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Crise ameaça independência da BBC
ALAN COWELL
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
O tom que emprega, por tradição, é ponderado, e sua voz não se
deixa afetar por querelas partidárias. Os apelidos pelos quais os
britânicos vieram a conhecer sua
rede pública de rádio e televisão
parecem evocar a mais discreta
das respeitabilidades: "Beeb" ou
simplesmente "Auntie" (Titia).
Mas, nas últimas semanas, a
BBC (British Broadcasting Corp.),
talvez a mais conhecida rede pública de TV e rádio do mundo, se
viu envolvida em uma das mais
amargas controvérsias em seus 81
anos de história, opondo seu senso de independência e imparcialidade a um governo que a acusou
de reportar erroneamente os motivos pelo qual o Reino Unido se
aliou aos EUA na guerra contra o
Iraque.
Kelly
A disputa foi tornada ainda
mais sensacional pela morte de
David Kelly, especialista do governo em armas identificado pela
BBC como principal fonte de uma
reportagem, transmitida em 29 de
maio, sugerindo que o gabinete
do primeiro-ministro Tony Blair
exagerara a ameaça dos programas armamentistas do Iraque para justificar a adesão à guerra liderada pelos EUA.
O debate público incomum sobre o papel da BBC avançou para
muito longe de uma troca de acusações políticas e encorajou críticos e rivais a contestar a visão que
a BBC tem sobre si mesma e o seu
curioso status como rede pública
financiada por uma taxa compulsória de licença entre os proprietários de TV, mas protegida contra o controle governamental.
A BBC, diz Conrad Black, o publisher do "Daily Telegraph" e do
"Sunday Telegraph", jornais conservadores britânicos, é uma "virulenta cultura de distorções".
Ele acrescenta que "ainda que
sua melhor programação, nas
áreas não relacionadas à política,
seja excelente, ela tristemente se
tornou a maior ameaça enfrentada pelo país ao qual foi fundada
para servir e informar".
As declarações dele, publicadas
pelo "Sunday Telegraph", precederam uma defesa igualmente robusta da BBC oferecida por
Gavyn Davies, seu presidente, que
criticou o que interpreta como
uma campanha do governo com
o objetivo de colocar a rede sob
controle externo.
Alguns críticos consideram que
a BBC esteja adotando aquilo que
a revista semanal "The Economist" classifica como "uma visão
de mundo amenamente esquerdista". E, como outros adversários da BBC, o conservador Black
a acusou a ter uma agenda própria "patologicamente hostil ao
governo e à oposição oficial, à
maior parte das instituições britânicas, à política norte-americana
em quase todos os campos, à moderação quanto à Irlanda, a todas
as religiões ocidentais e à maior
parte das manifestações de uma
economia de mercado".
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