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ELEIÇÃO NOS BÁLCÃS
Líderes pedem adesão à greve geral contra o presidente Milosevic convocada para hoje
Oposição iugoslava teme divisão antes do segundo turno
STEVE CRAWSHAW
DO "THE INDEPENDENT", EM BELGRADO
O presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, nunca sofreu tanta
pressão. Mesmo assim, não foram
poucas as vezes em que ele passou
por situações difíceis e sobreviveu. Muitas pessoas esperam que
a "velha raposa política" ainda tenha uma última carta na manga
que lhe permitirá seguir no poder.
É claro que Milosevic sofreu
uma devastadora derrota eleitoral
nas eleições de 25 de setembro,
vencidas pelo candidato da oposição Vojislav Kostunica. O mundo
inteiro -incluindo a Rússia, tradicional aliada de Milosevic- está pressionando o presidente para
que ele deixe o poder.
O verdadeiro pesadelo -do
ponto de vista da oposição- é a
possibilidade de o presidente seguir no poder até o próximo fim-de-semana, forçando o segundo
turno. Alguns líderes opositores
poderiam perder a cabeça e, no
último momento, convocar a população a ir às urnas, enquanto
outros manteriam o boicote.
Isso possibilitaria a Milosevic
sair como vencedor de uma eleição "quase democrática". Em outras palavras, não seria necessário
roubar nenhum voto, o que deixaria a oposição mais dividida do
que nunca.
O presidente russo, Vladimir
Putin, e o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schroeder, conversaram por telefone no sábado e
concordaram que a Iugoslávia está precisando de uma mudança
democrática.
Putin teria dito a Schroeder, segundo o governo alemão, que "a
vitória de Kostunica expressa vigorosamente a vontade do povo
sérvio de que ocorra uma mudança democrática na Iugoslávia".
A comissão eleitoral da Iugoslávia anunciou no sábado que Kostunica venceu o primeiro turno
com 48,96% dos votos, contra
38,62% de Milosevic. A oposição
contesta os números. Afirma que
Milosevic fraudou os resultados
-que, segundo a ODS (Oposição
Democrática Sérvia), deveriam
ter dado a vitória para Kostunica
já no primeiro turno- e que não
participará de um segundo turno,
marcado para o domingo.
Milhares de pessoas deverão
protestar pacificamente em todo
o país contra Milosevic a partir de
hoje. A ODS convocou a população iugoslava a participar de um
amplo movimento de desobediência civil para que o presidente
deixe o poder.
A paralisação das instituições
sérvias deve ser "consistente" e
"extremamente diversificada",
disse Vuk Obradovic, um dos líderes da ODS, a milhares de simpatizantes reunidos no centro de
Belgrado. A oposição pede que, a
partir de hoje, a população se mobilize para fazer greves nas fábricas, paralisações de estradas, paradas estudantis pelas ruas e protestos abertos de jornalistas nos
diferentes meios de comunicação.
O sinal mais encorajador para a
oposição é o fato de o presidente
estar vendo seus militantes desertarem diariamente. Mesmo assim, muitos acreditam que a vitória só será possível se houver derramamento de sangue.
O clima político em Belgrado
muda todos os dias. No momento, o cenário segundo o qual Milosevic se mantém no poder parece
menos provável que a versão "vamos pô-lo no avião" que a oposição quer.
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