São Paulo, Sábado, 02 de Outubro de 1999
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Técnicos receberam dose fatal de radiação


GUSTAVO HENRIQUE RUFFO
da Reportagem Local

Febre, diarréia, náuseas, baixa resistência, queimaduras e sério risco de morte. É por isso que Hisashi Ouchi, 35, Masato Shinohara, 39, e Yutaka Yokokawa, 54, técnicos da usina de Tokaimura, no Japão, estão passando.
"Sabemos que pessoas que presenciam um acidente como o ocorrido no Japão têm poucas chances de sobreviver", disse o porta-voz da AIEA, David Kyd.
Segundo a professora Emico Okuno, do Instituto de Física da USP, especializada em efeitos biológicos da radiação, o nível provável de exposição a que eles foram submetidos, de 8 sivert (unidade de dose efetiva de radiação), é o dobro da quantidade considerada potencialmente fatal.
"Quem recebe uma dose de 4 sivert tem 50% de probabilidade de morrer entre 30 e 50 dias", disse à Folha Okuno, que escreveu o livro "Radiação: Efeitos, Riscos e Benefícios" (ed. Harbra).
"As pessoas que morreram devido ao acidente com césio-137 em 1987 no Brasil receberam uma dosagem de radiação entre 2 e 6 sivert. Em compensação, Devair Alves Ferreira, que recebeu mais de 6 sivert, sobreviveu."
Segundo Okuno, as chances de sobrevivência dependem da resistência das pessoas aos danos provocados pela radiação, que afeta principalmente aparelho digestivo, pele e medula óssea, que produz células do sangue.
Os danos à medula causam problemas como anemia (falta de glóbulos vermelhos), baixa resistência imunológica (falta de leucócitos, também chamados glóbulos brancos) e hemorragias (falta de plaquetas, responsáveis pela cicatrização). Além disso, há outros problemas decorrentes da falta de certas células do sangue.
"Não há um tratamento adequado para esse quadro. Antigamente, havia a crença de que um transplante de medula poderia solucionar o problema, mas todas as vítimas de Tchernobil que passaram por esse processo morreram", disse Okuno.
Caso os danos à medula não tenham sido permanentes, o que os levaria à morte, os técnicos ainda enfrentam a possibilidade de desenvolver câncer no futuro.


Com agências internacionais


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