São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

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Controvérsias são "disputa pela história"

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

As controvérsias em torno dos livros didáticos ocorrem sobretudo no ensino de história e revelam uma "disputa pelo passado", afirma Kazumi Munakata, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, um dos principais especialistas no tema do país.
"Essa disputa ocorre em particular com os livros de história. O Brasil é mais ou menos imune a isso, mas tem acontecido, por exemplo, nos países europeus, por conta da União Européia, da alteração da geografia", diz.
Um caso recente, conta ele, ocorreu na antiga Iugoslávia, onde livros didáticos agora circulam com um carimbo sobre a imagem do ex-ditador Slobodan Milosevic com os dizeres: "Desconsiderar essa foto".
"Com isso, se resolvem duas coisas: as memórias históricas estão sendo reescritas o tempo todo, e ao mesmo tempo, o mercado editorial não tem condições de dar resposta imediata a isso."
Outro exemplo de disputa pela história, segundo Munakata, é o incidente diplomático do ano passado envolvendo Japão e China. Pequim reclama que os livros didáticos japoneses ocultam as atrocidades cometidas na China pelo Exército imperial durante a Segunda Guerra.
"No Japão, os livros sempre foram muito nacionalistas", afirma Munakata, japonês radicado no Brasil. "A Segunda Guerra é muito dolorosa para as duas partes, então é muito difícil rever isso. E a denúncia que a China faz é muito desabonadora para o Japão, porque envolve trabalho escravo, prostituição."
No Brasil, Munakata afirma que, "curiosamente, não existe essa disputa pela história, a não ser por questões pontuais". Ele cita como exemplo a bem-sucedida pressão exercida pelo movimento negro para mudanças nos livros didáticos.
O professor da PUC, no entanto, fez duras críticas à classificação de livros didáticos do MEC. "É a parte mais obscura do processo. Os coordenadores de avaliação são escolhidos como cargos de confiança, portanto não é democrático", afirma.
Segundo ele, a avaliação é um fator de vida ou morte: "O livro que o MEC desconsidera para a compra passa de um potencial de 300 mil exemplares para zero. Isso é bastante preocupante, porque faz com que as editoras produzam todos os livros mais ou menos iguais. Praticamente funciona como uma censura", afirma.


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