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REINO UNIDO
Além do premiê, o ministro da Defesa, o diretor de Comunicação do governo, dirigentes da BBC e jornalistas serão ouvidos
Blair deporá em inquérito sobre cientista
MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES
O premiê britânico, Tony Blair,
vai depor no inquérito que vai investigar as circunstâncias da morte do funcionário do Ministério
da Defesa David Kelly, principal
fonte de reportagens da rede pública BBC que acusaram o governo de ter exagerado informações
dos serviços de inteligência num
dossiê sobre o Iraque.
Kelly foi encontrado morto. O
caso está sendo tratado como suicídio depois do vazamento de seu
nome à imprensa pelo Ministério
da Defesa e de ele ter prestado depoimento no comitê do Parlamento britânico que investigava a
disputa entre o governo e a BBC.
O inquérito foi aberto ontem
por um juiz independente -lorde Brian Hutton. Além de Blair,
vão depor o ministro da Defesa,
Geoff Hoon, o diretor de Comunicação do governo, Alastair Campbell, dirigentes da BBC e os três
jornalistas que fizeram suas reportagens depois de conversas
com Kelly, que era um dos maiores especialistas britânicos em armas de destruição em massa.
A abertura do inquérito ofuscou
o que deveria ser um momento de
festa para Blair. Hoje ele se torna o
trabalhista que mais tempo ocupou o cargo de premiê na história
do país, mas a notícia de que ele
vai depor tomou conta da mídia
no país ontem.
Especialistas estimam que o inquérito deva durar meses, ocupe
as manchetes dos jornais e possa
causar problemas para o premiê.
O juiz disse que o inquérito será
público, com a permissão para
que jornalistas acompanhem diretamente os depoimentos.
As transcrições do que disserem
as testemunhas serão postas num
site criado especialmente para
que as pessoas possam acompanhar todos os detalhes do caso
(www.the-hutton-inquiry.org.uk).
A abertura do inquérito, com a
leitura de seus objetivos, foi transmitida ao vivo pelas TVs. Lorde
Hutton disse que será autorizada
a transmissão do anúncio das
suas conclusões. Ontem, porém, a
família de Kelly pediu ao juiz que
as TVs não transmitam os depoimentos. Ela não quer que o sofrimento que eles passaram se torne
um "entretenimento" nacional.
Lorde Hutton só deve decidir se
permite a transmissão ao reabrir
o inquérito, no próximo dia 11 de
agosto.
Ontem, o juiz deixou claro que
não pretende ser influenciado por
nenhum dos lados nessa dura disputa entre o governo britânico e a
BBC.
"Somente eu decidirei quais testemunhas serão chamadas", disse. Políticos que se opuseram à
Guerra do Iraque pediram que o
inquérito investigue também como o governo preparou o dossiê e
como ele utilizou as informações
dos serviços de inteligência.
Para Fenton Bresler, especialista
em direito, o âmbito do inquérito
é vago, havendo espaço para que
lorde Hutton investigue isso, mas
não está claro se isso vai mesmo
acontecer. O juiz não tem poder
para convocar testemunhas nem
para exigir que documentos sejam fornecidos à corte. Blair já tinha dito que iria colaborar. Segundo Bresler, que lembrou que a
pressão da opinião pública é muito forte, tantas coisas estão em jogo que ninguém poderá recusar-se a cooperar com o inquérito.
Blair e os demais integrantes do
governo serão questionados sobre como o nome de Kelly vazou à
imprensa, mas também é grande
a pressão sobre a própria BBC.
Ontem surgiu uma carta de Kelly
a seu superior no ministério, em
que ele levanta a possibilidade de
o jornalista Andrew Gilligan, autor da primeira reportagem da
BBC, ter "enfeitado" detalhes da
conversa que os dois tiveram em
um restaurante, em Londres.
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