São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

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PAZ DISTANTE
Pelo menos 28 palestinos e 3 soldados israelenses já morreram nos confrontos iniciados na quinta-feira
Israel usa helicóptero contra palestinos

France Presse
Jovens palestinos ajudam manifestante ferido pelas tropas de Israel a se retirar de confronto ocorrido em Ramallah (Cisjordânia)


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Forças de segurança israelenses abriram fogo de helicópteros contra palestinos ontem, intensificando sua ação após quatro dias de combates nos quais pelo menos 28 palestinos e três soldados israelenses morreram.
Autoridades israelenses e palestinas divulgaram comunicados separados ontem dizendo que chegaram a um acordo para encerrar os choques mais sangrentos em quatro anos que atingiram os territórios palestinos, a disputada Jerusalém e partes de Israel habitadas por árabes.
Testemunhas afirmaram que alguns dos lugares mais violentos nos últimos dias aparentavam calma na noite de ontem, mas choques prosseguiam em cidades árabes no norte de Israel.
Segundo fontes médicas e hospitais palestinos, nove palestinos, incluindo pelo menos duas crianças com menos de dez anos, e um árabe-israelense foram mortos ontem. O Exército israelense disse que um de seus soldados também morreu ontem.
Segundo levantamento da agência de notícias "Reuters" com hospitais, 28 palestinos morreram nos conflitos desde quinta-feira. A agência "France Presse" afirmou que 35 palestinos já teriam morrido nos conflitos.
Os dois lados usaram armas de fogo em batalhas que deixaram centenas de feridos do lado palestino e dezenas de feridos entre os soldados israelenses.
A confrontação, iniciada na quinta-feira após visita do líder do Likud (maior partido da oposição israelense), Ariel Sharon, à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, torna ainda mais difícil um acordo definitivo de paz entre as duas partes, cujas negociações haviam atingido um impasse ainda antes dos choques.
Um dos principais obstáculos para um acordo é justamente a soberania sobre a Esplanada das Mesquitas, sagrada para muçulmanos (por abrigar duas mesquitas importantes) e judeus, que a chamam de Monte do Templo, por ter abrigado os dois templos da era bíblica.
Sharon nega que tenha sido responsável pelo início dos confrontos. "Os distúrbios são parte da política de Arafat, cujo objetivo é pressionar Israel e os americanos (mediadores das negociações) quando ele não consegue o que deseja", disse ele em comunicado.
O chanceler interino de Israel, Shlomo Ben-Ami, disse que o premiê espanhol, José María Aznar, lhe contou que recebeu uma mensagem do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, anunciando o fim "dos disparos e dos distúrbios" na noite de ontem. A ANP disse que recebeu comunicado de Israel prometendo um cessar-fogo no mesmo horário.

Helicópteros
Testemunhas disseram que helicópteros israelenses atiraram contra manifestantes palestinos em Nablus (Cisjordânia). Um membro do Exército israelense confirmou os disparos de helicóptero, mas não confirmou que tenham sido contra os manifestantes.
Dezenas de árabes-israelenses (palestinos que permaneceram em Israel após a criação do Estado judeu, em 1948), incluindo o prefeito da cidade de Um al-Fahem, ficaram feridos nos protestos no norte do país. A violência, que forçou a polícia a fechar estradas na região, revelaram as crescentes tensões dentro da minoria árabe de Israel. Cerca de 20% da população do país, eles reclamam de discriminação.
O ministro da Saúde palestino, Riyadh al Zanoun, disse que cerca da metade dos palestinos feridos desde quinta-feira tem menos de 18 anos.
O Exército israelense disse que os combates dos últimos dias, com participação das forças policiais palestinas, foram mais intensos do que os ocorridos em setembro de 1996, quando 60 palestinos e 15 israelenses morreram em cinco dias de confrontos após Israel ter reaberto uma antiga passagem subterrânea na disputada Cidade Velha de Jerusalém.
"Tenho certeza de que as autoridades palestinas poderiam parar a violência se quisessem", disse o general israelense Yitzhak Eitan.
Ahmed Abdel Rahman, assessor de Arafat, disse em comunicado que o premiê de Israel, Ehud Barak, é o responsável pela "carnificina" e que o líder israelense está buscando uma solução militar após o fracasso das negociações em Camp David (EUA), em julho passado.
Países árabes e islâmicos culpam Israel pelos conflitos. O presidente da Síria, Bachar al Assad, chegou ontem ao Cairo para discutir a violência em Israel e nos territórios palestinos e as negociações de paz entre seu país e Israel.
A Liga Árabe pedirá ao Conselho de Segurança da ONU a criação de uma comissão de investigação para estabelecer a responsabilidade pela violência.


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