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Ambiente em Moscou é de medo e resignação
DAVID McHUGH
DA ASSOCIATED PRESS, EM MOSCOU
Na manhã seguinte à explosão
suicida que deixou dez mortos
diante de uma estação de metrô, a
reportagem principal da TV controlada pelo governo foi a cobertura bem humorada do primeiro
dia de aula do novo ano escolar.
Mas a reportagem em clima positivo assumiu um ar de ironia
sombria quando, na metade da
manhã, chegou a notícia da tomada de reféns numa escola.
Enquanto o governo afirma que
a situação na rebelde Tchetchênia
se está estabilizando, os cidadãos
russos comuns, após uma semana
de violência aparentemente ligada à causa tchetchena, não acreditam na versão oficial. O sentimento dominante é um misto de medo, desafio e fatalismo.
"É claro que sinto medo", disse
Olga Gorbunova, 50 anos, vendedora de um quiosque pequeno na
estação de metrô de Rizhskaya, a
poucos metros de distância do asfalto queimado que marca o lugar
onde a bomba explodiu.
Com ou sem medo, porém, ela
compareceu ao trabalho. "Um
ataque terrorista pode acontecer
em qualquer lugar, numa estação,
uma loja. Não podemos ter nossa
segurança assegurada", explicou.
Esse misto de mal-estar e sentimento de impotência caracterizou comentários de muitos russos ontem, especialmente dos que
paravam para um momento de
contemplação no local da explosão, que foi recoberto de flores.
Poucos acreditam na versão governamental de que o período de
dez anos de anarquia e choques
na Tchetchênia teria chegado ao
fim com a eleição, no domingo,
do líder pró-Kremlin Alu Alkhanov para comandar a região.
Mas são também poucos os que
culpam o governo de Vladimir
Putin pelos problemas ou se propõem a fazer qualquer coisa que
não seja enfrentar a situação com
a obstinação e a resignação fomentadas por cinco anos de ataques terroristas que começaram
com o bombardeio de edifícios de
apartamentos em Moscou e outras cidades, em 1999, que deixaram mais de 300 mortos.
Os atos mais recentes de violência começaram na semana passada, com a queda simultânea de
dois aviões comerciais.
"As primeiras explosões foram
assustadoras, mas agora elas já
não metem medo", comentou Tamara Khomko, 46 anos, dona de
uma pequena quitanda. Ela mora
tão perto de um dos locais das explosões de 1999 que seu prédio
chegou a sacudir. "Eu sinto pelas
pessoas, sofro por elas. Mas já nos
acostumamos com isso.'"
"Vivendo numa cidade tão
grande, uma megalópole, não
sentimos medo, assim como os
moradores de Nova York não têm
medo", comentou Ivan Blynsky,
42, pintor de paisagens e retratos.
"As pessoas se acostumam a enfrentar fatos lamentáveis. A causa
está clara: é a Tchetchênia."
Diante da pergunta clássica na
Rússia -de quem é a culpa?-,
alguns criticam o governo e outros, os rebeldes tchetchenos. "Eu
os odeio", disse um homem que
se identificou apenas como oficial
militar. "Eu os mataria com minhas próprias mãos."
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