "Nós dissemos sim".
FOLHA - No caso provável de o governo ter a maioria na Assembléia e
de o "sim" vencer em alguns departamentos, existe o risco de uma grave crise política?
PEREDO - É necessário fazer a
leitura de todas as ações dos
membros dessa confraria de
Santa Cruz, formada por organismos empresariais e onde está concentrada a direita. E esses organismos disseram, em
seu comício de quarta, que estão contra a unidade nacional,
apesar do grito de "somos bolivianos". O senador Oscar Ortiz
está elaborando um projeto de
lei para que se crie o passaporte
departamental, de maneira que
eu, que vivo em La Paz, tenho
de pedir visto se quero ir a Santa Cruz. De que estão falando,
de autonomia? Estão falando
de separatismo. Eles querem
criar as condições de um enfrentamento, e nós estamos defendendo a unidade do país.
FOLHA - Não foi um exagero o presidente Hugo Chávez ter vindo à Bolívia participar da abertura da campanha do MAS à Assembléia?
PEREDO - Concordaria com essa
crítica se eles fizessem autocrítica. O senhor Jorge Quiroga,
sendo presidente, visitou o
Chapare [região produtora de
coca e berço político de Morales] em 2002 com o embaixador dos EUA. E ali, ao lado do
presidente, hoje chefe do Podemos, o embaixador disse que, se
Morales ganhasse aquelas eleições ou fosse parte do próximo
governo, a ajuda americana seria suspensa. Há mais intervenção do que essa? O então presidente Quiroga se fez de desentendido, mas eles estavam lado
a lado. Posso concordar que a
exuberância tropical do presidente Chávez o faça intervir
dessa maneira. Mas a contrapartida está no fato de que o governo da Venezuela está na posição de dizer: "O que a Bolívia
precisa, nós ajudamos". Ao
contrário de países que sempre
impuseram condições.
FOLHA - Mas não é intervenção
anunciar investimentos de US$ 1,5
bilhão no lançamento da campanha
do MAS, como fez Chávez?
PEREDO - Sim, evidentemente,
mas eu diria que é produto dessa exuberância de Chávez.
FOLHA - O Brasil é um dos países
que impõem condições para ajudar?
PEREDO - Estou falando dos
EUA. Estou convencido de que
os governos da Argentina e do
Brasil são amigos. Os amigos
brigam também, mas os povos
de Argentina, Uruguai, Brasil,
Equador, Bolívia lutam por um
objetivo comum: desenvolver-se e ser soberano. Vamos encontrar soluções para as diferenças momentâneas.
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