São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REPRESSÃO
Membros da seita banida Fa Lun Gong são esmurrados e chutados na praça após ato no Dia Nacional da China
Pequim prende centenas após protesto

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Centenas de seguidores da seita banida Fa Lun Gong foram presos ontem após realizar protesto pacífico na praça Tiananmen (Paz Celestial), centro de Pequim, atrapalhando as comemorações do Dia Nacional da China.
Segundo testemunhas, a polícia esmurrou, chutou e arrastou pelos cabelos os manifestantes, no momento em que a praça estava cheia de turistas estrangeiros e chineses do interior.
Depois de mais de uma hora de protestos, a polícia esvaziou completamente a praça. Só depois de cerca de 30 minutos foi permitida a entrada de turistas, mesmo assim em número limitado. Pequenos focos de protesto continuaram a ocorrer ao longo do dia, apesar da repressão policial.

Manifestantes obstinados
A agência oficial de notícias chinesa "Xinhua" informou que a polícia prendeu "seguidores obstinados da seita Fa Lun Gong" por perturbar a ordem pública na praça Tiananmen.
Os manifestantes "pretendiam enfraquecer a atmosfera harmoniosa das celebrações do Dia Nacional", afirmou a "Xinhua".
Não há informações sobre protestos ocorridos fora de Pequim. Mas, em Hong Kong, cerca de 200 membros da Fa Lun Gong protestaram contra a "brutal supressão" da seita, intensificada a partir do banimento, em julho de 1999.
A segurança em Pequim havia sido reforçada para a comemoração do Dia Nacional -uma das muitas "datas sensíveis" da China, quando aqueles que lutam contra o regime comunista tentam realizar protestos públicos, frequentemente na praça Tiananmen, o coração político da nação.
Mas membros da Fa Lun Gong têm desafiado quase diariamente a repressão policial, por meio de protestos similares, desde que o governo baniu o grupo, rotulando-o de "culto diabólico".
No próximo mês será o primeiro aniversário de uma lei draconiana aprovada pelo Parlamento contra a disseminação dos cultos, que acabou por fornecer amparo legal para condenações duras a líderes da Fa Lun Gong.
Pequim diz ter prendido desde então 150 líderes da seita, acusando-a de ser responsável pela morte de 1.500 pessoas e a perturbação mental de outras 600.
A Fa Lun Gong, por sua vez, afirma que milhares de membros da seita estão presos em campos de trabalho forçado sem terem ido a julgamento.
Um grupo de direitos humanos com sede em Hong Kong também diz que pelo menos 52 membros da seita que estavam sob custódia do governo desde o banimento já morreram.

Precedente
Os protestos da Fa Lun Gong abriram um precedente alarmante no fechado regime chinês com sua campanha sem tréguas em favor da desobediência civil, que teve início depois do banimento.
A Fa Lun Gong combina meditação e exercício com uma doutrina que tem raízes nos ensinamentos do budismo e do taoísmo.
A seita se tornou um grande incômodo para Pequim desde que passou a atrair a simpatia de outros grupos religiosos e a adicionar combustível à crítica feita por países ocidentais sobre a situação dos direitos humanos na China, especialmente em relação à liberdade de culto.
Os órgãos de imprensa do governo chinês também têm se mostrado alarmados com o comportamento de ativistas que lutam pela democracia e de grupos que defendem o separatismo em regiões rebeldes, os quais estariam adotando a fórmula de protestos pacíficos da seita.
No mês passado, o poeta exilado Huang Beling conclamou os intelectuais chineses a seguirem o exemplo da Fa Lun Gong e lutarem contra a opressão do governo por meio da desobediência civil.
No último dia 28, o governo chinês acusou a Fa Lun Gong de estar "compactuando com as forças antichinesas do Ocidente", incluindo tibetanos, taiwaneses e dissidentes exilados, que desejam enfraquecer o governo.


Texto Anterior: Mutimídia - El País - de Madri: Sharon dinamitou processo de paz
Próximo Texto: China ataca canonização de 120 pelo papa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.