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TRAGÉDIA
Faltam comida, água, remédios e transporte; autoridades falam em "situação explosiva" e pedem ajuda imediata
Resgate em Nova Orleans tem tiros e caos
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A BILOXI (MISSISSIPPI)
DA REDAÇÃO
A operação de resgate e transferência de desabrigados terminou
ontem em briga, tiroteio e caos
generalizado em Nova Orleans,
onde a tensão, o desespero e a impaciência da população em ser
salva atingiram níveis alarmantes.
"Este é um SOS desesperado",
disse Ray Nagin, prefeito da cidade que ficou 80% submersa após
o rompimento de três diques que
contêm o lago Pontchartain, após
a passagem do furacão Katrina.
Em diversas áreas de Nova Orleans, equipes de resgate foram
atacadas a tiros pelos desabrigados, forçando a interrupção das
operações por questões de segurança. Um membro da Guarda
Nacional levou um tiro na perna
em briga pela posse de um rifle.
Com isso, o governo estadual
anunciou a chegada à cidade de
300 soldados, que estavam no Iraque, armados de fuzis e com permissão de atirar nos saqueadores.
A poucos quilômetros dali, em
Biloxi (Mississippi), onde foi registrado grande número de mortos, a reportagem da Folha presenciou um cenário também caótico, com corpos pelas ruas.
Os meios de comunicação, inclusive por celular, foram cortados. Não há transporte público.
Para eventuais deslocamentos, é
preciso contar com a boa vontade
dos que podem oferecer uma carona, cada vez mais raras devido à
falta de combustível que já provoca filas nos postos.
No estádio Superdome de Nova
Orleans, de onde 25 mil pessoas
têm de ser transferidas para o
Houston Astrodome (Texas),
houve empurra-empurra e briga
entre a multidão de desabrigados
que tentava embarcar nos ônibus.
Segundo a governadora de
Louisiana, Kathleen Blanco, cerca
de 300 mil pessoas precisam ser
retiradas de todo o Estado.
O chefe das operações de emergência da cidade, Tony Ebbert,
alertou que a vagarosa retirada da
cidade se tornou "uma situação
incrivelmente explosiva" e reclamou de falta de ajuda federal.
"Essa é uma desgraça nacional.
A Agência Federal de Emergência
está aqui há três dias, mas não há
comando nem controle. Podemos enviar quantidades enormes
de ajuda para as vítimas do tsunami, mas não podemos salvar a cidade de Nova Orleans."
No Centro de Convenções da cidade, o sentimento de revolta era
evidente. "Estamos largados aqui
como animais. Não temos ajuda",
disse o reverendo Issac Clark, 68,
do lado de fora do centro, onde os
cadáveres se acumulavam ao ar livre e os desabrigados reclamavam
comida, água e remédios.
"Não trato meu cachorro dessa
maneira. Eu enterrei meu cachorro", disse Daniel Edwards, apontando para uma mulher morta
numa cadeira de rodas, coberta
por um cobertor. "Você pode fazer tudo por outros países, mas
não pode fazer nada por seu próprio povo. Você pode mandar
seus militares para o exterior para
não poder trazê-los aqui", acrescentou Edwards. "Estão nos prometendo ônibus há quatro dias."
O prefeito Nagin também pediu
mais ajuda. "Estamos sem recursos no Centro de Convenções e
não temos ônibus suficientes.
Precisamos de ônibus. O centro
não tem condições sanitárias e estamos ficando sem suprimentos."
Em Washington, o secretário da
Segurança Interna, Michael Chertoff, anunciou o envio de 1.400
soldados por dia para somar-se
aos 2.800 que já estão em Nova
Orleans, em uma tentativa de
conter os saques e a violência. Em
toda a região afetada, são 28 mil os
guardas enviados, na maior operação militar em uma catástrofe
natural já realizada pelos EUA.
O Itamaraty informou que, até
agora, não foram identificadas vítimas brasileiras nas áreas atingidas pelo furacão. A Divisão de Assistência Consular disponibilizou
uma linha telefônica e um endereço eletrônico para pedidos de localização de brasileiros.
Com agências internacionais
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