|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Garoto de 12 anos morto diante de câmeras vira mártir
PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM GAZA
É uma imagem tão dolorosa e
forte quanto as cenas das crianças
palestinas combatendo os bem
armados soldados de Israel durante a Intifada (revolta popular
contra a ocupação israelense,
ocorrida entre 1987 e 1993).
Um garoto de 12 anos no chão,
em pânico, ao lado do pai, buscando proteção enquanto balas
atingem o muro atrás dele até que
uma delas o atinge fatalmente.
Os últimos momentos da vida
de Mohammed Jamal al Durah
foram registrados no sábado pelas câmeras de TV em Gaza. Nenhum analista ou porta-voz criativo poderá dizer que ele portava
uma arma ou representava perigo
aos soldados israelenses.
Outra criança árabe, Samir Tabangi, 10, morreu ontem após ser
atingida por tiro no peito nas batalhas entre israelenses e palestinos em Nablus (Cisjordânia).
Mas é a imagem da revoltante
morte de Mohammed -exibida
repetidas vezes pela TV palestina- que ficará como exemplo
frustrante e patético do mais recente desperdício de vidas numa
eclosão de violência latente há
muito tempo, detonada pela visita
à Esplanada das Mesquitas (Jerusalém Oriental) do irresponsável
líder do Likud (partido da oposição israelense), Ariel Sharon.
De acordo com seus parentes,
Mohammed e seu pai, Jamal, 36,
estavam voltando de um popular
mercado de carros usados de Gaza tentando chegar a sua casa, no
campo de refugiados de Buriej.
Chegaram ao cruzamento de
Netzarim, perto de posto militar
israelense na entrada de uma estrada que leva a uma colônia judaica. Sem conseguir passar por
causa dos intensos combates no
local, Al Durah, pintor que trabalha em Israel, decidiu tentar contornar os combates a pé.
Minutos depois, pai e filho estavam no meio de uma troca de tiros, buscando refúgio atrás de
uma parede de concreto.
Al Durah, que ficou gravemente
ferido no ombro, no braço e nas
pernas, depois contou que ele e o
filho ficaram presos por 45 minutos. Durante esse período, o garoto foi atingido e morreu. Seu pai
diz que as ambulâncias não conseguiram socorrê-los por meia
hora por causa do tiroteio pesado.
O "Independent" visitou o local
ontem. Policiais palestinos e soldados israelenses seguiam trocando tiros de rifles e metralhadoras numa batalha incessante.
O impacto da artilharia pesada
era visível no principal hospital de
Gaza, Al Shifa. Funcionários disseram que atenderam mais de 30
feridos por balas, um dos quais
morreu. Outros três estavam em
estado crítico.
Há um posto militar israelense
bem diante do lugar onde Mohammed foi morto. O Exército israelense diz que ele foi morto no
"fogo cruzado" e que não sabe
quem disparou as balas fatais. Os
palestinos dizem que ele foi morto pelos soldados israelenses.
O que está claro é que o garoto
tornou-se um mártir para os palestinos. Ele será lembrado de forma diferente dos outros mortos
no conflito atual. Isso foi confirmado pela multidão que acompanhou seu funeral pelas ruas de
Gaza na noite de sábado.
"Seu sangue foi um sacrifício
pela Palestina", disse sua mãe,
Amel, 34. Falando do leito do hospital, o pai foi mais explícito. Mohammed morreu pela "mesquita
de Al Aqsa", o local sagrado em
Jerusalém visitado por Sharon.
As últimas imagens dos conflitos não são nada boas para Israel.
O país perdeu a guerra de propaganda durante a Intifada porque a
opinião pública não conseguia
engolir as cenas de crianças árabes atirando pedras sendo reprimidas por soldados muito bem
armados do Exército invasor.
Agora é acusado de detonar
uma luta por lugares sagrados na
qual crianças pequenas estão novamente sendo mortas. Mesmo
os caros consultores de marketing
do premiê Ehud Barak terão dificuldades para melhorar o quadro.
Texto Anterior: Paz distante: Israel usa helicóptero contra palestinos Próximo Texto: Mutimídia - El País - de Madri: Sharon dinamitou processo de paz Índice
|