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São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2003

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Crise ameaça independência da BBC

ALAN COWELL
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES

O tom que emprega, por tradição, é ponderado, e sua voz não se deixa afetar por querelas partidárias. Os apelidos pelos quais os britânicos vieram a conhecer sua rede pública de rádio e televisão parecem evocar a mais discreta das respeitabilidades: "Beeb" ou simplesmente "Auntie" (Titia).
Mas, nas últimas semanas, a BBC (British Broadcasting Corp.), talvez a mais conhecida rede pública de TV e rádio do mundo, se viu envolvida em uma das mais amargas controvérsias em seus 81 anos de história, opondo seu senso de independência e imparcialidade a um governo que a acusou de reportar erroneamente os motivos pelo qual o Reino Unido se aliou aos EUA na guerra contra o Iraque.

Kelly
A disputa foi tornada ainda mais sensacional pela morte de David Kelly, especialista do governo em armas identificado pela BBC como principal fonte de uma reportagem, transmitida em 29 de maio, sugerindo que o gabinete do primeiro-ministro Tony Blair exagerara a ameaça dos programas armamentistas do Iraque para justificar a adesão à guerra liderada pelos EUA.
O debate público incomum sobre o papel da BBC avançou para muito longe de uma troca de acusações políticas e encorajou críticos e rivais a contestar a visão que a BBC tem sobre si mesma e o seu curioso status como rede pública financiada por uma taxa compulsória de licença entre os proprietários de TV, mas protegida contra o controle governamental.
A BBC, diz Conrad Black, o publisher do "Daily Telegraph" e do "Sunday Telegraph", jornais conservadores britânicos, é uma "virulenta cultura de distorções".
Ele acrescenta que "ainda que sua melhor programação, nas áreas não relacionadas à política, seja excelente, ela tristemente se tornou a maior ameaça enfrentada pelo país ao qual foi fundada para servir e informar".
As declarações dele, publicadas pelo "Sunday Telegraph", precederam uma defesa igualmente robusta da BBC oferecida por Gavyn Davies, seu presidente, que criticou o que interpreta como uma campanha do governo com o objetivo de colocar a rede sob controle externo.
Alguns críticos consideram que a BBC esteja adotando aquilo que a revista semanal "The Economist" classifica como "uma visão de mundo amenamente esquerdista". E, como outros adversários da BBC, o conservador Black a acusou a ter uma agenda própria "patologicamente hostil ao governo e à oposição oficial, à maior parte das instituições britânicas, à política norte-americana em quase todos os campos, à moderação quanto à Irlanda, a todas as religiões ocidentais e à maior parte das manifestações de uma economia de mercado".


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