São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2001

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NO EXÍLIO

Zahir propõe que transição afegã se dê no âmbito de um grande conselho

Ex-rei defende tradição tribal

DA REDAÇÃO

Em uma vila no norte de Roma, Mohamad Zahir Shah, 86, o ex-rei do Afeganistão, leva uma reclusa vida em exílio. Em 1973, foi obrigado a deixar seu país ao ser derrubado por um golpe de Estado, orquestrado por um primo seu.
Mohamad Zahir Shah nasceu em Cabul em 1914. Subiu ao trono aos 19 anos, quando seu pai foi assassinado. Ele foi o último governante da dinastia Durrani, que durou 200 anos. Essa dinastia estabeleceu o controle da etnia pashtu sobre o Afeganistão e expulsou os invasores britânicos do país.
Depois de 40 anos no poder, foi derrubado por um golpe de Estado em 1973, arquitetado por um primo que desaprovava seus esforços para abrir o Afeganistão ao Ocidente. O rei pretendia transformar o país em uma monarquia constitucional, com um Parlamento eleito.
Há tempos, Zahir vem promovendo uma campanha para que uma tradicional assembléia tribal, a Loya Jirga (grande conselho, em pashtu), seja convocada para eleger um novo líder e escolher um governo de transição para o país.
A Loya Jirga é um procedimento usado há séculos no Afeganistão. Intelectuais e representantes de cada grupo étnico, tribal e político se reúnem para resolver conflitos ou tomar decisões importantes.
A mais recente convocação foi há 38 anos, quando foi ratificada uma nova Constituição, mas foi em 1747 a última vez que a assembléia foi convocada para escolher um novo líder.

Herdeiros
Desde os ataques de 11 de setembro, o isolamento em que vivia Zahir foi interrompido por uma sucessão de visitas. Enviados de EUA, Itália, União Européia e ONU procuraram o rei exilado para discutir o futuro de seu país.
Apesar de nunca ter renunciado ao trono, acredita-se, devido a sua idade avançada, que as ambições de Zahir estejam voltadas aos seus descendentes.
Seu filho mais novo, Mirwais Zahir, 43, um poeta que vive em Alexandria, Virgínia (EUA), e um neto, Mustafá, são vistos como as escolhas mais prováveis para uma eventual volta da família ao poder. O rei exilado, entretanto, vem afirmando que não deseja a volta da monarquia ao Afeganistão.
Quase três décadas depois de ter deixado o país, muitos afegãos ainda o reverenciam como tendo sido um líder que trouxe estabilidade e manteve paz durante seu governo. Seis anos depois de sua deposição, chegariam as tropas da ex-URSS.
Apesar disso, alguns diplomatas ocidentais acreditam que o rei esteja debilitado demais para voltar à política, especialmente em um momento tão volátil.


Com agências internacionais



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