São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

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ELEIÇÃO NOS BÁLCÃS
Líderes pedem adesão à greve geral contra o presidente Milosevic convocada para hoje
Oposição iugoslava teme divisão antes do segundo turno

STEVE CRAWSHAW
DO "THE INDEPENDENT", EM BELGRADO

O presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, nunca sofreu tanta pressão. Mesmo assim, não foram poucas as vezes em que ele passou por situações difíceis e sobreviveu. Muitas pessoas esperam que a "velha raposa política" ainda tenha uma última carta na manga que lhe permitirá seguir no poder.
É claro que Milosevic sofreu uma devastadora derrota eleitoral nas eleições de 25 de setembro, vencidas pelo candidato da oposição Vojislav Kostunica. O mundo inteiro -incluindo a Rússia, tradicional aliada de Milosevic- está pressionando o presidente para que ele deixe o poder.
O verdadeiro pesadelo -do ponto de vista da oposição- é a possibilidade de o presidente seguir no poder até o próximo fim-de-semana, forçando o segundo turno. Alguns líderes opositores poderiam perder a cabeça e, no último momento, convocar a população a ir às urnas, enquanto outros manteriam o boicote.
Isso possibilitaria a Milosevic sair como vencedor de uma eleição "quase democrática". Em outras palavras, não seria necessário roubar nenhum voto, o que deixaria a oposição mais dividida do que nunca.
O presidente russo, Vladimir Putin, e o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schroeder, conversaram por telefone no sábado e concordaram que a Iugoslávia está precisando de uma mudança democrática.
Putin teria dito a Schroeder, segundo o governo alemão, que "a vitória de Kostunica expressa vigorosamente a vontade do povo sérvio de que ocorra uma mudança democrática na Iugoslávia".
A comissão eleitoral da Iugoslávia anunciou no sábado que Kostunica venceu o primeiro turno com 48,96% dos votos, contra 38,62% de Milosevic. A oposição contesta os números. Afirma que Milosevic fraudou os resultados -que, segundo a ODS (Oposição Democrática Sérvia), deveriam ter dado a vitória para Kostunica já no primeiro turno- e que não participará de um segundo turno, marcado para o domingo.
Milhares de pessoas deverão protestar pacificamente em todo o país contra Milosevic a partir de hoje. A ODS convocou a população iugoslava a participar de um amplo movimento de desobediência civil para que o presidente deixe o poder.
A paralisação das instituições sérvias deve ser "consistente" e "extremamente diversificada", disse Vuk Obradovic, um dos líderes da ODS, a milhares de simpatizantes reunidos no centro de Belgrado. A oposição pede que, a partir de hoje, a população se mobilize para fazer greves nas fábricas, paralisações de estradas, paradas estudantis pelas ruas e protestos abertos de jornalistas nos diferentes meios de comunicação.
O sinal mais encorajador para a oposição é o fato de o presidente estar vendo seus militantes desertarem diariamente. Mesmo assim, muitos acreditam que a vitória só será possível se houver derramamento de sangue.
O clima político em Belgrado muda todos os dias. No momento, o cenário segundo o qual Milosevic se mantém no poder parece menos provável que a versão "vamos pô-lo no avião" que a oposição quer.


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