São Paulo, Sábado, 02 de Outubro de 1999
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50 ANOS

Na comemoração do aniversário da revolução, presidente mantém retórica apesar de reformas pró-capitalismo

China, em desfile, defende socialismo

Reuters
Soldados no desfile durante a comemoração do 50º aniversário da revolução comunista na China


e das agências internacionais

O presidente Jiang Zemin manteve a retórica pró-socialismo na comemoração, ontem, do 50º aniversário da revolução comunista na China, apesar das reformas pró-capitalismo no país.
"A prática provou totalmente que o socialismo é a única via para salvar e desenvolver a China", afirmou Jiang, em discurso transmitido ao vivo pela TV.
Sobre política externa, o presidente disse que a China "se opõe à hegemonia (referência à supremacia dos EUA), promove um mundo multipolar e instiga o estabelecimento de uma nova e igualitária ordem econômica e política internacional".
Tanques desfilaram pela praça Tiananmen (paz celestial), em Pequim, enquanto milhares de crianças e centenas de carros alegóricos suntuosos os seguiam. Seduzido pelas paradas militares de seus antepassados comunistas, Jiang revistou as tropas de uma limusine, carro favorito de seus predecessores.
O presidente chinês inspecionou uma exposição de equipamentos militares, da nova geração de bombardeios Flying Leopard (leopardo voador) aos mísseis balísticos Dong Feng-31, que poderiam atingir o Alasca (EUA).
O aumento da tensão com Taiwan deixa claro o significado de incluir artilharia antiaérea e mísseis de curto alcance, que poderiam ser usados contra a ilha, no desfile de ontem.
Pequim exige ser reconhecido como "único representante do povo chinês". Taiwan rejeita a idéia. Jiang afirmou que a reunificação política com a ilha significa "a base para o grande rejuvenescimento da nação chinesa".
Carros retratando foguetes, computadores e outros avanços tecnológicos lideraram o desfile. Crianças criadas num mundo de McDonald's e Coca-Cola e espectadores posando para fotos no evento deram um ar mais leve à demonstração de força de estilo stalinista.
Os carros, com propaganda de empresas privadas, e a presença de políticos usando terno ressaltaram as contradições da China moderna. Enquanto a legitimidade de Pequim está relacionada a Mao Tse-tung (líder da revolução que, em 1949, instaurou o comunismo no país), a mudança dramática por que passou nos últimos 20 anos revela que fazer dinheiro e realizar privatizações ofuscaram o socialismo.
Trabalhadores não se sentem mais estimulados pelo zelo revolucionário, crianças não conhecem o significado de luta de classes, e apenas uma parte pequena da população chinesa (o país tem cerca de 1,3 bilhão de habitantes) pensa seriamente em ideologia. Até que um grande desfile aconteça, e o teatro comece.
Pequim iniciou os preparativos para a comemoração em janeiro, com movimentos de tropas e um esquema de segurança que não se vêem no Ocidente. Em março, o Exército declarou que o aniversário era sua prioridade neste ano.
Em 30 de setembro, foi declarada lei marcial em Pequim, para garantir que não haveria problemas durante as festividades, especialmente por parte daqueles que ainda associam tanques e a praça Tiananmen aos protestos pró-democracia realizados por estudantes em 1989.
Uma apresentação de deficientes físicos foi vetada sob o argumento de que eles andavam muito devagar.
"É um grande dia para a China. Posso dizer que tenho orgulho de que tenhamos alcançado tanta coisa", disse Chen Qingjin, chefe de um comitê próximo à praça. Como os outros moradores da alameda onde vive, Chen foi proibido de comparecer ao desfile e teve de assistir ao evento pela TV.
"A televisão estava agradável, mas seria demais fazer parte do acontecimento", afirmou. Ao menos o espetáculo com fogos de artifício foi aberto a todos.


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