|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUTA CONTRA O CIGARRO
Tratado internacional fica pronto em maio, afirma o embaixador brasileiro que chefia negociações
OMS quer lei mundial antitabaco para 2003
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
A OMS (Organização Mundial
da Saúde) pretende aprovar no
ano que vem o primeiro tratado
mundial para diminuir o uso e o
mercado de cigarros. Depois de
mais de dois anos de negociação,
a OMS já conta com uma proposta consolidada, apresentada há
cerca de duas semanas pelo presidente da comissão negociadora, o
embaixador brasileiro em Genebra, Luiz Felipe Seixas Corrêa.
O texto de 22 páginas deve servir de base para o tratado final,
que ainda pode receber emendas
dos 191 membros da organização.
"Todos os países puderam
apresentar emendas e contra-emendas. O resultado foi muito
rico do ponto de vista de propostas", disse Seixas Corrêa.
Para ele, o novo texto representa um equilíbrio entre todas essas
propostas, visando a diminuir
gradualmente o consumo de cigarros. Justificando a data de
maio como limite para o texto final do tratado, Seixas Corrêa afirma que a celeridade é necessária
por se tratar de um problema urgente de saúde pública.
Segundo dados recentes da
OMS, 4 milhões de pessoas morrem anualmente no mundo por
causa de doenças relacionadas ao
tabaco. Estima-se que o número
pode subir para 10 milhões de
mortes anuais até 2030, sendo que
70% das mortes ocorreriam em
países em desenvolvimento.
Ou seja, o cigarro mata mais do
que a Aids, o álcool e a cocaína. Só
no século 20, as doenças relacionadas ao uso de tabaco mataram
mais do que todas as guerras do
mesmo período, segundo a OMS.
Hoje, há 1,1 bilhão de fumantes
no mundo -um terço de toda a
população adulta mundial.
Apesar de números tão alarmantes, alguns países ainda estão
recalcitrantes para tomar medidas mais duras contra o cigarro.
Os da Ásia podem ser considerados os exemplos mais claros.
São os asiáticos, por exemplo, que
mais se opõem ao banimento de
fumo nos vôos comerciais, uma
prática há muito adotada na
maioria dos países do Ocidente.
"É difícil fazer uma classificação
de países por região. Esse é um tema que escapa às dualidades tradicionais de qualquer linha, como
negociações entre países ricos e
pobres, países desenvolvidos e em
desenvolvimento, países de uma
região versus países de outra.
Dentro de cada país, o tema é
muito controverso, pois há interesses que entram em conflito. E
eles muitas vezes podem ser divergentes dos interesses de saúde
pública", afirma o embaixador.
Outra parte polêmicas da proposta diz respeito ao controle da
publicidade e do patrocínio das
companhias de cigarro a atividades e eventos esportivos.
Nesse caso, busca-se restringir o
anúncio de produtos que, afinal,
são legais. "Cada país terá de adequar as propostas a suas devidas
legislações. Não interferiremos",
diz Seixas Corrêa.
Questionado sobre a situação
no Brasil, ele deixa transparecer
uma ponta de orgulho: "O Brasil
tem uma das legislações mais
avançadas do mundo. Difícil é
"exportar" essa legislação".
Medidas objetivas
O tratado deve, ao menos, levar
os países a coordenar preços e impostos sobre o cigarro com o objetivo de reduzir o consumo.
Além disso, o texto prevê o fim
progressivo das isenções de impostos para produtos finais e insumos da produção tabaqueira.
A proteção ao fumante passivo
também é uma novidade do texto.
Cada país se comprometerá a desenvolver legislações de proteção
aos não-fumantes que têm de frequentar ambientes de fumantes.
Quanto ao contrabando de cigarros, terminou ontem, em Nova York, um seminário entre executivos das multinacionais de cigarro e representantes de 145 países para acertar uma ofensiva global. "Talvez essa [o combate ao
contrabando] seja a única área em que há consenso", disse Seixas
Corrêa. Segundo a OMS, com o contrabando, deixa-se de arrecadar de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões por ano, dinheiro que poderia ser usado na saúde pública.
Os malefícios do contrabando podem ser claros, mas um seminário das empresas neste momento levantou críticas de grupos antitabagistas. Eles afirmam que a iniciativa pretende começar a abrir as negociações na OMS para os executivos, que não têm a saúde como maior preocupação.
Texto Anterior: Colômbia: Governo e Farc negociam troca de rebeldes presos por sequestrados Próximo Texto: Panorâmica - Argentina: Ex-mulher de Menem nega saber de conta Índice
|