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Controvérsias são "disputa pela história"
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
As controvérsias em torno
dos livros didáticos ocorrem
sobretudo no ensino de história e revelam uma "disputa
pelo passado", afirma Kazumi Munakata, da Pontifícia
Universidade Católica de São
Paulo, um dos principais especialistas no tema do país.
"Essa disputa ocorre em
particular com os livros de
história. O Brasil é mais ou
menos imune a isso, mas tem
acontecido, por exemplo,
nos países europeus, por
conta da União Européia, da
alteração da geografia", diz.
Um caso recente, conta
ele, ocorreu na antiga Iugoslávia, onde livros didáticos
agora circulam com um carimbo sobre a imagem do ex-ditador Slobodan Milosevic
com os dizeres: "Desconsiderar essa foto".
"Com isso, se resolvem
duas coisas: as memórias históricas estão sendo reescritas o tempo todo, e ao mesmo tempo, o mercado editorial não tem condições de dar
resposta imediata a isso."
Outro exemplo de disputa
pela história, segundo Munakata, é o incidente diplomático do ano passado envolvendo Japão e China. Pequim reclama que os livros
didáticos japoneses ocultam
as atrocidades cometidas na
China pelo Exército imperial
durante a Segunda Guerra.
"No Japão, os livros sempre foram muito nacionalistas", afirma Munakata, japonês radicado no Brasil. "A Segunda Guerra é muito dolorosa para as duas partes, então é muito difícil rever isso.
E a denúncia que a China faz
é muito desabonadora para o
Japão, porque envolve trabalho escravo, prostituição."
No Brasil, Munakata afirma que, "curiosamente, não
existe essa disputa pela história, a não ser por questões
pontuais". Ele cita como
exemplo a bem-sucedida
pressão exercida pelo movimento negro para mudanças
nos livros didáticos.
O professor da PUC, no entanto, fez duras críticas à
classificação de livros didáticos do MEC. "É a parte mais
obscura do processo. Os
coordenadores de avaliação
são escolhidos como cargos
de confiança, portanto não é
democrático", afirma.
Segundo ele, a avaliação é
um fator de vida ou morte:
"O livro que o MEC desconsidera para a compra passa
de um potencial de 300 mil
exemplares para zero. Isso é
bastante preocupante, porque faz com que as editoras
produzam todos os livros
mais ou menos iguais. Praticamente funciona como uma
censura", afirma.
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