São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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CÁUCASO

Grupo armado toma escola na Ossétia do Norte, ameaça matar crianças e faz exigências pró-separatismo tchetcheno

Terror faz 300 reféns em escola na Rússia

DA REDAÇÃO

Um grupo terrorista invadiu ontem uma escola em Beslan, cidade da Ossétia do Norte -uma das repúblicas meridionais da Federação Russa- e fez de 300 a 400 reféns, segundo o ministro do Interior regional, Kazbek Dzantiyev. Os seqüestradores exigem a saída das tropas russas da Tchetchênia e a libertação de rebeldes separatistas presos.
Os terroristas entraram na escola número 1 de Beslan, em que estudam crianças de 7 a 17 anos, pouco depois das 8h, no primeiro dia do ano escolar russo, quando há uma festa de confraternização reunindo pais, alunos e professores. Os seqüestradores, homens e mulheres, eram cerca de 20. Estavam encapuzados, vestidos de preto, armados e com explosivos atados ao corpo. Cerca de 130 crianças foram feitas reféns.
Versões conflitantes dizem que a invasão provocou a morte de quatro ou nove pessoas -uma delas seria um terrorista. Professores que tentaram negociar com terroristas foram alvejados. O pai de uma criança tentou resistir e foi morto, assim como pelo menos um policial. Uma jovem ficou caída próxima à escola, mas tiros impediam que recebesse socorro.
Um grupo de 50 crianças conseguiu escapar ou foi libertado. Outros 12 alunos esconderam-se nas instalações da caldeira e também deixaram o prédio. "Estava perto do portão, ouvindo a música, quando vi três pessoas armadas correndo. Achei que era brincadeira, mas, quando deram tiros para o ar, nós fugimos", disse a jovem Zarubek Tsumartov.
Depois, os terroristas enviaram duas notas e uma fita de vídeo. De acordo com um porta-voz do presidente regional, a fita não continha nada gravado, uma nota trazia o número de um celular e a outra a palavra "esperem".
"Eles disseram que, para cada rebelde morto, matarão 50 crianças e, para cada rebelde ferido, matarão 20", disse o ministro Dzantiyev. Se o prédio for invadido, os terroristas prometem explodi-lo. Crianças foram colocadas nas janelas para inibir a ação de atiradores. A maioria dos reféns era mantida no ginásio. Os terroristas rejeitaram receber água e comida das autoridades.
Do lado de fora da escola -cercada por caminhões e blindados do Exército russo- estavam centenas de parentes dos alunos e moradores da cidade de 40 mil habitantes. Muitos estão armados e manifestam sua raiva contra as autoridades. "Tirem mais fotos do que está se passando e mandem-nas para [o presidente Vladimir] Putin, com as saudações da Ossétia do Norte", disse um homem com cerca de 40 anos.
Ninguém ainda assumiu o ataque. Segundo o "New York Times", um homem que atendeu um telefone dentro da escola disse que a ação é de um grupo liderado por Shamil Basayev, principal comandante rebelde tchetcheno.
Desde que declarou sua independência, em 1991, a Tchetchênia -república meridional vizinha à Ossétia do Norte- está em conflito com Moscou. Em 1994, a Rússia mandou tropas para acabar com a rebelião. Após uma guerra de 21 meses, os russos se retiraram e a Tchetchênia ganhou uma autonomia de fato. Em 1999, o então premiê Putin ordenou nova ofensiva militar.
Estratégica devido a oleodutos que passam por seu território, a Tchetchênia foi tema das duas vitoriosas campanhas de Putin à Presidência. Mas suas promessas de dizimar a insurgência foram seguidas por dezenas de atentados. No domingo, o candidato apoiado por Putin venceu as eleições presidenciais da Tchetchênia. A oposição alegou fraudes.
Putin interrompeu suas férias e voltou para Moscou. Após reunião de emergência, o Conselho de Segurança da ONU condenou o episódio e exigiu a libertação imediata dos reféns. O presidente americano, George W. Bush, telefonou para dar apoio a Putin.


Com agências internacionais e os jornais "New York Times" e "Independent"


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