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ANÁLISE
Um grande desafio político para Bush
ERIC LESER
DO "LE MONDE", EM BATON ROUGE, LOUISIANA
Na quarta-feira, 31 de agosto, o
prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, e a governadora da Louisiana,
Kathleen Blanco, não escondiam
sua irritação diante da lentidão
com que o governo do presidente
George W. Bush estava reagindo à
catástrofe no sul do país.
Eles criticavam os departamentos e as agências governamentais
por terem esperado pelo menos
dois dias para compreender a extensão da tragédia e o Exército
por não ter agido mais rapidamente para fechar os rombos nos
diques que permitiram que a água
invadisse mais de 80% de Nova
Orleans.
Bush, freqüentemente acusado
de tirar férias demais, interrompeu as férias que passava em sua
fazenda em Crawford, no Texas,
para retornar a Washington, anteontem, onde concedeu uma entrevista coletiva à imprensa para
destacar ao mesmo tempo a extensão dos danos humanos e materiais e os esforços empreendidos por seu governo para enfrentar o drama.
O que está em jogo, para o presidente, é considerável. Ou ele reencontra um pouco da estatura de
"comandante-em-chefe" adquirida após os ataques terroristas de
11 de setembro de 2001 contra o
World Trade Center e o Pentágono, ou então sua popularidade
-que já está baixa, tanto que as
últimas sondagens apontaram
que apenas 40% dos eleitores se
disseram satisfeita com sua atuação- continuará a cair.
Iraque, Nova Orleans
A situação política de Bush tende a piorar especialmente se a crise humanitária na Louisiana e no
Mississippi continuar a se agravar. Muito antes da chegada do
furacão Katrina, vários Estados já
se queixavam de não poder mais
contar com a Guarda Nacional,
maciçamente utilizada no Iraque,
em casos de urgência.
Esses temores foram confirmados diante das cenas de saques repetidos e de caos em Nova Orleans, cenas que as autoridades
foram incapazes de evitar, mesmo
tendo enviado, anteontem, 3.500
soldados adicionais à cidade
inundada.
Neste momento, aproximadamente 3.800 integrantes da Guarda Nacional do Mississippi se encontram no Iraque, além de 3.000
do Louisiana.
A situação se tornou tão chocante aos olhos da opinião pública que na noite de anteontem, numa decisão polêmica, o Pentágono autorizou o almirante Timothy Whitaker, que dirige o comando militar do norte, a enviar
tropas da ativa para restabelecer a
ordem em Nova Orleans.
Legalmente, apenas o presidente pode autorizar o uso de unidades regulares do Exército em operações como essa, em virtude da
lei federal que regulamenta a ação
contra as insurreições.
Outro teste importante foi o do
novo Departamento da Segurança Interna, que, concebido para
combater o terrorismo, se debate
contra problemas burocráticos
intermináveis.
Trunfo político
Mas a catástrofe pode também
se transformar em trunfo para a
Casa Branca se fizer a Guerra no
Iraque e a oposição ao conflito
passarem para o segundo plano.
Ela pode, também, levar o país a
unir-se, por algum tempo, em torno da reconstrução dos Estados
do golfo do México, reconstrução
essa que vai se tornar uma causa
nacional. Em várias ocasiões
George W. Bush já se descreveu
como administrador de crises, e
foi essa imagem, especialmente,
que lhe permitiu ser reeleito em
2004. Os americanos confiaram
nele e em sua capacidade de protegê-los.
Para a administração americana, a equação política talvez dependa sobretudo das conseqüências econômicas do furacão, especialmente seus desdobramentos
sobre o preço da gasolina nos postos de combustível.
Se a gasolina continuar por
muito tempo a ser vendida por
mais de US$ 3 o galão (3,7 litros)
em vários Estados, isso terá conseqüências imediatas para o poder de compra dos americanos,
para o consumo, e assim por
diante, terminando por incidir
sobre o desemprego -tema que
por muito tempo deu munição
aos opositores de Bush.
Nesse caso, a Casa Branca correrá o risco de perder o único elemento do qual podia se gabar: o
fato de ter arrancado o país da recessão e, nos últimos dois anos,
ter garantido um crescimento
econômico sustentado e a criação
de 3 milhões de empregos.
Tradução de Clara Allain
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