São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Presidente acusa "terroristas que promovem genocídio" de tumulto que deixou 965 mortos; inquérito é aberto

Xiitas enterram mortos e culpam sunitas

DA REDAÇÃO

Milhares de iraquianos convergiram ontem para Najaf, cidade sagrada xiita, onde foi enterrada parte dos quase mil mortos em um tumulto ocorrido na véspera durante um evento religioso em Bagdá. Na capital, as ruas de Sadr City, o maior bairro xiita, foram tomadas por centenas de tendas sob as quais os corpos eram velados. Cenas de gritos, choro e autoflagelamento eram constantes.
Todos os 965 mortos e mais de 800 feridos na tragédia de quarta-feira -o maior saldo de mortos no país desde a invasão dos EUA, em março de 2003- eram xiitas. Foi a pior tragédia do gênero desde que mais de 1.400 peregrinos morreram em Meca num tumulto durante o haj, em 1990.
Usando o termo "genocídio", o governo anunciou um inquérito sobre o desastre, que, embora não seja resultado direto da violência sectária, ameaça piorar as tensões entre xiitas (cerca de 60% dos iraquianos) e sunitas (20%).
Na ponte Aima, onde ocorreu o desastre, um protesto contra a falta de segurança terminou em tiroteio, um morto e sete feridos.
Segundo testemunhas, o tumulto de anteontem começou com o boato de que havia um homem-bomba entre os centenas de milhares que se dirigiam à mesquita de Kadhimiya (norte), onde ocorria uma celebração religiosa xiita.
Num país que vive sob a ameaça terrorista, o pânico tomou de imediato a multidão quando parte atravessava a ponte. O parapeito ruiu. Muitos foram pisoteados, centenas caíram no rio Tigre. Como ainda há corpos no rio, estima-se que o saldo supere mil. O governo prometeu indenizar as famílias das vítimas com o equivalente a US$ 2.055 (R$ 4.850).

Terrorismo
Segundo o presidente Jalal Talabani, que é curdo, as investigações deverão tratar o tumulto como ato terrorista. "Esse crime odioso contra os peregrinos é uma demonstração de selvageria dos terroristas que estão promovendo o genocídio dos iraquianos", disse.
O ministro do Interior, Bayan Jabor (xiita), acusou insurgentes sunitas de lançarem o boato, enquanto o ministro da Defesa, Saadoun al Dulaimi (sunita), rechaçou a ligação -os dois ministérios foram acusados por líderes religiosos de negligência na organização do evento.
Independente da fonte do boato, especialistas crêem que ele agravará as relações entre as duas facções. "Ainda que a tragédia não tenha sido provocada diretamente por rebeldes sunitas, a impressão será de que foi", afirmou Joost Hiltermann, do International Crisis Group.


Com agências internacionais

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