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Emaranhado étnico forma Aliança do Norte
GUILLERMO ALTARES
DO "EL PAÍS"
O Taleban, milícia extremista islâmica que controla o Afeganistão, poderia imaginar que a morte
do líder guerrilheiro Ahmad Massoud desintegraria a Aliança do
Norte, principal força de oposição
ao regime.
Considerado por muitos um gênio da guerrilha, Massoud, que liderava a Aliança do Norte, foi
morto em atentado realizado
muito provavelmente pelo Taleban, três dias antes dos ataques
terroristas contra os EUA, cujo
principal suspeito é Osama bin
Laden, protegido pelo regime.
Porém o Taleban se equivocou.
A esperança de uma intervenção
militar de forças externas, como
os Estados Unidos, tornou a
Aliança do Norte, composta por
um emaranhado de grupos étnicos, mais unida do que nunca.
A Aliança do Norte é comandada por antigos "senhores da guerra", que lutaram primeiro contra
a União Soviética e em seguida
contra o governo pró-soviético
instalado o país, deposto em 1992.
Após a chegada ao poder, começaram lutas internas entre seus diferentes generais. Quando o Taleban conquistou o poder em 1996,
os "senhores da guerra" se uniram novamente.
Dizem que fazem parte da
Aliança do Norte entre 15 mil e 40
mil milicianos. Nenhum integrante do grupo dá precisão sobre
quais as armas de que dispõem e
menos ainda sobre quais estariam
recebendo. Observadores na zona
sob controle da Aliança do Norte
falam em tanques ultrapassados.
Mas a principal força está na motivação e na experiência dos guerrilheiros, alguns com mais de 23
anos de combate.
"Com ajuda externa, poderemos controlar o país", afirma
Ashmat Froz, um dos representantes da Aliança do Norte na
França. "Estamos dispostos a lutar para deter Bin Laden e instaurar uma democracia no país. Somos o governo legítimo do Afeganistão, representado por Burhanuddin Rabbani".
Rabbani, um poeta carismático
apelidado de "professor", é desde
1993 o presidente do Afeganistão
reconhecido pela comunidade internacional -menos pelo Paquistão.
Embora controle apenas uma
porção minoritária do país, na
qual não se inclui nenhuma cidade importante, a Aliança do Norte
ocupa a representação afegã em
embaixadas e na ONU.
Divisões
"A Aliança do Norte é a única
capaz de acabar com o Taleban a
partir de uma ação interna, substituindo esse regime , que ameaça
o mundo, por um governo muçulmano civilizado", afirma o escritor francês Michel Barry, autor
de vários livros sobre a guerrilha.
O Ocidente parece ter compreendido essa mensagem. A
Aliança recebia até agora apenas
um discreto apoio militar do Irã,
da Rússia, da Índia e de algumas
das ex-repúblicas soviéticas na
Ásia Central.
Agora são cortejados pelos EUA
como a melhor solução para o
problema afegão, ao lado do ex-rei Zahir Shah, 86, que poderia
voltar de Roma, onde está exilado, para o Afeganistão, onde lideraria uma transição.
A idéia seria convocar a Loya
Jirga, a grande assembléia tribal
do Afeganistão (leia texto ao lado). Os comandantes da Aliança
aceitam essa hipótese e já se reuniram com o ex-rei.
Porém não são todos os especialistas que enxergam essa solução
tão claramente. Existem problemas étnicos, divisões internas e os
anos em que a Aliança do Norte
controlou o país foram um cataclisma, responsável pelo caos que,
com o apoio do Paquistão, resultou no governo do Taleban.
Kenneth Weisbrode, especialista norte-americano em Ásia Central, afirma que os integrantes da
Aliança refletem bem a divisão étnica do país. Os pashtus, mesma
etnia que dá suporte ao Taleban,
compõem 38% da Aliança. Os
tadjiques são 25%, os hazaras,
19%, os uzbeques, 6%, e o restante
é composto por pessoas de outros
países. Esse equilíbrio pode se
pulverizar a qualquer momento.
Atualmente, a Aliança do Norte
tem um governo político e um comando militar. Além do presidente Rabbani (tadjique), suas figuras mais visíveis são o ministro
das Relações Exteriores, Abdulah
Abdulah (tadjique), com bons
contatos no exterior, e o primeiro-ministro Abdul Rasul Sayyaf
(pashtu), com alguns pontos de
vista similares ao Taleban.
O comando militar, após a morte de Massoud, está dividido entre
os generais Muhammad Fahim
(tadjique), Abdul Rashid Dostum
(uzbeque) e Ismail Khan (hazara).
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